Riana
Jessé Trigo e a Mulher Samaritana
O
Evangelho de João narra o encontro que Jesus teve com a mulher samaritana. O
encontro de duas nacionalidades ao mesmo tempo irmãs e diferentes, Samaria e
Judá. E a narrativa prossegue dizendo que a mulher ao ter aspectos da sua vida
privada revelados por Jesus impressionada deixou o seu cântaro e correu á
cidade e comunicou aos homens: Vinde, vede um homem que me disse todas as
coisas que eu fiz. Será que este é o Cristo? Saíram da cidade e começaram a
chegar-se a ele.
O
que esse caso da mulher samaritana poderia ter a ver com Riana Jessé Trigo?
Ora,
Adamir Gerson e Lúcio Junior Espírito Santo tem se interessado sobremaneira e
abordado com certa profundidade o mito do sebastianismo que gerou a espera no
Messias não só entre portugueses como também entre brasileiros. Forte em
Portugal, mas também forte no Brasil, a tal ponto que podemos dizer inspirou a
revolta de Canudos ocorrida no sertão baiano no final do século XIX.
É
impressionante como a sucessão de personagens místicos no tempo e no espaço
convergiu para o mesmo objetivo: Portugal seria a Israel do passado, de modo
que o domínio glorioso de Deus se expandiria para o mundo a partir da nação
lusitana.
O
nascimento da crença teria se dado no ano de 1139 na batalha de Ourique, onde
conta a lenda Jesus apareceu ao rei Afonso Henriques e teria lhe pedido que
construísse um império para si. E a verdade é que trezentos anos depois surgiu
aquilo que podemos dizer foi profecia de fato sobre um futuro messiânico que os
céus então teriam reservado à Portugal. E essa profecia se acha assentada em
frade franciscano Francisco de Paula. Nascido em 1416 em Paolo, Itália, e
falecido em 1507 em Pleiss-les-Tours, França, em cartas que enviou ao amigo
português filósofo Simão Ximenes, entre os anos de 1445 e 1462, assim se
expressou Francisco de Paula: "Vossa santa
geração será maravilhosa sobre a Terra, entre a qual haverá um de vossos
descendentes que será como o Sol entre as estrelas... Reformará a Igreja de
Deus. Fará o domínio do mundo temporal e espiritual e regerá a igreja de
Deus... Purificará a humanidade, convertendo todos à lei de Deus; será fundador
do Reino Universal de Deus na Terra ou da Nova Religião, em que todos adorarão
o verdadeiro Deus... Será fundador de uma religião como nunca houve"
Depois do franciscano Francisco de Paula vamos então
encontrar o sapateiro de Trancoso Bandarra de posse de vaticínio similar. Bandarra,
judeu cristianizado e grande poeta popular, fez constar em trovas que o Quinto
Império, aquele que se acha no vaticínio do profeta Daniel – E nos dias
daqueles reis o Deus do céu estabelecerá um reino que jamais será arruinado. E
o próprio reino não passará a qualquer outro povo. Esmiuçará e porá termo a
todos estes reinos, e ele mesmo ficará estabelecido por tempos indefinidos
(...) (1) – iria nascer das
entranhas de Portugal. Segundo Bandarra o Calvário o confiou a Portugal.
Dado o trágico desaparecimento do jovem rei de Portugal Dom
Sebastião, morto em batalha no Marrocos no ano de 1578, então com 25 anos, e como
por esses dias, vindo de Espanha, circulava em Portugal o mito do Encoberto, o
Rei-Messias habitando a lendária Ilhas
Afortunadas, aguardando o momento de sua volta, ora, para consolar a dor de
Portugal pela perda de seu jovem rei logo se difundiu entre o povo o mito do
sebastianismo. Dom Sebastião não morrera, mas fora para uma ilha longínqua e
que voltaria para resgatar a glória de Portugal.
Depois do Bandarra os vaticínios sobre um futuro messiânico
reservados a Portugal recaem sobre Padre Vieira. Padre Vieira foi o homem que
mais difundiu o mito do sebastianismo e foi claro de que o Quinto Império
nasceria para o mundo a partir de Portugal. O Imperador Universal, latente na
profecia de Daniel, seria um rei da coroa portuguesa.
Sentindo o chamado de Deus para a importância de Portugal nos
mistérios proféticos do Reino, de como das entranhas da nação lusitana iria
nascer um rei que seria diferente de todos os reis, que governaria unicamente
para o juízo e para a felicidade de seus súditos, a verdade é que Padre Vieira,
se sentindo como um novo Samuel, se dirigiu a vários monarcas portugueses para
coroá-los o Imperador do Quinto Império. Tendo visto em Dom João IV o monarca
em quem caíra a graça de Deus se dirigiu a ele para ungi-lo esse Imperador
Universal. Sentindo que não fora o escolhido se dirigiu então a Dom Afonso, no
seu orgulho humano acreditando que se não fosse Dom Afonso com certeza iria ser
alguém da coroa portuguesa (2).
Depois de Padre Vieira Portugal cai nas graças de Deus agora
com o poeta Fernando Pessoa. Com a mesma paixão de Padre Vieira, Fernando
Pessoa elege também a nação de Portugal como a ela tendo sido confiado a
realeza do Quinto Império.
Mas Fernando Pessoa introduz um elemento revolucionário em
toda a questão. Até então o Quinto Império era a sucessão lógica do profeta
Daniel. O Quinto Império tinha todas as feições político-militares, assim como se
entendia estava em Daniel. Após impérios político-militares, babilônio,
medo-persa, grego e romano, então na sequência iria aparecer o Quinto Império
A verdade é que Fernando Pessoa detectou uma contradição no
sistema. Vivia-se a época do império britânico e para Fernando Pessoa o império
britânico não podia jamais ser este Quinto Império. Obra então uma revolução.
Desloca-se do profeta Daniel para o profeta Isaías, e constrói a gênese do
Quinto Império em bases estritamente espirituais. Parte, não do domínio político-militar,
mas do domínio cultural. E elege a Grécia como sendo a origem e gestação
primeira do Quinto Império. Destarte, o Quinto Império é como está no profeta
Isaías, um reino que domina, não pela força das armas, mas pela força das
idéias. Pela beleza, pelo amor, pela ética. Não é um reino que submete corpos,
mas um reino que liberta espíritos. De modo que a essência do Quinto Império é
a espiritualidade libertadora que agracia todos os povos, todas as raças, todas
as línguas. No seu domínio não há mais dor, nem pranto, nem gemido, mas apenas
rostos felizes. Tendo elegido a Grécia como o berço da cultura humano-universal,
o reino da espiritualidade passa então para Roma, desta para a Cristandade, e
por fim para a Europa Pós-Renascentista. E em Portugal estaria o resultado de
todo o seu caldo cultural. A síntese das sínteses.
Bem, agora vamos entrar na questão da Riana Jessé Trigo e a
mulher samaritana. Porque mesmo Riana Jessé Trigo? Porque ela pode sim, como a
mulher samaritana, proclamar a todo o povo de Portugal que não foi em vão a
crença portuguesa no mito do sebastianismo; a crença portuguesa de que numa
ilha distante estava o jovem rei aguardando o momento de sua volta para então restaurar,
não apenas as glórias de Portugal, mas muito mais as glórias do Paraíso de
Deus.
Porque todas as indicações são de que naquele ano de 1978, quando
Adamir Gerson teve o seu encontro teofânico, Deus tenha colocado naquele jovem,
então com 25 anos, as esperanças messiânicas reservadas a Portugal. Certamente
que Deus tem, a partir daquele ano, passado a construir nele os fundamentos
teóricos do Quinto Império. Embora não seja português, todavia a sua nação é da
descendência de Portugal. Mesmo porque seu sobrenome – Soares de Melo – é
tipicamente português.
Lúcio Junior Espírito Santo, partindo de uma leitura de
Fernando Pessoa, que acreditou piamente que o Rei-Menino se achava encoberto,
em algum lugar e que iria se levantar, e regressar a Portugal, e, a partir de
Portugal, restaurar na terra as glórias da idade da inocência;e segundo
Fernando Pessoa quando se levantasse seria reconhecido por laços de proximidade
com o rei morto em 1578, ora, Lúcio Junior Espírito Santo desde o momento em
que ouviu tal relato não julgou-o uma bobagem, mas passou a se interessar pelos
seus fundamentos.
Como tudo é uma revelação de Deus, o fato de lisboenses terem
entrado nesta comunidade do socialismo celestial pode ser já plano de Deus.
Para que por intermédio delas o Quinto Império chegue a Portugal. E de Portugal
ganhe toda a Europa. Mesmo porque o novo que há de se estabelecer na Europa
seja mesmo o socialismo celestial. Não há nada de novo palpitando na Europa senão
corpos ruminando desgastadas bandeiras e procurando solução para os seus
problemas em propostas que se tornaram elas mesmas criadoras de problemas.
E seja criado em Portugal o PAREPA, PArtido da REconstrução
do PAraíso, com a missão de levar a todo o povo português e europeu os ideais
do Quinto Império que não são outros senão os ideais Daquele que veio para que
todos tivessem vida e vida em abundância.
Como a mulher samaritana, Riana Jessé Trigo pode dizer para
todo o povo de Portugal: vem e vê se não é Dom Sebastião encarnado em um
brasileiro da descendência de Portugal prestes a realizar todas as profecias messiânicas
concernentes a Portugal?
------------------
(1) Daniel 2.44
(2) Como Samuel, que
tendo sido Chamado por Deus para que fosse à casa de Jessé e ungisse um de seus
filhos rei sobre Israel, pois Deus decidira remover um rei segundo o coração
dos homens e no lugar colocar um rei segundo o coração de Deus, ora, como
Samuel que no orgulho humano fez passar diante de si os filhos de Jessé mais
bem aparentados, e foi surpreendido por Deus que lhe disse que não escolheu
nenhum deles, mas escolheu o mais moço, ausente, cuidando das ovelhas, a verdade
é que podemos dizer Padre Vieira foi repetir Samuel. Porque acreditou piamente
que a encarnação de Dom Sebastião, revestido agora com as vestes do Alto, iria
dar-se em um monarca de Portugal. Acreditou que o Imperador Universal que iria
chegar montado em um cavalo branco era um rei da coroa portuguesa. Mas não era
nenhum deles. A escolha de Deus recaíra sobre um filho simples do povo. Não
alguém vestido de roupas régias, mas vestido do uniforme de trabalhador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário