sábado, 29 de dezembro de 2012

Respondendo a Karl Brasil



Adamir Gerson postou na comunidade do Face, PES- Páginas da Esquerda Socialista, o trabalho PT, Partido dos Trabalhadores e o PAREPA, PArtido da REconstrução do Paraíso, e colheu do internauta Karl Brasil a reação que segue abaixo.
28 de dezembro de 2012 17:42
Chega disso! Na sociedade livre, não há pessoas presas às religiões. A condição humana terá se emancipado tanto que as religiões serão passado. Nunca vi alguém que tenha se emancipado por meio de alguma religião; pelo contrário, sido vítima de mil e uma alienações.

****************************************************************
Como é missão de Adamir Gerson conduzir esta humanidade que se acha aprisionado naquilo que Platão chamou de “caverna”, por conta de sistemas filosóficos e teológicos, sim, como é sua missão conduzir para fora da caverna a todos que estão nela, políticos e religiosos, filósofos e teólogos, grandes e pequenos, ricos e pobres, brancos e negros, ocidentais e orientais, homens e mulheres, Adamir Gerson lançará mão da postagem de Karl Brasil para ajudar esta humanidade a dar mais um salto de qualidade em sua existência, um grande salto, e saindo definitivamente para fora da caverna, para o lugar maravilhoso da luz e das coisas verdadeiras e reais. Lugar a que primeiro Adamir Gerson foi levado, por Jesus, desde aquele ano de 78, com a missão de voltar para o lugar de seus irmãos e os ajudar sair fora, a ocupar as moradas eternas que ele um disse as iria construir para os seus, todos os que estão na caverna, tanto os que estão nos seus profundos, onde não entra nenhum lustro de luz, como aqueles que estão na sua boca de saída vendo projetado nas paredes sombras das coisas reais e verdadeiras que se movem fora.

Porque Karl Brasil teve uma reação assim com a postagem de Adamir Gerson? Donde ele chegou à conclusão de que numa sociedade livre não há pessoas presas à religião? Donde ele tirou que a emancipação implica no fim da religião e que numa sociedade plenamente emancipada religião se tornou passado? Teria sido da frase do John Lennon que indispõe os espíritos contra religião, em especial os mais jovens?

Com certeza que do positivismo de August Comte e do Materialismo Filosófico. Tanto em Comte como no Materialismo Filosófico a evolução cuidará em pôr fim à religião, com ela sendo passado e vivendo somente nas exposições dos museus. Os museus guardam as suas relíquias, a atestar a autoridade de filósofos como Kant, David Strauss, Max Stirner, Ernest Renan, Ludwig Feuerbach, Haeckel, sem falar nos monstros sagrados do Marxismo.

Bem, quem mesmo, quem mais contribuiu para que se formasse uma consciência negativa de que religião é formato de pensamento que o devir histórico está deixando para trás na tábua da evolução, apenas aguardando a chegada do coveiro que há de levá-la para a sepultura? Sem dúvida August Comte com a sua Lei dos Três Estados. Quem penetra na corrente sanguínea da Lei dos Três Estados de Augusto Comte cria a convicção de que religião na medida em que o homem mais avança e mais se desenvolve intelectualmente, mais e mais ele tende a se afastar da religião. Numa humanidade plenamente emancipada não há espaço para a religião e para os seus conteúdos.

Bem, o que é mesmo a Lei dos Três Estados de Comte? Tratou-se de uma apreensão da História e do seu devir, e que Comte sintetizou-a na sua Lei dos Três Estados.

A História se desenvolve em três sucessivos momentos, Teológico, Metafísico e Positivista ou Científico. O seu devir é marcado indelevelmente pela idéia de progresso, com o terceiro momento, o positivista ou científico, sendo a quintessência do ser. Lugar onde a Verdade fez morada e nada a desaloja.

Ora, na filosofia celestial também aparece esta Lei dos Três Estados. Mas ligeiramente se diferenciando da de Comte quanto à forma, e radicalmente quanto ao conteúdo.

Quanto à forma porque o segundo momento, que ele nomeou como metafísico, não representa negação, mas variação do primeiro momento. Metafísica não é negação do teológico, mas variação ou nome diferente para tratar do mesmo assunto.

Bem, como é mesmo a Lei dos Três Estados na filosofia celestial? Teológico, Materialista e Celestial ou Científico.

Ao contrário de Comte que estabelece tábua de evolução entre os diferentes momentos, conferindo a uns, mais qualidade que a outros, não é assim na filosofia celestial. O segundo momento, que Comte chama de Metafísico e que na filosofia celestial aparece como Materialista, em hipótese alguma representou ganho de qualidade em relação ao momento anterior, o teológico, como assim se deduz do pensamento de Comte e certamente endossado pelo Materialismo Dialético. É absurdo porque a evolução só pode ocorrer no interior do conceito, realizando a si mesmo. Teço juízo de beleza sobre uma moça particular acareando a sua beleza com outra moça particular. Mas não tem sentido acareá-la com um poste e chegar a conclusão que é mais bela. O poste terá de ser julgado e avaliado com postes precedentes. Os postes de cimento representam superação dos antigos postes de madeira.

Ora, o primeiro momento, Teológico, pode-se dizer que se encerrou ao final da Idade Média, com o movimento da História entrando então no Materialismo, que se deu com e a partir da Renascença. Estamos falando do movimento real da História.

Na visão de August Comte, naturalmente endossada pelo Materialismo Dialético, o que se manifestou com e a partir da Renascença representou superação do estágio anterior, o Teológico. O antropologismo que então se inaugurou no movimento real da História, colocando o Homem no Centro, representou superação da antiga idéia teológica, em que Deus era o Centro. Em uma palavra, na visão de Comte o Antropocentrismo trouxe superação para o Teocentrismo. Esta é uma visão corrente.

Mas isto não é verdadeiro. Não corresponde aos fatos. O materialismo que então se manifestou, com o seu antropocentrismo, o mesmo não superou o teológico com o seu teocentrismo. Que houve virada antropológica, virada de estação, isto é fora de dúvida. Mas esta virada antropológica não significou superação, como é crença generalizada e está arraigado no mundo acadêmico-intelectual, mas, sim, negação! E negação dialética é qualquer coisa bem diferente do que seja superação dialética.

Negação dialética quer dizer simplesmente que o fenômeno que surgiu é a outra face do fenômeno que está negando. O Real é constituído do espiritual e do material, e o materialismo não veio negar, mas completar o teológico. Marx não veio negar, mas completar Paulo. Em uma palavra, como o espermatozóide é a outra face do óvulo, mesmo tendo origens diferentes e estando em corpos diferentes, de igual modo o antropocentrismo não é superação, mas complementação do teocentrismo. Deus e o Homem são uma unidade indissolúvel.

O internauta Karl Brasil disse no seu escrito que religião, numa sociedade plenamente emancipada, é passado.

Mas, a História é constituída de passado? Caso tenha tido passado é porque teve futuro. Qual o seu futuro? Sabemos, o Materialismo que afirma que a  sociedade quando se achar plenamente emancipada nela não haverá espaço para religião. Tornou-se fenômeno do passado. Mas, então a História pararia no tempo? Porque as duas pontas são passado e futuro... se desconhecendo qualquer outra classificação para o tempo.

Mas, será que a História tem passado? Ora, para um indivíduo que está na estação da primavera o outono está para ela no futuro. Mas quando estiver no outono quem está no futuro agora é a primavera...

Porque, embora completamente desconhecido de Comte e do Materialismo Dialético, a história na verdade se move em um espaço curvo. Afirmam que não, que se move retilineamente. Mas, um marxista que queira evoluir, crescer, o mesmo entende que tem de se afastar cada vez mais da religião. E toma o rumo retilíneo, cada vez mais a religião ficando para trás. Cada vez mais um pontinho. E de repente ele olha para trás e não mais vê. Sente que se tornou um fenômeno que deixou a história. E ele continuando a caminhar para frente, sempre em linha retilínea, por causa da curvatura da história, chegará um momento em que ele divisará no futuro a religião. O que estava atrás de si agora aparece na frente de si. E prosseguindo andando cada vez mais a religião vai estar próxima dele, até que penetra no seu território fenomênico, e finalmente no seu númeno, a coisa em si de Kant.
E agora tudo mudou. O que era passado virou futuro e o que era futuro virou passado. Espanta-se com os fenômenos que então contempla. Na sua realidade numênica, observa cristãos sendo arrastados de suas casas por pagãos e levado para serem martirizados nas arenas de Roma. Vê serem chicotados, arrastados por bigas com os pés amarrados, e se recorda que no passado presenciou tudo isto acontecendo com os marxistas. Intrigado pela semelhança procura saber dos seus fundamentos. E então descobre que o martírio marxista e o martírio cristão são as duas faces do conceito de martírio. São parte de um mesmo e único processo, o da redenção da humana pago pelo preço do sangue de mártires.

O internauta Karl Brasil fez a pronúncia: Nunca vi alguém que tenha se emancipado por meio de alguma religião; pelo contrário, sido vítima de mil e uma alienações.

Primeiro, em 88 Adamir Gerson conheceu Marcos Donatan, militante do PCB e naquele ano ajudando o PT a se desenvolver na cidade. Cerca de doze anos depois encontrou Marcos Donatam embriagado no centro da cidade. Estava parado num ponto de ônibus aguardando a Circular. O ônibus parou e Adamir Gerson procurou ajudá-lo a subir ao ônibus. Mas era pesado, e acabou caindo batendo a cabeça na calçada. Muito sangue, Adamir Gerson ligou para o 190 e logo chegou uma viatura policial que o levou para o hospital.

Passado algum tempo soube que se tornara evangélico. Não só abandonou o álcool como se casou na igreja, tornando-se nova criatura, e, no entanto, não abandonou o socialismo. Tendo-se tornado pai, na eleição passada foi candidato a vereador na cidade pelo PSOL.

Segundo, Comandante Flávio é um marxista que deixou o conforto de Curitiba e de fazer revolução atrás de um computador e foi para Rondônia, para ajudar sem-terras do Movimento Camponês Corumbiara. E Comandante Flávio deu este testemunho, que passou um ano na igreja Congregação do Brasil e criou a respeito deles este juízo: eles vivem um socialismo primordial!

Portanto meu caro Karl Brasil, você precisa rever seus conceitos a respeito de religião. Religião emancipa sim, liberta sim. Não liberta do capitalismo porque esta não é sua missão; Deus não a fez para isto, mas para isto fez o Marxismo. Marcos Donatam se tornou um homem de verdade. O marxismo era morto para a sua espiritualidade. Não dizia nada, não interferia em nada. Mas encontrou na religião quem o pudesse resgatar. Porque ali estava aquele que veio para que todos tivessem vida e vida em abundância.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

PT, Partido dos Trabalhadores e o PAREPA, PArtido da REconstrução do PAraíso


PT, Partido dos Trabalhadores e o PAREPA, PArtido da REconstrução do PAraíso

No final da década de 70 a partir das gigantescas greves operárias que então ocorreram no ABC paulista, lideradas por Lula, se deu o nascimento de um novo partido político.

O PT, partido de esquerda, nascia diferente de todos os partidos de esquerda.

E a diferença fundamental é que o PT nascia fortemente influenciado pelas Cebs católicas. Ao contrário dos partidos comunistas tradicionais desligados por completo de religião e de transcendência, o PT tinha um núcleo forte que fazia política a partir de sua religiosidade. Mais do que isso, que buscava a inspiração para a libertação nas fontes de sua própria fé, em especial no relato do Êxodo. O Êxodo era um farol que iluminava toda a sua caminhada política e lhe dava a certeza de vitória sobre os Faraós modernos.

Ora, como o PT se formou da junção da militância cristã com a militância da esquerda tradicional, era de se esperar que se estivesse diante de uma aliança perene, duradoura, que fatalmente iria conquistar seus objetivos de libertação. A força da esquerda tradicional recebia um reforço de peso, a força cristã.

Mas não foi isso que presenciamos. Presenciamos sim pelo lado da militância cristã que tinha a militância da esquerda marxista como companheiros irmanados no mesmo objetivo. Unidos para construir um novo Brasil, fraterno, em que todos se reconheciam como irmãos. Mas a recíproca não aconteceu com a esquerda tradicional, ao menos com os seus elementos mais jovens.

Estes se sentiam incomodados pela presença das Cebs. Não pelas Cebs em si, mas pelos aspectos religiosos a partir dos quais embasavam a sua luta política. Olhavam para a militância das Cebs e os via como revolucionários contraditórios. Ao mesmo tempo em que lutavam para o fim do capitalismo conservavam aquilo que para esta militância marxista atéia era a alma que sustentava e dava vida ao capitalismo, a fé religiosa cristã.

E não tardou e começaram a se referir a eles de forma pejorativa e depreciativa: igrejeiros! E trabalhavam abertamente para impedir que os “igrejeiros” ocupassem espaços no PT. Que permanecessem, mas como cauda e não cabeça. E isto certamente que instigados pela presença nos seus espíritos do Materialismo Dialético.

Em uma palavra, Cebs e Esquerda Marxista no PT foram como água e óleo que estiveram juntas e não se misturaram.

Isto serve de reflexão para nós que estamos tendo a missão e a responsabilidade de criar um novo caminhar político. Porque na verdade vamos aprofundar o PT inicial, aprofundando ainda mais a aliança entre cristãos e marxistas. Não um encontro casual para um mútuo benefício transitório, mas porque estamos decididos na construção do Reino, e a sua construção exige fatalmente a convergência de cristãos e marxistas para estarem em corpo único. Aquilo que os cristãos chamam de Reino de Deus, e os marxistas de Comunismo, a sua manifestação se dá na razão inversa da união de cristianismo e marxismo. Como a vida só pode nascer da junção dos dois gametas, Reino de Deus e/ou Comunismo só podem nascer da junção de cristianismo e socialismo.

Deveras, temos a plena convicção que é nossa missão construir essa aliança que venha ser homogênea. E essa aliança no PT foi heterogênea. Mas no PAREPA com certeza será homogênea. No PAREPA cristãos e marxistas irão se reconhecer osso do mesmo osso e carne da mesma carne.

Pois que, ao contrário da Teologia da Libertação que não interferiu filosoficamente no espírito dos marxistas, não contestando a sua visão de mundo e não apontando a sua limitação epistemológica, se como fossem seres acabados, imutáveis, ou simplesmente achando que podiam levar adiante a luta pelo socialismo prescindindo dos marxistas, cujo ateísmo e materialismo era um estorvo num continente dominado pelo sagrado, ora, com certeza não será assim com o PAREPA. Por ter amor e interesse pelos marxistas, e por reconhecê-los patrimônio de Deus, e isto é muito importante, certamente que nós do PAREPA iremos interferir filosoficamente sim nos seus espíritos para modificar o seu ver e o seu agir. A começar que fazê-los reconhecer que o cristianismo é sim a outra face do socialismo. Aquele poderoso movimento dos cristãos primitivos, entrando em confronto com uma religiosidade destituída de qualquer poder de emancipação, de qualquer senso de emancipação, entregue a práticas religiosas que tinham o fator positivo de aliviar o seu sofrimento do dia a dia, e o poderoso movimento comunista, quase dois mil anos depois, em confronto com práticas políticas incapaz de qualquer emancipação, destituída  de qualquer senso de emancipação, os dois faziam sim parte de um mesmo e único processo de libertação, de uma libertação total, absoluta, sem brechas. E a verdade é que tem chegado o momento de cristãos e marxistas terem essa consciência, de que são frutos da mesma árvore.

Em uma palavra, na década de 60 surgiu o grupo político, “Cristãos pelo Socialismo”, e neste início de século XXI há de surgir os “Marxistas pelo Cristianismo”. Porque a práxis modificadora terá de ser dupla, nas duas direções (1). Não há emancipação com estas duas instâncias de vida separadas.

Antes de prosseguir é preciso o esclarecimento porque o PAREPA se interessa pelos marxistas e quer integrá-los na sua caminhada de libertação, ao contrário da Teologia da Libertação que mui provavelmente não viu a sua necessidade. O tenha reduzido a  números, que certamente seriam substituídos por número muitíssimo maior da nova militância.

Ora, na Palavra de Deus está assentado o aparecimento futuro de um povo paradoxal, que não iria dobrar o seu joelho diante de Deus, não iria invocar o seu nome como proteção, todavia seria este povo que faria a vontade de Deus. Isto se acha assentado em Isaías 65. E vale acrescentar que Jesus tomou esta profecia de Isaías e deu a ela revestimento maior, se dirigindo aos sacerdotes dos seus dias e lhes dizendo que o Reino de Deus lhes seria tirado e dado a uma nação que produzisse seus frutos (Mateus 25.43).

Bem, como os primeiros apóstolos de Jesus entenderam essa profecia de Isaías como se cumprindo com os gentios, as boas novas vieram aos judeus, mas eles rejeitaram, com ela sendo aceita pelos gentios, ora, na exegese celestial está profecia tem então duplo cumprimento, no tipo com os gentios, mas no antítipo com os marxistas. E uma vez que a profecia está a falar de um povo que fazia a vontade de Deus, obrava os frutos do Reino, sem, no entanto, ter conhecimento de Deus, ora, como que isto não se cumpriu com os gentios, que no período em que não conheciam a Deus também não faziam a sua vontade, mas se cumpriu sim com os marxistas, que no período em que não conheciam a Deus FAZIAM A VONTADE DE DEUS, então temos que afirmar que o foco da profecia se dirige aos marxistas e perifericamente aos gentios. Em uma palavra, se dirige aos gentios na forma E NÃO NO CONTEÚDO, se dirigindo aos marxistas TANTO NA FORMA COMO NO CONTEÚDO! E isto é tão certo que percebemos em Paulo um cuidado ao empregar a profecia de Isaías aos gentios. Tem a certeza quanto à forma, mas um pé atrás quanto ao conteúdo.

Acontece que tanto o profeta Isaías como Jesus deram desenlace à profecia. Isaías, depois de no capítulo 65 profetizar o aparecimento na História deste povo peculiar, paradoxal, no capítulo 66 verso 14 volta a falar sobre ele. E agora trás um novo momento, com o véu que mantinha este povo separado de Deus sendo removido e havendo uma plena reconciliação entre eles: “E certamente vereis, e vosso coração forçosamente exultará, e os vossos próprios ossos florescerão como a tenra relva. E a mão de Javé há de ser dada a conhecer aos seus servos, mas ele verberará realmente os seus inimigos. E Jesus, depois de no verso 43 do capítulo 21 de Mateus ser encontrado se dirigindo aos sacerdotes dos seus dias e lhes dizendo que o Reino de Deus seria tomado e dado a uma nação que produziria seus frutos, ora, mais na frente, no verso 40 de Mateus 25 encontramos agora Jesus em diálogo com este mesmo povo, procurando esclarecer que quando dedicavam o serviço aos pobres, sem que soubessem era a Jesus que faziam. E prossegue um diálogo altamente dialético entre Jesus e este povo, com Jesus se esforçando para fazer aflorar nas suas consciências de que não obstante o seu ateísmo, todavia foi um povo sim ao serviço de Deus e do seu Reino. (Esse diálogo entre Jesus e o povo marxista se acha em esboço na Teologia da Libertação, mas adquire clareza cartesiana no socialismo celestial).

Prosseguindo. Bem, porque mesmo foi dito que se na segunda metade do século passado surgiu entre os cristãos o grupo “Cristãos pelo Socialismo” temos dito que tem chegado o momento de também surgir o grupo, “Marxistas pelo Cristianismo”? Porque tem chegado o momento dos marxistas compreenderem claro como o dia que o reino da liberdade concreta em que cada um tem segundo as suas necessidades o mesmo só pode se manifestar a partir do cristianismo. Sem o cristianismo o que se tem é socialismo; com o cristianismo o que se tem é Comunismo. E o socialismo é apenas uma conquista temporária, mas o Comunismo a sua conquista é perene. O socialismo faz uma leitura das necessidades do estômago, orienta a sua práxis a partir do estômago e o estômago é o escopo último de suas esperanças. Mas a leitura do Comunismo é o coração. Faz leitura do coração, orienta a sua práxis a partir do coração e o coração é o escopo último de suas esperanças. (Lembrando que na filosofia celestial a passagem do socialismo para o Comunismo sofre um corte epistemológico espetacular. Essa realidade nova intuída como comunismo não é outra coisa senão que o Reino de Deus. E uma vez que esta mesma passagem também sofre o cristianismo, deixa de ser o que é para ser Reino de Deus (ICoríntios 13.10), logo a conversão dos marxistas não será para a Cristandade e tampouco para o Deus enformado e informado por ela, mas para o Reino de Deus, para o Deus desconhecido que havia de vir, com um novo nome (Apocalipse 1.4; 2.17). De modo que a conversão se dá em mão dupla, de cristãos e marxista para o Deus Verdadeiro. Para o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. E como a filosofia celestial endossa a visão transcendental de Pietro Ubaldi para quem a revolução franco-burguesa e a revolução russo-socialista são partes de um mesmo e único processo; em hipótese alguma o socialismo foi superação do capitalismo, visão do senso comum, mas do feudalismo surgiu uma bifurcação, dum lado o ramo do capitalismo e do outro o ramo do socialismo; e como se manifestaram como tese e antítese, e tese e antítese quando amadurecem, crescem, naturalmente se convergem, a se encontrar fatalmente no ponto ômega da síntese, e o que sela este encontro e reconciliação é que no processo de crescimento o que é acidental vai sendo descartado, ficando para trás, mas permanecendo o que é essencial, e o que é essencial, liberdade e igualdade, é o que verdadeiramente se encontram e se reconciliam, no Infinito, visão de Mestre Ekhart e Nicolau de Cusa, ora, o que Adamir Gerson está querendo dizer é que em termos de ciência essa conversão não está prometida e destinada só a um pólo da contradição, o marxista, mas também ao pólo do capitalismo. O fato do passado, em que aqueles que tinham propriedade vendiam-na e os valores se tornavam comum à comunidade primitiva, a ser usado por todos, conforme a necessidade de cada um, pela intervenção de Javé na História, isto voltará a ser uma realidade. Em uma palavra, o final da História, o Armagedom, não é entre forças inscritas na imanência, como muitos pensaram –  soviéticos contra americanos ou agora muçulmanos contra o ocidente, ou árabes contra Israel – mas é entre Javé e a Serpente Original. E na vitória de Javé contra a Serpente Original então o caminho ficou livre para a restauração do Paraíso.

Ora, a práxis da Ditadura do Proletariado surgiu justamente para suprir o lugar vago do cristianismo. O cristianismo foi prescindido de qualquer utilidade e removido do caminho da libertação. Quer dizer, as imensas massas trabalhadoras estavam destituídas da consciência do socialismo (o que levou Lênin a lançar a NEP e adiar o socialismo). Daí esse vazio ser contornado por uma práxis que chamamos de “Lei”, a Ditadura do Proletariado.

Em uma palavra, se tem socialismo ESPIRITUAL e se tem socialismo Material. O socialismo espiritual é a consciência do socialismo no espírito. É o amor que desabrocha para com o próximo de forma natural e espontânea. Destarte, o socialismo é uma realidade na vida da Igreja. Os membros da Igreja se relacionam em torno do socialismo. Uma moça se apaixona por um jovem e vice-versa e a questão social não é levada em conta. É levada em conta unicamente a questão do socialismo. De se estar de fato ligado Naquele que faz todos se sentirem iguais.

Mas é um socialismo espiritual, alheio ao mundo real. Interfere nos sujeitos que fazem parte da comunidade dos fiéis, mas não interfere nas relações objetiva da sociedade. Em uma palavra, indivíduos socialistas vivendo em um mundo não socialista. Praticam o socialismo com o que tem e não com o que tem a sociedade. Desconhece a questão dos modos de produção, da luta de classe, e etc.

Ora, era de se esperar que o socialismo científico de Marx nascesse a partir deste socialismo espiritual. Mesmo porque o antecessor socialismo utópico era claramente uma transição entre o socialismo espiritual cristão e o socialismo material marxista. O socialismo utópico era que o socialismo espiritual ensaiava deixar o gueto e se aventurar pela sociedade, a encarar as suas relações objetivas, as contradições de classe, e as transformar, com todo o seu relacionamento social sendo de acordo a sua essência espiritual.

Mas, porque o movimento se dá sempre na tríade hegeliana, tese, antítese e síntese, a verdade é que Marx teorizou o socialismo científico numa leitura direta da exploração capitalista. Como antítese. Não se interessou pelos cristãos que os viu de posse de uma visão desfigurada da realidade. Não entendeu que esta visão desfigurada era situação embrionária que trabalhada e desenvolvida ao extremo fatalmente produziria um socialismo modificador de toda realidade social e política. Os viu, destituído do olho dialético. Era aquilo e continuariam sendo aquilo. Não houve a compreensão de que se fecundasse nele a visão objetiva do socialismo eles iriam se acordar em nova figura de espírito de modo a modificar toda ordem objetiva estabelecida.

Ora, a verdade é que se o socialismo científico tivesse surgido como desenlace do socialismo espiritual jamais teria havido a Ditadura do Proletariado, e a violência revolucionária teria sido numa escala infinitamente menor. Sendo curto, Marx não foi o espermatozóide fecundando o óvulo para o nascimento da vida, mas foi o espermatozóide sendo construído, saindo do seu estado rudimentar, socialismo utópico, para o seu estado acabado, socialismo científico.

E tinha de ser assim. Primeiro, porque o movimento do Absoluto é na tríade hegeliana da tese, antítese e síntese. Move-se por negações e afirmações. Segundo, para o cumprimento das profecias. As profecias apontavam para o tempo escatológico uma punição dos ricos e dos opressores. Ora, para o seu cumprimento se necessitava fundamentalmente da Ditadura do Proletariado e da violência revolucionária. O nem a sua prata e nem o seu ouro os livrará no dia da ira de Javé (Sofonias 1) iriam ser cumpridos justamente e somente pela Ditadura do Proletariado.

Como para tudo há um tempo debaixo dos céus, a verdade é que tem chegado o tempo do espermatozoide fecundar o óvulo. De se construir o socialismo material a partir do socialismo espiritual. De cristianizar-paulinizar a sociedade. Sem Paulo a sociedade torna-se hedonista, com os espíritos entregues ao consumismo desenfreado. E predador. Sim, tem chegado o tempo do amor ao próximo ser despertado em todos os corações. E onde o amor ao próximo for despertado verdadeiramente, então semear o socialismo científico, isto é, o seu núcleo econômico resgatado do conjunto filosófico (o que acontece nas trompas de Falópio onde o espermatozoide ao penetrar o óvulo fica sem a cauda que lhe dava direção). Certamente nascerá um autêntico revolucionário do Reino.

Está havendo muita dificuldade em se expor com clareza tal questão. Mas aos poucos a sua compreensão irá aflorando.

Partamos para um fato concreto para se compreender a contento esta questão.

No ano de 1906 em Los Angeles, numa igreja metodista que tinha sido abandonada, nasceu o movimento pentecostal. Ao lado do movimento comunista, o maior movimento social do século XX. Hoje cerca de 400 milhões ao redor do mundo, cerca de 50 milhões no Brasil.
O movimento pentecostal foi um poderoso movimento religioso que nasceu aos pés de Joseph William Seymour, um negro filho de ex-escravos. Começou pequeno, poucas almas, e logo uma multidão se reunia naquele casarão que fora uma igreja metodista. Vindo de todas as partes de Los Angeles, até mesmo de regiões distantes dos Estados Unidos, ali se encontravam brancos e negros, pobres e ricos, lavadeiras negras e patroas brancas, mexicanos e asiáticos. E, não obstante estarem vivendo em uma sociedade com fortes barreiras raciais e sociais, todos ali, na mediação de Joseph Seymour, representante de Jesus, se abraçava e se reconheciam irmãos. Ali naquele templo todos se reconheciam iguais, e ninguém dizia ou se sentia ser mais que outros. Ali, imperava entre eles uma absoluta igualdade.

Como Marx reagiria frente àquela realidade espiritual? Que ali eles encontravam um consolo contra a realidade cruel do dia a dia. Não era uma forma de enfrentar os problemas, mas de fugir deles.

Do ponto de vista positivista isto é uma verdade. Ao voltar para suas casas e se inserir novamente no cotidiano toda aquela igualdade se esfumava. E a verdade é que Marx iria propor que eles abandonassem aquele templo e não se iludissem, procurando construir a igualdade na subversão da ordem política e social e instaurando no seu lugar a nova ordem do socialismo. Marx iria dizer que a energia que gastavam naquele templo era inútil, e o que teriam de fazer era usá-la para superar o capitalismo. Iria concluir que aqueles encontros naquele templo religioso não se orientavam no sentido de superar o capitalismo. Logo a sua igualdade era na verdade uma ilusão do espírito.

Aqui se acha um confronto do socialismo celestial com o socialismo marxista. A sua leitura do fenômeno é que ali se deu a manifestação do socialismo espiritual. Aquela era realmente uma igualdade, não era igualdade material, mas era igualdade espiritual. E que a construção do socialismo não se dá na razão inversa de sua eliminação e substituição de sua práxis – exigência marxista que enxerga e o entende uma deturpação do conceito de igualdade; uma mistificação que encobre a exploração capitalista e é entrave à construção do socialismo – mas, pelo contrário, a construção do socialismo tem de ser a partir daquela experiência de igualdade espiritual. Aqueles que se abraçavam e se reconheciam como irmãos, brancos e negros, pobres e ricos, lavadeiras negras e patroas brancas, mexicanos e asiáticos, recebendo em seus seres a fecundação do socialismo por certo que acabarão reconhecendo e compreendendo porque vivem em uma sociedade em que todos são desiguais. E o socialismo por certo florescerá neles. E não será mais socialismo, mas já Comunismo; não será mais cristianismo, mas já Reino de Deus.

Em uma palavra, como a vida nasce da junção dos dois gametas, o reino da igualdade só pode nascer da junção do socialismo com o cristianismo. Da junção da materialidade socialista com a espiritualidade cristã. Sem essa fecundação o Marxismo pode ter sucesso, mas se tiver pela frente uma realidade sócio-político-material que seja a feudal ou próximo dela. Onde o feudal se converteu no capitalismo não há qualquer futuro para o Marxismo. O capitalismo, por ser uma máquina de produção, para se sustentar cria mecanismos de distribuição. Racionaliza para sobreviver. De modo que numa existência assim, as armas do Marxismo para a construção de uma sociedade igualitária tornaram inócuas, perderam o sentido. É preciso nova Teoria. E ela procurará construir o reino da igualdade não partindo do econômico, mas do espiritual. Não do político, mas do religioso. A sociedade que não é tão carente assim do econômico, todavia o é do espiritual; e uma vez que ela se abriu e aceitou o espiritual as condições se acham propícias para o socialismo. Os seus seres espiritualizados entrarão em choque e conflito com a realidade capitalista, mesmo que seja distributivo. E no choque das idéias compreenderão que o que satisfaz os seus espíritos, seus novos espíritos, é o socialismo e não o capitalismo. E farão com ele o mesmo que aquelas massas fizeram com o socialismo do Leste naquele final da década de 90. Realidade alguma subsiste ao poder do espírito.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O PT e o PAREPA

A INEVITÁVEL CHEGADA DO PAREPA A SE CHOCAR COM ESSE MUNDO MORIBUNDO
Do Blog do NOblat
"PT: Está na hora de mudar o disco?" Por Ilimar Franco

Há, entre os petistas, aqueles que avaliam que está esgotada a fase de solidariedade aos envolvidos no escândalo do mensalão. Acreditam que está na hora do partido fazer “o reconhecimento público daquele erro”. Wladimir Pomar é um dos que defendem que o partido deve se reconciliar com aquela parcela da opinião pública que ficou decepcionada com o PT por adotar práticas políticas que sempre criticou em seus adversários e aliados políticos. Pomar também está propondo que os petistas retomem as “Caravanas da Cidadania” e aproveitem a mobilização para realizar uma campanha popular pelo fim do financiamento eleitoral privado
----------------------------- 
Gerson Soares de Melo No caminhar histórico o novo não se recicla, mas é substituído. Foi assim com o menchevismo em relação ao bolchevismo, o socialismo utópico em relação ao socialismo científico, o feudalismo em relação ao capitalismo. Tal é assim pela transcendentalidade absoluta da História. O PT retomar as caravanas da cidadania é nostalgia. Que as caminhadas da cidadania terão de ser retomada isto é um fato, mas será pelo movimento novo do socialismo celestial e do seu partido, O PAREPA. E quanto à questão do fim do financiamento eleitoral privado ela começará com o próprio PAREPA, que buscará o seu financiamento entre a população do país e jamais entre empresas que na verdade não financiam, mas investem no político partidário.

Gerson Soares de Melo Mesmo porque a mais de vinte anos Adamir Gerson fez um trabalho que distribuiu fartamente entre os petistas da cidade e de fora. E apresentou assim o nascimento do PT: fora uma nave que se levantara do solo sagrado de São Bernardo do Campo com destino a um Brasil e uma terra de gente de rosto feliz. E era dito que a nave fora levantada por um foguete de dois estágios, o primeiro contendo combustível marxista e o segundo, combustível hegeliano.E era dito que a nave só iria até um determinado patamar e dali não avançaria mais. E quando o combustível do primeiro estágio estivesse acabando e a nave correndo o risco da queda e matando seus ocupantes, ora, era dito que no ínterim o segundo estágio do foguete seria acionado. E a nave, com gás novo, e livre do peso da carcaça do primeiro estágio, iria então novamente se reequilibrar e seguir seu destino inicial, chegar a um Brasil e a uma terra de gente de rosto feliz.

Gerson Soares de Melo Portanto uma vez que se esgotou o combustível marxista do primeiro estágio, que tanto se refere ao socialismo em si como à própria ética, e o fato de petistas taparem o olho e fazer uma defesa dos condenados pelo escândalo do mensalão é indicativo da perda da ética, mais indicativo ainda quando demonizam o Ministro Joaquim Barbosa, ora, tudo é indicativo de que chegou o tempo de ser acionado o segundo estágio do foguete, de combustível hegeliano. E o seu acionamento não significa reciclar o PT, mas literalmente acabar com o PT. E criar no lugar o instrumento novo partidário, o PAREPA. Mesmo porque gente de rosto feliz só é encontrada no Paraíso e não fora dele. Tem uma descrição viva a esse respeito do profeta Isaías: A TERRA INTEIRA CHEGOU A DESCANSAR, FICOU SOSSEGADA. AS PESSOAS FICARAM ANIMADAS, COM CLAMORES JUBILANTES.

Gerson Soares de Melo Aproveitemos esse final de ano e início de novo ano e disseminemos o PAREPA por todos os cantos do país e terra. Proclamemos o combustível hegeliano. Somente o combustível hegeliano para colocar a terra novamente na condução de Deus, e somente o combustível hegeliano para se costurar uma aliança perene entre cristãos e socialistas. Lembrando que o texto de Isaías que fala de um planeta de gente de rosto feliz, porque foi quebrado o poder de Babilônia, o poder do imperialismo, se acha em 14.1-8, com esta profecia reaparecendo no livro do Apocalipse: caiu Babilônia, a Grande. Caiu o domínio do imperialismo sobre a terra. Os povos se uniram numa nova irmandade. Em que povo algum busca o seu crescimento sugando outros povos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Marxismo e Cristianismo


Texto postado por Karl Marx na Comuna do Orkut Karl Marx - Brasil

Religião: Ópio do Povo?

Karl Marx - 27 minutos atrás
Marxismo e religião: ópio do povo?
A visão marxista da religião foi extremamente simplificada e identificada tipicamente com o refrão desgastado que é “o ópio dos povos.” Michael Lowy apresenta‑nos aqui, com maior detalhe, uma visão acerca do marxismo e da religião.
SERÁ AINDA A RELIGIÃO, tal como a viram Marx e Engels no século XIX, uma trincheira da reacção, obscurantismo e conservadorismo? Em larga medida, a resposta é afirmativa. O olhar deles aplica‑se a muitas instituições católicas, às correntes fundamentalistas das principais confissões religiosas (cristã, judaica ou muçulmana), à maioria dos grupos evangélicos e das novas seitas, algumas das quais ‑ como a conhecida Igreja Moon, não passam de engenhosas combinações de manipulações financeiras, lavagem ao cérebro e anti‑comunismo http://xn--fantico-jwa.No entanto, o aparecimento de um Cristianismo revolucionário e da Teologia da Libertação na América Latina abriu um novo capítulo histórico e levanta questões novas e empolgantes às quais não podemos dar resposta sem uma renovação da análise marxista da religião, o assunto deste artigo‑Partidários e adversários do marxismo parecem concordar num ponto: a célebre frase “a religião é o ópio do povo” representa a quinta‑essência da concepção marxista do fenómeno religioso. Ora, esta fórmula nada tem de especificamente marxista. Podemos encontrá‑la, antes de Marx, com algumas nuances, em Kant, Herder, Feuerbach, Bruno Bauer e muitos outros. Tomemos dois exemplos de autores próximos de Marx.
No seu livro sobre Ludwig Borne, de 1840, Heine refere‑se ao papel narcótico da religião de forma bastante positiva ‑ com uma certa dose de ironia: “Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”. Moses Hess, nos seus ensaios publicados na Suíça, em 1843, adopta uma posição mais crítica ‑ mas não desprovida de ambiguidade: “A religião pode tornar suportável... a consciência lastimável da servidão... do mesmo modo que o ópio é uma grande ajuda nas doenças dolorosas”.
A expressão aparecia pouco depois num artigo de Marx “Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (1844). Uma leitura atenta do parágrafo inteiro mostra que o seu pensamento é muito mais complexo do que aquilo que se pensa habitualmente. Realmente, rejeitando totalmente a religião, Marx não toma menos em conta o seu duplo carácter: “A angústia religiosa é ao mesmo tempo a expressão da verdadeira angústia e o protesto contra esta verdadeira angústia. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como ela é o espírito de uma situação sem espiritualidade. Ela é o ópio do povo”.
Uma leitura do ensaio, no seu conjunto, mostra claramente que o ponto de vista de Marx, em 1844, deriva mais do neo‑hegelianismo de esquerda, que vê na religião a alienação da essência humana, do que da filosofia das Luzes, que a denúncia simplesmente como uma conspiração clerical (o “modelo egípcio”). De facto, quando Marx escreveu a passagem acima, era ainda um discípulo de Feuerbach, um neo‑hegeliano. A sua análise da religião era por conseguinte “pré‑marxista”, sem referência às classes sociais e sobretudo a‑histórica. Mas não era menos dialéctica, porque apreendia o carácter contraditório da “aflição” religiosa: por vezes, legitimação da sociedade existente, por vezes, protesto contra esta.
É apenas mais tarde, em particular na Ideologia alemã (1846), que o estudo propriamente marxista da religião, como realidade social e histórica, começou. O elemento central deste novo método de análise dos factos religiosos é considerá‑los ‑ juntamente com o direito, a moral, a metafísica, as ideias políticas, etc. ‑ como uma das múltiplas formas da ideologia ou seja da produção espiritual (geistige Produktion) de um povo, a produção de ideias, de representações e formas de consciência,  necessariamente condicionada pela produção material e pelas relações sociais correspondentes.                                                
Poder‑se‑ia resumir esta diligência por uma passagem “programática” que aparece num artigo redigido alguns anos mais tarde: “é claro que qualquer perturbação histórica das condições sociais provoca ao mesmo tempo a perturbação das concepções e das representações dos homens e por conseguinte das suas representações religiosas”. Este método de análise macro‑social terá uma influência duradoura sobre a sociologia das religiões, mesmo para além do movimento marxista.
A partir de 1846, Marx prestou apenas uma atenção desatenta à religião, em tanto que tal, como universo cultural/ideológico específico. Não se encontra praticamente na sua obra nenhum estudo mais desenvolvido de um fenómeno religioso qualquer. Convencido, como o afirma no artigo de 1844, que a crítica da religião se deve transformar em crítica deste vale de lágrimas e a crítica da teologia em crítica da política, parece desviar a sua atenção do domínio religioso.

Karl Marx - 32 minutos atrás
O contributo de Engels
Será talvez devido à sua educação pietista que Friedrich Engels mostrou um interesse bem mais sustentado que Marx para os fenómenos religiosos e o seu papel histórico – partilhando ao mesmo tempo, naturalmente, as opções decididamente materialistas e ateias do seu amigo. A sua principal contribuição para a sociologia marxista das religiões é sem dúvida a sua análise da relação entre as representações religiosas e as classes sociais. O cristianismo, por exemplo, não aparece nos seus escritos (como em Feuerbach) como “essência” a‑histórica, mas como uma forma cultural (“ideológica”) que se transforma durante a história e como um espaço simbólico, desafio de forças sociais antagónicas.
Graças ao seu método fundado na luta de classes, Engels compreendeu ‑ contrariamente aos filósofos das Luzes ‑ que o conflito entre materialismo e religião não se identifica sempre com aquele que existe entre revolução e reacção. Na Inglaterra, por exemplo, no século XVII, o materialismo na pessoa de Hobbes, defendeu a monarquia enquanto as seitas protestantes fizeram da religião a sua bandeira na luta revolucionária contra os Stuarts. Do mesmo modo, longe de conceber a Igreja como uma entidade social homogénea, ele esboça uma notável análise mostrando que em certas conjunturas históricas, ela se divide de acordo com as suas componentes de classe. É assim que, na época da Reforma, se tinha, por um lado, o alto clero ‑ cimeira feudal da hierarquia ‑ e do outro, o baixo clero, que fornece os ideólogos da Reforma e do movimento campesino revolucionário.
Continuando a ser ao mesmo tempo materialista, ateu e adversário irreconciliável da religião, Engels compreendia, como o jovem Marx, a dualidade de natureza deste fenómeno: o seu papel na legitimação da ordem estabelecida e, em determinadas circunstâncias sociais, o seu papel crítico, contestatário e mesmo revolucionário. Mais ainda, é este segundo aspecto que se encontrou no centro da maior parte dos seus estudos concretos. Com efeito, debruçou‑se primeiro sobre o cristianismo primitivo, religião dos pobres, excluídos, malditos, perseguidos e oprimidos. Os primeiros cristãos eram originários das últimas fileiras da sociedade: escravos, homens livres privados dos seus direitos e pequenos camponeses sobrecarregados de dívidas.
Engels chegou mesmo a estabelecer um paralelo surpreendente entre este cristianismo primitivo e o socialismo moderno. A diferença essencial entre os dois movimentos residia em que os cristãos primitivos empurravam a libertação para o além, enquanto o socialismo a colocava neste mundo. Mas esta diferença é também acentuada no que aparece à primeira vista? No seu estudo sobre um segundo grande movimento cristão ‑ a guerra dos camponeses na Alemanha – ela parece perder a sua clareza: Thomas Munzer, teólogo e líder dos camponeses revolucionários e plebeus heréticos do século XVI, queria o estabelecimento imediato do Reino de Deus, esse reino milenarista dos profetas, sobre a terra. De acordo com Engels, o Reino de Deus era para Munzer uma sociedade sem diferenças de classe, sem propriedade privada e sem autoridade do Estado independente ou estrangeiro para os membros dessa sociedade.
Pela sua análise dos fenómenos religiosos, face à luta das classes, Engels revelou o potencial contestatário da religião e abriu o caminho para uma nova abordagem das relações entre religião e sociedade, distinto ao mesmo tempo da filosofia das Luzes e do neo‑hegelianismo alemão.
A maior parte dos estudos marxistas da religião, escritos no séc. XX, limitou‑se a comentar ou a desenvolver as ideias esboçadas por Marx e Engels ou a aplicá‑las a uma realidade específica. São assim, por exemplo, os estudos históricos de Karl Kautsky sobre o cristianismo primitivo, as heresias medievais, Thomas More e Thomas Munzer.
http://ssl.gstatic.com/orkut/img/gwt/quoteButton.png Citar

Karl Marx - 32 minutos atrás
Paraíso na terra ou nos céus?
No movimento operário europeu, eram muitos os marxistas radicalmente hostis em relação à religião, mas pensavam ao mesmo tempo que o combate do ateísmo contra a ideologia religiosa devia ser subordinado às necessidades concretas da luta de classes, que exige a unidade dos trabalhadores que crêem em Deus e dos que não crêem. O próprio Lenine ‑ que denunciava frequentemente a religião como “nevoeiro místico” ‑ insiste no seu artigo de 1905, “o socialismo e a religião” sobre o facto que o ateísmo não devia fazer parte do programa do partido porque “a unidade na luta realmente revolucionária da classe oprimida pela criação de um paraíso na terra é mais importante para nós do que a unidade da opinião proletária sobre o paraíso nos céus”.
Rosa Luxemburgo tinha a mesma opinião, mas elaborou uma diligência diferente e mais flexível. Embora ateia, ela atacou menos, nos seus escritos, a religião enquanto tal do que a política reaccionária da Igreja, em nome da tradição limpa desta. Num opúsculo de 1905, “a igreja e o socialismo”, afirmou que os socialistas modernos eram mais fiéis aos preceitos originais do cristianismo do que o clero conservador de hoje. Dado que os socialistas lutam por uma ordem social de igualdade, liberdade e fraternidade, os padres deveriam acolher favoravelmente o seu movimento, se quisessem honestamente aplicar na vida da humanidade o preceito cristão “amai o próximo, como a ti”.
Quando o clero apoia os ricos, que exploram e oprimem os pobres, ele está em contradição explícita com os ensinamentos cristãos: não serve Cristo, mas o dinheiro de um argentário. Os primeiros apóstolos do cristianismo eram comunistas apaixonados e os pais e primeiros doutores da Igreja (como Basílio, o Grande e João Crisóstomo) denunciavam a injustiça social. Hoje esta causa foi tomada em força pelo movimento socialista que traz aos pobres o Evangelho da fraternidade e da igualdade, apelando ao povo para estabelecer na terra o Reino da liberdade e do amor pelo próximo. Mais do que comprometer uma batalha filosófica, em nome do materialismo, Rosa Luxemburgo procura salvar a dimensão social da tradição cristã para a transmitir ao movimento operário.
Na Internacional comunista não se prestava muita atenção à religião. Um número significativo de cristãos juntou‑se ao movimento e o antigo pastor protestante suíço, Jules Humbert‑Droz, tornou‑se mesmo, nos anos 1920, um dos principais dirigentes do Komintern. Na época, a ideia mais espalhada nos marxistas era que um cristão que se tornasse socialista ou comunista abandonava necessariamente as suas crenças religiosas anteriores “anti‑científicas” e “idealistas”.
A maravilhosa peça de teatro de Bertold Brecht, Santa Joana dos Matadouros (1932), é um bom exemplo deste tipo de diligência simplista em relação à conversão dos cristãos para a luta pela emancipação proletária. Brecht descreve, com grande talento, o processo que conduz Joana, dirigente do exército de salvação, a descobrir a verdade sobre a exploração e a injustiça social, denunciando as suas antigas crenças, no momento de morrer. Mas, para ele, deve haver uma ruptura absoluta e total entre a sua antiga fé cristã e o seu novo credo da luta revolucionária. Exactamente antes de morrer, Joana diz aos seus amigos:
“Se por acaso alguém vier dizer baixinho, 
Que existe um Deus, invisível é verdade,
Do qual, portanto podeis esperar por socorro,
Batei‑lhe o crânio na pedra,
Até que ele rebente.”
http://ssl.gstatic.com/orkut/img/gwt/quoteButton.png Citar

Karl Marx - 31 minutos atrás
A intuição de Rosa Luxemburgo, segundo a qual se podia lutar pelo socialismo em nome dos verdadeiros valores do cristianismo original, perdeu‑se neste tipo de perspectiva “materialista” grosseira ‑ e sobretudo intolerante. Efectivamente, alguns anos depois de Brecht ter escrito esta peça, apareceu em França, entre 1936 e 1938, um movimento de cristãos revolucionários que reunia vários milhares de militantes, que apoiavam activamente o movimento operário, em especial a sua ala mais radical (os socialistas de esquerda de Marceau Pivert). A sua palavra de ordem principal era: “Somos socialistas, porque somos cristãos”...
Entre os dirigentes e pensadores do movimento comunista, Gramsci é provavelmente aquele que manifestou o maior interesse pelas questões religiosas. É também um dos primeiros marxistas a procurar compreender o papel contemporâneo da Igreja católica e o peso da cultura religiosa nas massas populares. Estas observações sobre a religião, nos seus Cadernos de prisão são fragmentárias, não‑sistemáticas e alusivas, mas no entanto muito perspicazes. A sua crítica destapada e irónica das formas conservadoras da religião ‑ nomeadamente a versão jesuítica do catolicismo, que ele detestava alegremente ‑ não o impedia de perceber também a dimensão utópica das ideias religiosas.
Os estudos de Gramsci são ricos e estimulantes, mas em última análise, não inovam no seu método de apreender a religião. Ernst Bloch é o primeiro autor marxista a ter alterado este quadro teórico ‑ sem abandonar a perspectiva marxista e revolucionária. Numa diligência similar à de Engels, distingue duas correntes sociais opostas: por um lado, a religião teocrática das igrejas oficiais, ópio do povo, aparelho de mistificação ao serviço dos poderosos; do outro, a religião clandestina, subversiva e herética dos Cátaros, Hussitas, Joaquim de Flora, Thomas Munzer, Franz von Baader, Wilhelm Weitling e Leão Tolstoi.. Nas suas formas contestatárias e rebeldes, a religião é uma das modos mais significativos da consciência utópica, uma das mais ricas expressões do princípio da esperança e uma das mais poderosas representações imaginárias do ainda‑não‑existente.
Bloch, tal como o jovem Marx da famosa citação de 1844, reconhece evidentemente o duplo carácter do fenómeno religioso, o seu aspecto opressivo, ao mesmo tempo que o seu potencial de revolta. É necessário, para apreender o primeiro, a que ele chama “a corrente fria do marxismo”: a análise materialista impiedosa das ideologias, dos ídolos e dos idólatras. Para o segundo, em contrapartida, é “a corrente quente do marxismo” que lhe é aposta, procurando salvaguardar o excesso cultural utópico da religião, a sua força crítica e antecipadora. Para lá de qualquer “diálogo”, Bloch sonhava com uma verdadeira união entre Cristianismo e revolução como aconteceu nas Guerras Camponesas do século XVI.
http://ssl.gstatic.com/orkut/img/gwt/quoteButton.png Citar

Karl Marx - 31 minutos atrás
Fé marxista e fé religiosa
As opiniões de Bloch eram partilhadas em certa medida por alguns intelectuais alemães da ala mais radical, que ficou conhecida como a Escola de Frankfurt. Max Horkheimer afirmava que a religião seria “o registo dos desejos, nostalgias e acusações de infinitas gerações”. Erich Fromm, no seu livro “Dogma de Cristo” (1930), usou o marxismo e a psicanálise para demonstrar a essência messiânica, plebeia, igualitária e anti‑autoritária do Cristianismo primitivo. E o escritor Walter Benjamin tentou combinar numa única síntese teologia e marxismo, messianismo judeu e materialismo histórico, luta de classes e redenção.
O trabalho “O Deus Escondido” (1955) de Lucien Goldmann é outra tentativa de abrir caminho na renovação dos estudos marxistas sobre a religião. Embora de inspiração diferente da de Bloch, ele estava igualmente interessado em resgatar os valores moral e humano da tradição religiosa. A parte mais original e surpreendente do seu livro é quando ele tenta comparar (sem no entanto assimilá‑los) a fé religiosa com a fé marxista: ambas partilham da recusa do individualismo (racional ou empírico) e a crença em valores trans‑individuais: Deus para a religião; a comunidade humana para o socialismo. Nos dois casos a fé assenta numa aposta ‑ a aposta na existência de Deus e a aposta marxista na libertação humana pressupõe o risco, o perigo de fracassar e a esperança do sucesso. Ambas implicam uma crença fundamental que não é demonstrável exclusivamente ao nível dos argumentos factuais.
O que as separa é certamente o caráter suprahistórico da transcendência religiosa: “A fé marxista é a fé no futuro histórico construído pelos próprios seres humanos, ou melhor, que devemos fazer, através da nossa actividade, uma “aposta”  no sucesso das nossas acções; a transcendência que é o objecto desta fé não é nem sobrenatural nem transhistórica, mas sim supra‑individual, nada mais e nada menos.” Sem querer de alguma maneira “cristianizar o marxismo”, Lucien Golmann introduziu, graças ao conceito de fé, um novo olhar para a relação conflitiva entre a crença religiosa e o ateísmo marxista.
Marx e Engels pensavam que o papel subversivo da religião era um fenómeno do passado, sem significado para a época da luta de classes moderna. Esta previsão revelou‑se exacta historicamente durante um século ‑ com algumas importantes excepções, nomeadamente em França, onde se conheceram os socialistas cristãos dos anos 1930, os padres operários dos anos 1940, a esquerda dos sindicatos cristãos (CFTC) nos anos 1950, etc. Mas, para compreender o que se passa, desde há trinta anos na América Latina ‑ a teologia da libertação, os cristãos pelo socialismo ‑ é necessário ter em conta as intuições de Bloch e Goldmann sobre o potencial utópico das tradições religiosas judaico‑cristãs.
O que infelizmente faz falta nestes debates marxistas “classicos” acerca da religião é a discussão das implicações da doutrina e práticas religiosas em relação às mulheres. O patriarcado, o tratamento discriminatório das mulheres e a negação dos direitos reprodutivos prevalecem nas principais correntes religiosas ‑ em particular no Judaísmo, Cristianismo e Islão ‑ e apresentamformas particularmente opressoras nas respectivas facções fundamentalistas. De facto, um dos critérios‑chave para avaliar o carácter progressivo ou regressivo dos movimentos religiosos é a sua atitude em relação às mulheres, e em especial ao seu direito de controlar os seus corpos: divórcio, contracepção ou aborto. Uma análise marxista renovada das religiões no século XXI obriga‑nos a colocar o tema dos direitos das mulheres no centro da análise.



 * Michael Löwy é membro da Liga Comunista Revolucionária (LCR) em França e director de pesquisa em sociologia no CNRS (National Center for Scientific Research) em Paris, é autor de muitos livros, entre os quais: “The Marxism of Che Guevara”, “Marxism and Liberation Theology”, “Fatherland or Mother Earth?” e “The War of Gods: Religion and Politics in Latin America”.
http://ssl.gstatic.com/orkut/img/gwt/quoteButton.png Citar

P. Celestial Estrela do Norte - 5 minutos atrás
Karl Marx, bom, bom demais. Postagens assim preparam o caminho para o aparecimento do PAREPA, PArtido da REconstrução do PAraíso. A sua essência é uma convergência histórica de cristianismo e socialismo, de religião e política, de luta de classe e luta de Deus. Estamos no caminho certo... atestado pela postagem de Karl Marx envolvendo filósofos de peso, tanto os radicalmente materialistas como os ecléticos da Escola de Frankfurt. Isto está prestes a se converter em uma poderosa força material, arrastando para a sua compreensão as grandes massas.
http://ssl.gstatic.com/orkut/img/gwt/quoteButton.png Citar