PT,
Partido dos Trabalhadores e o PAREPA, PArtido da REconstrução do PAraíso
No
final da década de 70 a partir das gigantescas greves operárias que então
ocorreram no ABC paulista, lideradas por Lula, se deu o nascimento de um novo
partido político.
O
PT, partido de esquerda, nascia diferente de todos os partidos de esquerda.
E
a diferença fundamental é que o PT nascia fortemente influenciado pelas Cebs
católicas. Ao contrário dos partidos comunistas tradicionais desligados por
completo de religião e de transcendência, o PT tinha um núcleo forte que fazia
política a partir de sua religiosidade. Mais do que isso, que buscava a
inspiração para a libertação nas fontes de sua própria fé, em especial no
relato do Êxodo. O Êxodo era um farol que iluminava toda a sua caminhada
política e lhe dava a certeza de vitória sobre os Faraós modernos.
Ora,
como o PT se formou da junção da militância cristã com a militância da esquerda
tradicional, era de se esperar que se estivesse diante de uma aliança perene,
duradoura, que fatalmente iria conquistar seus objetivos de libertação. A força
da esquerda tradicional recebia um reforço de peso, a força cristã.
Mas
não foi isso que presenciamos. Presenciamos sim pelo lado da militância cristã
que tinha a militância da esquerda marxista como companheiros irmanados no
mesmo objetivo. Unidos para construir um novo Brasil, fraterno, em que todos se
reconheciam como irmãos. Mas a recíproca não aconteceu com a esquerda
tradicional, ao menos com os seus elementos mais jovens.
Estes
se sentiam incomodados pela presença das Cebs. Não pelas Cebs em si, mas pelos
aspectos religiosos a partir dos quais embasavam a sua luta política. Olhavam
para a militância das Cebs e os via como revolucionários contraditórios. Ao
mesmo tempo em que lutavam para o fim do capitalismo conservavam aquilo que
para esta militância marxista atéia era a alma que sustentava e dava vida ao
capitalismo, a fé religiosa cristã.
E
não tardou e começaram a se referir a eles de forma pejorativa e depreciativa:
igrejeiros! E trabalhavam abertamente para impedir que os “igrejeiros”
ocupassem espaços no PT. Que permanecessem, mas como cauda e não cabeça. E isto
certamente que instigados pela presença nos seus espíritos do Materialismo
Dialético.
Em
uma palavra, Cebs e Esquerda Marxista no PT foram como água e óleo que
estiveram juntas e não se misturaram.
Isto
serve de reflexão para nós que estamos tendo a missão e a responsabilidade de
criar um novo caminhar político. Porque na verdade vamos aprofundar o PT
inicial, aprofundando ainda mais a aliança entre cristãos e marxistas. Não um
encontro casual para um mútuo benefício transitório, mas porque estamos
decididos na construção do Reino, e a sua construção exige fatalmente a
convergência de cristãos e marxistas para estarem em corpo único. Aquilo que os
cristãos chamam de Reino de Deus, e os marxistas de Comunismo, a sua
manifestação se dá na razão inversa da união de cristianismo e marxismo. Como a
vida só pode nascer da junção dos dois gametas, Reino de Deus e/ou Comunismo só
podem nascer da junção de cristianismo e socialismo.
Deveras,
temos a plena convicção que é nossa missão construir essa aliança que venha ser
homogênea. E essa aliança no PT foi heterogênea. Mas no PAREPA com certeza será
homogênea. No PAREPA cristãos e marxistas irão se reconhecer osso do mesmo osso
e carne da mesma carne.
Pois
que, ao contrário da Teologia da Libertação que não interferiu filosoficamente
no espírito dos marxistas, não contestando a sua visão de mundo e não apontando
a sua limitação epistemológica, se como fossem seres acabados, imutáveis, ou
simplesmente achando que podiam levar adiante a luta pelo socialismo
prescindindo dos marxistas, cujo ateísmo e materialismo era um estorvo num
continente dominado pelo sagrado, ora, com certeza não será assim com o PAREPA.
Por ter amor e interesse pelos marxistas, e por reconhecê-los patrimônio de
Deus, e isto é muito importante, certamente que nós do PAREPA iremos interferir
filosoficamente sim nos seus espíritos para modificar o seu ver e o seu agir. A
começar que fazê-los reconhecer que o cristianismo é sim a outra face do
socialismo. Aquele poderoso movimento dos cristãos primitivos, entrando em
confronto com uma religiosidade destituída de qualquer poder de emancipação, de
qualquer senso de emancipação, entregue a práticas religiosas que tinham o
fator positivo de aliviar o seu sofrimento do dia a dia, e o poderoso movimento
comunista, quase dois mil anos depois, em confronto com práticas políticas
incapaz de qualquer emancipação, destituída
de qualquer senso de emancipação, os dois faziam sim parte de um mesmo e
único processo de libertação, de uma libertação total, absoluta, sem brechas. E
a verdade é que tem chegado o momento de cristãos e marxistas terem essa
consciência, de que são frutos da mesma árvore.
Em
uma palavra, na década de 60 surgiu o grupo político, “Cristãos pelo
Socialismo”, e neste início de século XXI há de surgir os “Marxistas pelo
Cristianismo”. Porque a práxis modificadora terá de ser dupla, nas duas
direções (1). Não há emancipação com estas duas instâncias de vida separadas.
Antes
de prosseguir é preciso o esclarecimento porque o PAREPA se interessa pelos
marxistas e quer integrá-los na sua caminhada de libertação, ao contrário da
Teologia da Libertação que mui provavelmente não viu a sua necessidade. O tenha
reduzido a números, que certamente
seriam substituídos por número muitíssimo maior da nova militância.
Ora,
na Palavra de Deus está assentado o aparecimento futuro de um povo paradoxal,
que não iria dobrar o seu joelho diante de Deus, não iria invocar o seu nome
como proteção, todavia seria este povo que faria a vontade de Deus. Isto se
acha assentado em Isaías 65. E vale acrescentar que Jesus tomou esta profecia
de Isaías e deu a ela revestimento maior, se dirigindo aos sacerdotes dos seus
dias e lhes dizendo que o Reino de Deus lhes seria tirado e dado a uma nação
que produzisse seus frutos (Mateus 25.43).
Bem,
como os primeiros apóstolos de Jesus entenderam essa profecia de Isaías como se
cumprindo com os gentios, as boas novas vieram aos judeus, mas eles rejeitaram,
com ela sendo aceita pelos gentios, ora, na exegese celestial está profecia tem
então duplo cumprimento, no tipo com os gentios, mas no antítipo com os
marxistas. E uma vez que a profecia está a falar de um povo que fazia a vontade
de Deus, obrava os frutos do Reino, sem, no entanto, ter conhecimento de Deus,
ora, como que isto não se cumpriu com os gentios, que no período em que não
conheciam a Deus também não faziam a
sua vontade, mas se cumpriu sim com os marxistas, que no período em que não
conheciam a Deus FAZIAM A VONTADE DE DEUS, então temos que afirmar que o foco
da profecia se dirige aos marxistas e perifericamente aos gentios. Em uma
palavra, se dirige aos gentios na forma E NÃO NO CONTEÚDO, se dirigindo aos
marxistas TANTO NA FORMA COMO NO CONTEÚDO! E isto é tão certo que percebemos em
Paulo um cuidado ao empregar a profecia de Isaías aos gentios. Tem a certeza
quanto à forma, mas um pé atrás quanto ao conteúdo.
Acontece
que tanto o profeta Isaías como Jesus deram desenlace à profecia. Isaías,
depois de no capítulo 65 profetizar o aparecimento na História deste povo peculiar,
paradoxal, no capítulo 66 verso 14 volta a falar sobre ele. E agora trás um
novo momento, com o véu que mantinha este povo separado de Deus sendo removido
e havendo uma plena reconciliação entre eles: “E certamente vereis, e vosso
coração forçosamente exultará, e os vossos próprios ossos florescerão como a
tenra relva. E a mão de Javé há de ser dada a conhecer aos seus servos, mas ele
verberará realmente os seus inimigos. E Jesus, depois de no verso 43 do
capítulo 21 de Mateus ser encontrado se dirigindo aos sacerdotes dos seus dias
e lhes dizendo que o Reino de Deus seria tomado e dado a uma nação que
produziria seus frutos, ora, mais na frente, no verso 40 de Mateus 25
encontramos agora Jesus em diálogo com este mesmo povo, procurando esclarecer
que quando dedicavam o serviço aos pobres, sem que soubessem era a Jesus que
faziam. E prossegue um diálogo altamente dialético entre Jesus e este povo, com
Jesus se esforçando para fazer aflorar nas suas consciências de que não
obstante o seu ateísmo, todavia foi um povo sim ao serviço de Deus e do seu
Reino. (Esse diálogo entre Jesus e o povo marxista se acha em esboço na
Teologia da Libertação, mas adquire clareza cartesiana no socialismo
celestial).
Prosseguindo.
Bem, porque mesmo foi dito que se na segunda metade do século passado surgiu
entre os cristãos o grupo “Cristãos pelo Socialismo” temos dito que tem chegado
o momento de também surgir o grupo, “Marxistas pelo Cristianismo”? Porque tem
chegado o momento dos marxistas compreenderem claro como o dia que o reino da
liberdade concreta em que cada um tem segundo as suas necessidades o mesmo só
pode se manifestar a partir do cristianismo. Sem o cristianismo o que se tem é
socialismo; com o cristianismo o que se tem é Comunismo. E o socialismo é
apenas uma conquista temporária, mas o Comunismo a sua conquista é perene. O
socialismo faz uma leitura das necessidades do estômago, orienta a sua práxis a
partir do estômago e o estômago é o escopo último de suas esperanças. Mas a
leitura do Comunismo é o coração. Faz leitura do coração, orienta a sua práxis
a partir do coração e o coração é o escopo último de suas esperanças.
(Lembrando que na filosofia celestial a passagem do socialismo para o Comunismo
sofre um corte epistemológico espetacular. Essa realidade nova intuída como
comunismo não é outra coisa senão que o Reino de Deus. E uma vez que esta mesma
passagem também sofre o cristianismo, deixa de ser o que é para ser Reino de
Deus (ICoríntios 13.10), logo a conversão dos marxistas não será para a
Cristandade e tampouco para o Deus enformado e informado por ela, mas para o
Reino de Deus, para o Deus desconhecido que havia de vir, com um novo nome
(Apocalipse 1.4; 2.17). De modo que a conversão se dá em mão dupla, de cristãos
e marxista para o Deus Verdadeiro. Para o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. E como
a filosofia celestial endossa a visão transcendental de Pietro Ubaldi para quem
a revolução franco-burguesa e a revolução russo-socialista são partes de um
mesmo e único processo; em hipótese alguma o socialismo foi superação do
capitalismo, visão do senso comum, mas do feudalismo surgiu uma bifurcação, dum
lado o ramo do capitalismo e do outro o ramo do socialismo; e como se
manifestaram como tese e antítese, e tese e antítese quando amadurecem,
crescem, naturalmente se convergem, a se encontrar fatalmente no ponto ômega da
síntese, e o que sela este encontro e reconciliação é que no processo de
crescimento o que é acidental vai sendo descartado, ficando para trás, mas
permanecendo o que é essencial, e o que é essencial, liberdade e igualdade, é o
que verdadeiramente se encontram e se reconciliam, no Infinito, visão de Mestre
Ekhart e Nicolau de Cusa, ora, o que Adamir Gerson está querendo dizer é que em
termos de ciência essa conversão não está prometida e destinada só a um pólo da
contradição, o marxista, mas também ao pólo do capitalismo. O fato do passado,
em que aqueles que tinham propriedade vendiam-na e os valores se tornavam comum
à comunidade primitiva, a ser usado por todos, conforme a necessidade de cada
um, pela intervenção de Javé na História, isto voltará a ser uma realidade. Em
uma palavra, o final da História, o Armagedom, não é entre forças inscritas na
imanência, como muitos pensaram – soviéticos contra americanos ou agora
muçulmanos contra o ocidente, ou árabes contra Israel – mas é entre Javé e a
Serpente Original. E na vitória de Javé contra a Serpente Original então o
caminho ficou livre para a restauração do Paraíso.
Ora,
a práxis da Ditadura do Proletariado surgiu justamente para suprir o lugar vago
do cristianismo. O cristianismo foi prescindido de qualquer utilidade e removido
do caminho da libertação. Quer dizer, as imensas massas trabalhadoras estavam
destituídas da consciência do socialismo (o que levou Lênin a lançar a NEP e
adiar o socialismo). Daí esse vazio ser contornado por uma práxis que chamamos
de “Lei”, a Ditadura do Proletariado.
Em
uma palavra, se tem socialismo ESPIRITUAL e se tem socialismo Material. O
socialismo espiritual é a consciência do socialismo no espírito. É o amor que
desabrocha para com o próximo de forma natural e espontânea. Destarte, o
socialismo é uma realidade na vida da Igreja. Os membros da Igreja se
relacionam em torno do socialismo. Uma moça se apaixona por um jovem e
vice-versa e a questão social não é levada em conta. É levada em conta
unicamente a questão do socialismo. De se estar de fato ligado Naquele que faz
todos se sentirem iguais.
Mas
é um socialismo espiritual, alheio ao mundo real. Interfere nos sujeitos que
fazem parte da comunidade dos fiéis, mas não interfere nas relações objetiva da
sociedade. Em uma palavra, indivíduos socialistas vivendo em um mundo não
socialista. Praticam o socialismo com o que tem e não com o que tem a
sociedade. Desconhece a questão dos modos de produção, da luta de classe, e
etc.
Ora,
era de se esperar que o socialismo científico de Marx nascesse a partir deste
socialismo espiritual. Mesmo porque o antecessor socialismo utópico era
claramente uma transição entre o socialismo espiritual cristão e o socialismo
material marxista. O socialismo utópico era que o socialismo espiritual
ensaiava deixar o gueto e se aventurar pela sociedade, a encarar as suas
relações objetivas, as contradições de classe, e as transformar, com todo o seu
relacionamento social sendo de acordo a sua essência espiritual.
Mas,
porque o movimento se dá sempre na tríade hegeliana, tese, antítese e síntese,
a verdade é que Marx teorizou o socialismo científico numa leitura direta da
exploração capitalista. Como antítese. Não se interessou pelos cristãos que os
viu de posse de uma visão desfigurada da realidade. Não entendeu que esta visão
desfigurada era situação embrionária que trabalhada e desenvolvida ao extremo
fatalmente produziria um socialismo modificador de toda realidade social e
política. Os viu, destituído do olho dialético. Era aquilo e continuariam sendo
aquilo. Não houve a compreensão de que se fecundasse nele a visão objetiva do
socialismo eles iriam se acordar em nova figura de espírito de modo a modificar
toda ordem objetiva estabelecida.
Ora,
a verdade é que se o socialismo científico tivesse surgido como desenlace do
socialismo espiritual jamais teria havido a Ditadura do Proletariado, e a
violência revolucionária teria sido numa escala infinitamente menor. Sendo
curto, Marx não foi o espermatozóide fecundando o óvulo para o nascimento da
vida, mas foi o espermatozóide sendo construído, saindo do seu estado
rudimentar, socialismo utópico, para o seu estado acabado, socialismo
científico.
E
tinha de ser assim. Primeiro, porque o movimento do Absoluto é na tríade
hegeliana da tese, antítese e síntese. Move-se por negações e afirmações. Segundo,
para o cumprimento das profecias. As profecias apontavam para o tempo
escatológico uma punição dos ricos e dos opressores. Ora, para o seu
cumprimento se necessitava fundamentalmente da Ditadura do Proletariado e da
violência revolucionária. O nem a sua
prata e nem o seu ouro os livrará no dia da ira de Javé (Sofonias 1) iriam
ser cumpridos justamente e somente pela Ditadura do Proletariado.
Como
para tudo há um tempo debaixo dos céus, a verdade é que tem chegado o tempo do
espermatozoide fecundar o óvulo. De se construir o socialismo material a partir
do socialismo espiritual. De cristianizar-paulinizar a sociedade. Sem Paulo a
sociedade torna-se hedonista, com os espíritos entregues ao consumismo
desenfreado. E predador. Sim, tem chegado o tempo do amor ao próximo ser
despertado em todos os corações. E onde o amor ao próximo for despertado
verdadeiramente, então semear o socialismo científico, isto é, o seu núcleo
econômico resgatado do conjunto filosófico (o que acontece nas trompas de
Falópio onde o espermatozoide ao penetrar o óvulo fica sem a cauda que lhe dava
direção). Certamente nascerá um autêntico revolucionário do Reino.
Está
havendo muita dificuldade em se expor com clareza tal questão. Mas aos poucos a
sua compreensão irá aflorando.
Partamos
para um fato concreto para se compreender a contento esta questão.
No
ano de 1906 em Los Angeles, numa igreja metodista que tinha sido abandonada,
nasceu o movimento pentecostal. Ao lado do movimento comunista, o maior
movimento social do século XX. Hoje cerca de 400 milhões ao redor do mundo,
cerca de 50 milhões no Brasil.
O
movimento pentecostal foi um poderoso movimento religioso que nasceu aos pés de
Joseph William Seymour, um negro filho de ex-escravos. Começou pequeno, poucas
almas, e logo uma multidão se reunia naquele casarão que fora uma igreja
metodista. Vindo de todas as partes de Los Angeles, até mesmo de regiões
distantes dos Estados Unidos, ali se encontravam brancos e negros, pobres e
ricos, lavadeiras negras e patroas brancas, mexicanos e asiáticos. E, não obstante
estarem vivendo em uma sociedade com fortes barreiras raciais e sociais, todos
ali, na mediação de Joseph Seymour, representante de Jesus, se abraçava e se
reconheciam irmãos. Ali naquele templo todos se reconheciam iguais, e ninguém
dizia ou se sentia ser mais que outros. Ali, imperava entre eles uma absoluta
igualdade.
Como
Marx reagiria frente àquela realidade espiritual? Que ali eles encontravam um
consolo contra a realidade cruel do dia a dia. Não era uma forma de enfrentar
os problemas, mas de fugir deles.
Do
ponto de vista positivista isto é uma verdade. Ao voltar para suas casas e se
inserir novamente no cotidiano toda aquela igualdade se esfumava. E a verdade é
que Marx iria propor que eles abandonassem aquele templo e não se iludissem,
procurando construir a igualdade na subversão da ordem política e social e
instaurando no seu lugar a nova ordem do socialismo. Marx iria dizer que a
energia que gastavam naquele templo era inútil, e o que teriam de fazer era
usá-la para superar o capitalismo. Iria concluir que aqueles encontros naquele
templo religioso não se orientavam no sentido de superar o capitalismo. Logo a
sua igualdade era na verdade uma ilusão do espírito.
Aqui
se acha um confronto do socialismo celestial com o socialismo marxista. A sua
leitura do fenômeno é que ali se deu a manifestação do socialismo espiritual.
Aquela era realmente uma igualdade, não era igualdade material, mas era
igualdade espiritual. E que a construção do socialismo não se dá na razão
inversa de sua eliminação e substituição de sua práxis – exigência marxista que
enxerga e o entende uma deturpação do conceito de igualdade; uma mistificação
que encobre a exploração capitalista e é entrave à construção do socialismo – mas,
pelo contrário, a construção do socialismo tem de ser a partir daquela
experiência de igualdade espiritual. Aqueles que se abraçavam e se reconheciam
como irmãos, brancos e negros, pobres e ricos, lavadeiras negras e patroas
brancas, mexicanos e asiáticos, recebendo em seus seres a fecundação do
socialismo por certo que acabarão reconhecendo e compreendendo porque vivem em
uma sociedade em que todos são desiguais. E o socialismo por certo florescerá
neles. E não será mais socialismo, mas já Comunismo; não será mais
cristianismo, mas já Reino de Deus.
Em
uma palavra, como a vida nasce da junção dos dois gametas, o reino da igualdade
só pode nascer da junção do socialismo com o cristianismo. Da junção da
materialidade socialista com a espiritualidade cristã. Sem essa fecundação o
Marxismo pode ter sucesso, mas se tiver pela frente uma realidade
sócio-político-material que seja a feudal ou próximo dela. Onde o feudal se converteu no
capitalismo não há qualquer futuro para o Marxismo. O capitalismo, por ser uma
máquina de produção, para se sustentar cria mecanismos de distribuição. Racionaliza para sobreviver. De modo
que numa existência assim, as armas do Marxismo para a construção de uma
sociedade igualitária tornaram inócuas, perderam o sentido. É preciso nova
Teoria. E ela procurará construir o reino da igualdade não partindo do
econômico, mas do espiritual. Não do político, mas do religioso. A sociedade
que não é tão carente assim do econômico, todavia o é do espiritual; e uma vez
que ela se abriu e aceitou o espiritual as condições se acham propícias para o
socialismo. Os seus seres espiritualizados entrarão em choque e conflito com a
realidade capitalista, mesmo que seja distributivo. E no choque das idéias
compreenderão que o que satisfaz os seus espíritos, seus novos espíritos, é o
socialismo e não o capitalismo. E farão com ele o mesmo que aquelas massas
fizeram com o socialismo do Leste naquele final da década de 90. Realidade
alguma subsiste ao poder do espírito.
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