sexta-feira, 29 de julho de 2011

Segunda Parte do Livrinho - Apocalipse 10.2

Marxismo e Pentecostalismo

É verdade, a conversão dos marxistas não iria dar-se a partir de nada que surgiu do Concílio Vaticano II e nem a partir de nada que surgiu da Reforma Protestante, mas a partir de um movimento religioso, que por ter se manifestado à parte do Oficial e por ter se manifestado no meio dos pobres, ainda hoje continua tabu entre o cristianismo oficial e é pouco valorizado ou até mesmo desconhecido pelo universo acadêmico-intelectual. Adamir Gerson está falando do movimento pentecostal, que nasceu no ano de 1906 na cidade norte-americano de Los Angeles, em um casarão que metodistas construíram para ser igreja e que se achava abandonado, e tudo se dando na mediação de um pastor negro iletrado filho de ex-escravos por nome William Joseph Seymour. Que não por acaso nasceu no mesmo ano de Lênin, 1870, e viveu praticamente o mesmo tempo de Lênin, 52 anos (Lênin viveu quatro meses mais que Seymour). Aquele lampejo da paixão pelo sexo oposto, que brota no coração do jovem pela jovem que tocou seu coração, estará se manifestando no coração marxista quando ele olhar retrospectiva para aquele ano de 1906, para tudo o que se desenrolava naquele casarão situado numa rua que é conhecida por todo pentecostal, Azusa. Especialmente para aquele momento em que, em um país dominado pela segregação racial e social, então brancos e negros, ricos e pobres, asiáticos e mexicanos, lavadeiras negras e patroas brancas, se abraçavam e se reconheciam iguais perante Deus. Deveras, era que neste momento estava se dando o derramar de Deus do Socialismo Espiritual, então ele dando sequência a uma obra que começara a bem pouco, três anos antes, quando então na cidade de Londres, distante dali, do outro lado do Atlântico, derramara o Socialismo Material. Socialismo Material que ele derramara em Londres e Socialismo Espiritual que ele derramara em Los Angeles, mas que um dia, na consumação dos tempos, então ele iria trazer um ao outro, com socialismo espiritual e socialismo material se reconhecendo osso do mesmo osso e carne da mesma carne, um só espírito. E seria neste momento, e somente neste momento, que o reino da liberdade concreta, em que cada um tem segundo as suas necessidades, não as necessidades ditadas por esta ou aquela ideologia, mas por Deus no nascimento de cada um, estaria então começando a ser construído, pois que, então, fora lançada a sua verdadeira fundações. (O Reino da Liberdade Concreta não nasce tendo como fundação o material, que reserva ao espiritual a categoria de superestrutura, como é ensinado no mundo acadêmico-intelectual, mas nasce no exato momento em que o material e o espiritual são colocados em equilíbrio como fundamentos. Pois que o Reino da Liberdade Concreta é o nascimento da vida, e a vida só pode nascer da junção de dois fundamentos, gameta feminino e gameta masculino) (Será somente quando olharem para os pentecostais, com o olhar de uma nova sociologia (logicamente que também com o olhar de uma nova epistemologia, de uma nova psicologia, de uma nova gnosiologia e etc, porque tudo está mudando de estação), e verem que eles na verdade praticam um socialismo de corte espiritual, é que os marxistas se reconhecerão a si mesmos, que são na verdade o seu outro lado, que os completam e são completados por eles. Conscientizarão de que não são depositários de um socialismo substantivado senão que adjetivado. E mais, que o socialismo substantivado nasce no exato momento em que os socialismos adjetivados, material (Marx) e espiritual (Paulo) são unificados em corpo único. É o aparecimento do Reino de Deus na terra, dirão os cristãos, mas os marxistas dirão, para aquela realidade única: é o aparecimento do Comunismo! Foi exatamente isto que aconteceu com Comandante Flávio, um jovem marxista idealista de Curitiba que hoje atua em Rondônia ao lado do Movimento Camponês Corumbiara, ajudando os sem-terra a terem um pedaço de terra. Tendo convivido com um ano com pentecostais, então Comandante Flávio deixou escapar: eles praticam um socialismo primordial! O que ele chama de primordial, na nomenclatura científica do socialismo celestial é chamado simplesmente de Socialismo Espiritual, termo que se contrapõe ao Socialismo Material (no sentido em que óvulo se contrapõe ao espermatozóide).

Prosseguindo. Ora, Adamir Gerson falou qualquer coisa em que acabou ligando os acontecimentos que deram origem ao moderno movimento da esquerda mundial e ao moderno movimento pentecostal. E é certo que não só marxistas como também pentecostais ficaram sem entender, pois nunca ouviram dizer, e desconheciam por completo, que pudesse haver relação entre eles, como partes de um mesmo e único processo. (Não nos esquecendo do relato do Gênesis segundo o qual foi no momento em que Deus trouxe a mulher ao homem e este foi tocado por ela que lhe foi manifesto a consciência da distinção sexual, reconhecendo nela o seu complemento e a parte que lhe faltava).

É verdade, o movimento revolucionário da esquerda mundial, que nasceu no ano de 1903 em Londres, quando o movimento bolchevique, que se gestara no ventre moderado menchevique, fizera então o seu nascimento – na histórica votação que deu maioria a Lênin – e o movimento pentecostal, que nasceu três anos depois, em Los Angeles, depois de ser gestado no ventre moderado metodista, ora, apesar de que nenhum homem em cima da terra veio saber, eram sim partes de um mesmo e único processo, o da redenção da humanidade. Mas que primeiro iria passar pelo processo de libertação dos pobres (e aí se revela a importância de Leonardo Boff e a não-importância do Clodovis Boff de 2007).

Mas, como em Deus a libertação se desloca dos pobres para a humanidade (em Hegel o Absoluto redime primeiro a si próprio para depois redimir a inteira humanidade, com Marx concordando, apenas que no lugar do termo Absoluto colocando o termo Proletariado (Mas em Adamir Gerson surge reconciliação entre o Absoluto de Hegel e o Absoluto de Marx, assim como estão em Mateus 25.40), ora, a verdade é que quando a libertação de Deus estivesse se deslocando dos pobres para a humanidade, neste momento Deus iria fazer um retorno tanto a John Wesley como a Plekhanov. Mas este John Wesley e este Plekhanov seriam novos, novíssimos, conduzidos pelas mãos dos pobres que saíram dos lombos de Seymour, naquele ano de 1906, e dos lombos de Lênin, naquele ano de 1903. Pois quê, quando Deus liberta os pobres é para forjá-los instrumentos de libertação da inteira humanidade – e neste momento se revela a não-importância do Leonardo Boff de 2011, ainda preso ao parcialismo marxista (salvo o seu amor e a sua luta na defesa do Planeta ameaçado, embora saibamos que a luta conseqüente na sua defesa tenha de se dar muito mais no campo político e não fora dele, pois a luta ecológica expõe o problema, mas a sua solução está na luta e decisões políticas) (Talvez tenha sido esta passagem que frei Clodovis Boff tenha captado intuitivamente, e, todavia, não soube expressar, se perdendo no significado das Palavras (do chamado) e na dialeticidade do processo. Mas com certeza agora irá se encontrar, pois, deveras, tem chegado o tempo em que, segundo o profeta Isaías, TODOS SERIAM PESSOAS ENSINADAS POR JAVÉ) (Ora, o movimento pentecostal para nascer teve de percorrer certo calvário, no seu parto final. William Joseph Seymour, depois que ganhou autonomia frente a Charles Fox Parham, como o Escolhido de Deus, ao estar começando a caminhada das boas novas entre a irmandade de uma igreja Holiness (da Santidade) que havia em Los Angeles, por não concordarem com o seu Ensino, expulsaram-no. No entanto, acolhido por uma família desta igreja em sua casa, os Asbery, logo a casa de Richard Asbery se tornara pequena demais. Pois não tardou e o carisma de Seymour estava atraindo centenas, que se reuniam todas as noites naquela casa, com a imensa maioria tendo de ficar do lado de fora, interrompendo a rua. A tal ponto que conta um historiador que acorria tanta gente para a casa de Richard Asbey que certa noite foi tanto barulho e tanto gritar nos dons de línguas que a casa quase desabou. Foi então que descobriram um antigo casarão que fora construído como uma igreja metodista africana, e que, no entanto, ela fora embora com o lugar sendo ocupado por atividades comerciais. E naquele momento específico era estábulo para animais. Foi neste casarão que um dia foi igreja metodista, e que se achava abandonado, era mesmo um gueto, que finalmente se deu o parto Pentecostal, hoje cerca de quatrocentos milhões ao redor do mundo, quarenta milhões no Brasil. Mas, não podemos dizer que este parto final do Pentecostalismo foi de certa forma uma repetição do parto final do Bolchevismo, que se dera três anos antes? De fato, partidários de Lênin e de Plekhanov escolheram Bruxelas para realizarem o Segundo Encontro do Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), em julho de 1903, ocasião em que, através da maioria, iriam decidir os rumos da revolução na Rússia. Mas, em Bruxelas, as discussões entre os partidários de Lênin e de Plekhanov tornaram-se tão acaloradas que a vizinhança, não suportando mais tanto barulho no casarão, que fora enfeitado de bandeirinhas vermelhas, decidiu chamar a polícia. Que nem preciso fora, pois a polícia quando soube de sua presença na cidade começou rondar o local. Expulsos, embarcaram rumo a Londres. E contam os historiadores que as discussões entre eles prosseguiram com tal intensidade na viagem que quem olhava de longe tinha a impressão de que o navio parecia estar sendo sacudido por fortes ondas. E finalmente em Londres, no lugar onde Marx e Engels meio séculos antes tinham lançado o Manifesto Comunista, então o movimento bolchevique fez o seu nascimento, se constituindo a parte, independente, um movimento com identidade própria, assim como três anos depois tal foi acontecer com o movimento pentecostal ao se desligar do protestantismo, onde fora gestado, se constituindo a parte, um movimento independente, com identidade própria.

O Petismo e o Socialismo Celestial

Quão diferente é o petismo do socialismo celestial! Jovens foram vistos nos corredores da Unesp de Presidente Prudente com uma cartilha debaixo do braço sobre Plekhanov lançada por intelectuais do PT. A julgar pelo Professor Adão Peixoto – no começo da década de 90, professor de filosofia nesta instituição de ensino e à época dirigente do PT – que analisando o que estava acabando de acontecer com os governos socialistas do Leste europeu, disse que o único responsável pela sua queda foi o próprio Lênin que no seu entender queimou e abortou as etapas que dariam amadurecimento e independência política aos trabalhadores, deixando-os a mercê de decisões que seriam tomadas por terceiros em seu nome. De modo que se entende claro que para professor Adão Peixoto a revolução teria de continuar nas mãos de Plekhanov, dos mencheviques, e nunca ter-se passado para as mãos de Lênin, para as mãos dos bolcheviques.

Ora, o socialismo celestial diz coisa diferente. Que o desenvolvimento apontado por Plekhanov não era nunca preparação para o socialismo, mas o seu afastamento (que diga a baixa politização em lugares onde o capitalismo e as forças produtivas se desenvolveram. Cada qual acha que as condições ajudam a lutar pelos seus interesses imediatos e pessoais, a ascensão social e não a coletiva toma o seu querer e o seu mover, com eles passando a fazer com partes da cultura burguesa também o seu viver).

Quer dizer, é afastamento a partir do momento em que se entende o socialismo sendo alma no corpo do Marxismo se expressando por intermédio dele, que acaba por ser afastamento do socialismo porque é afastamento do Marxismo. De modo que, contrariando lógica do professor Adão Peixoto e do próprio Plekhanov, a verdade é que quanto mais uma sociedade com fortes feições feudais se desenvolvesse, mais e mais ela tenderia a se afastar do Marxismo, pois que o Marxismo é um sistema científico, todavia recheado de ideologia (ciência é aceita por muitos, ideologia, por uns). Quando os trabalhadores se desenvolvem, porque não tem uma gênese cultural comum aos teóricos do marxismo e da revolução, acabam entrando em choque cultural com ele procurando desenvolver uma alternativa; que, por falta de teórico conseqüente, nunca vem, com eles acabando se conformando com um capitalismo menos opressivo. Portanto, somente no advento do socialismo celestial é que tal equação seria resolvida, a este separar nele ciência e ideologia, deixando a sua ideologia com a ortodoxia, todavia presenteando as massas, sedentas de justiça e paz, com a sua ciência.

Então a leitura do socialismo celestial é que o socialismo começou a nascer no exato momento em que Lênin rompeu com Plekhanov, pois que as condições objetivas de, então, favoreciam o seu nascimento. Eram propícias a ele. Sem contar que os vaticínios bíblicos sobre a revolução apontavam a sua ocorrência para exatamente quando se manifestassem estas condições objetivas peculiares. E se alguns anos depois ele veio a cair a razões são inteiramente outras. Caiu, não porque abortou etapas, mas porque esgotou etapas (amadureceu espíritos no fogo da revolução e das suas transformações sociais preparando-os para novos saltos em sua existência), necessário a que o socialismo fosse construído na acepção de Plekhanov (na sua forma, mas com outro conteúdo). De modo que este Plekhanov que retorna não é o pobre e a priori que anda nas mãos de intelectuais do PT (querendo blindar e justificar filosoficamente o inesperado rumo político que tomou), que praguejam Lênin e amaldiçoam Stálin, mas é outro, a posteriori, que se alienou de si para enriquecer-se em Lênin, e voltar, inteiramente outro, a tal ponto que diz: Naqueles dias e naquelas condições eu estava errado e Lênin, certo. Lênin modificou-me inteiramente. Fez-me conhecer melhor a psicologia humana e os caminhos e descaminhos da história. Então este Plekhanov novo que surge não pode nem mesmo ser chamado de Plekhanov, porque a sua relação com ele é a mesma do fruto maduro para o fruto verde. Um ser inteiramente novo, como Jesus foi inteiramente novo frente a Moisés.

Lula, a Bola da Vez

O rompimento de Lênin frente à Plekhanov é da mesma essência do rompimento de Marx frente à Proudhon e de Stálin frente a Trotsky. E a consumação do processo, no seu quarto nível, se dará agora no rompimento revolucionário do operário do ABC paulista Adamir Gerson frente ao operário do ABC paulista Lula Inácio. Mais uma vez a luz da aurora dará lugar à luz do meio-dia, que clareando tudo, nada resiste à sua força. Destarte, as sombras que se move na parede da caverna platônica mais uma vez irão dar lugar às coisas reais e verdadeiras que se movem fora. (Este fora pode ter muitos significados, mas nada se compara com o fora da metafísica, lugar onde as coisas reais são gestadas e chegam à imanência por iluminação agostiniana. Na acepção de Marx a revolução iria ocorrer nos lugares onde houvesse maior desenvolvimento das forças produtivas; mas, donde veio o leninismo, contrariando lógica de gigantes? Se no marxismo não estava é porque veio de fora, foi exterior a ele. E este fora só poder ser a metafísica).

É verdade, os dois pés sobre os quais se apóia e se move a revolução – que por causa do pecado original estão presentes, e são necessários na confecção do conhecimento verdadeiro, no encontrar do caminho que conduz aos objetivos (logo os dois pés estão inseridos na mesma unidade, partes do mesmo processo. É que o Absoluto quando esgota todas as possibilidades e chega à conclusão que no caminho não está o que procura, então rompe com ele, se desfaz, defenestra-o, e dá meia-volta, criando um caminho inteiramente novo, aparentemente começando do zero (logicamente que não, porque é a partir do erro anterior revelado pela experiência). Foi o que aconteceu com Marx frente à Proudhon, com Lênin frente à Plekhanov e com Stálin frente a Trotsky) (Este par, no plano da transcendência, é o mesmo sujeito, mas também no plano da imanência, porque partidários do socialismo utópico se convenceram de que o caminho a seguir era o trazido por Marx e não o apontado por Proudhon, rompendo com ele, o mesmo se dizendo com os mencheviques que naquele final de 17 se passaram para o lado de Lênin e dos partidários da revolução conseqüente, pois que se conscientizaram de que a revolução, nas mãos em que estava, não tinha como prosseguir, mas que prosseguiria seguindo as diretrizes traçadas e apontadas por Lênin. E tudo voltou a acontecer com Stálin frente a Trotsky quando os revolucionários reconheceram que a revolução mundial, naquelas condições de precariedade, não tinha como se sustentar, rompendo com Trotsky e indo para o lado de Stálin, pois ele colocou como responsabilidade primeira dos revolucionários a construção do socialismo onde ele já tinha triunfado (e certamente que na mesma teia de raciocínio muitos vão argumentar: Lula Inácio é o cara do Obama, mas Adamir Gerson é o cara de Jesus Cristo (Apocalipse 11.15). Porque o homem de Deus José Carlos gc2912, Petrópolis, eleitor de Marina Silva, disse a respeito de Adamir Gerson: esse é o cara! Palavras que usou reagindo a um trabalho onde Adamir Gerson aborda a questão penitenciaria e judicial em nova perspectiva, sintética, que atende tanto aos interesses dos presos enquanto seres humanos como aos interesses da sociedade, protege tanto o preso como a sociedade. (Ora, se há, contudo, aqueles que continuaram seguindo Proudhon, Kerensky e Trotsky crendo piamente naquilo é por causa da Serpente Original, que perdeu uma batalha, não, porém, a guerra (só iria perder a guerra no seu choque final com o Filho do homem vindo com poder e grande glória, Apocalipse 20). E ela isola aspectos verdadeiros, separa-os, e através dele vai continuar a sua luta. Isolado de contexto, a revolução mundial preconizada por Trotsky era tudo o que os revolucionários queriam. Mas no contexto era tudo que tinham de evitar, pois, deveras, havia uma cascavel no caminho com o bote armado esperando a sua passagem. Prosseguindo. Pois é, a revolução, na sua marcha inexorável, depois dos pés de Marx, Lênin e Stálin transcenderam os pés de Proudhon, Plekhanov e Trotsky – os pés que agem transcenderem os pés que conversam, o acerto transcender o erro – agora chegou o tempo de ela dar novo salto de qualidade, com a condução do bastão revolucionário saindo agora de Lula e indo para Adamir Gerson. Mas agora, porque o absoluto hegeliano entrou em existência sintético-adulta (deixou para trás a sua existência adolescente-antitética), imprimindo espírito adulto e de reconciliação aos vetores que fazem o devir histórico, e surge o “espelho histórico”, que trás a oportunidade ímpar de personagens presentes conhecerem a si mesmos, não pelo que diz de si e nem pelo que dizem dele, mas através de fatos e personagens do passado – a título de exemplo, os intelectuais do PT olham no espelho histórico interpolado entre eles e se reconhecem os mesmos mencheviques que vieram a estar no poder. Nem mais nem menos. Olham na aliança política construída por Lula e reconhecem nela a mesma aliança política construída por Kerensky. Nem mais nem menos. Olham em Adamir Gerson e se lembra da chegada de Lênin na estação Finlândia... Mas, que um aprofundamento teológico leva o interlocutor a olhar retrospectivamente para bem mais longe, para aquele momento em que Jesus, querendo prefigurar de como seria a sua volta, então entrou triunfalmente em Jerusalém montado em uma jumentinha, com a multidão lançando à sua passagem peças de roupas e galhos de árvores, e dizendo: Bendito o que vem em nome do Senhor! (E a volta de Jesus é tão somente que a sua obra, toda a sua obra ao longo dos tempos, aparece junto em um só feixe. Foi por isso que vaticinou o profeta Zacarias: E Javé, meu Deus, certamente que chegará estando com ele todos os santos. Todos os santos foram responsáveis por uma obra de Jesus ao longo dos tempos).

Pois é, como agora a Razão Universal adentrou a sua existência adulta, o que hegelianamente quer dizer que o espírito do tempo se manifesta agora em nova figura, em nova figura histórica, e agora trazendo o selo da reconciliação, a tal ponto que nada que não se ajustar a este seu novo perfil será por ela anatematizado (é o tempo dos pacificadores de que falou Jesus, o tempo do feminino, do feminino cantado pelo Gilberto Gil – que nada, minha porção mulher, que até então se resguardara, é a porção melhor que em mim trago agora, e que me faz viver), ora, a verdade é que Lula mais uma vez se revelará um sujeito de sorte. Pois deveras nada do que alcançou Proudhon, nada do que alcançou Plekhanov e nada do que alcançou Trotsky alcançará Lula. Porque a Razão Universal está hoje “paz e amor”, descansando das responsabilidades em que em um mundo de brutos teve de agir como bruto. (Certamente que no panteísmo hegeliano este mundo de brutos é a própria Razão Universal, não existindo fora de si senão que é ela mesma. Pois que é o espírito do tempo realizando o tempo do espírito e é o tempo do espírito realizando o espírito do tempo, espírito do tempo e tempo do espírito que é a própria Razão Universal. Mas agora não é ocasião para se tratar deste assunto em pormenores).

É verdade, Lula não terá diante de si aquele Moisés que desceu do monte e se indignou; irado triturando o bezerro de ouro e passando ao fio da espada três mil que pulavam e dançavam diante dele e diziam: ó Israel, este é o Deus que te fez sair do Egito! Mas Lula terá diante de si Àquele que no caminho de Damasco reluziu a sua luz sobre Saulo de Tarso e o derrubou do cavalo, fazendo dele um novo homem, que deixou de estar a serviço de forças mortas para estar a serviço da vida.

Voltando ao Foco Pentecostalismo – Marxismo

Bem, na verdade o movimento pentecostal e o movimento comunista tiveram um nascimento idêntico, ao menos quanto à forma, em virtude de profecia concebida no Velho Testamento, por Isaías, e reforçada no Novo Testamento, pelo apóstolo Tiago.

De fato, o profeta Isaías, tomando os acontecimentos do Êxodo, então o projetou para o futuro. Um novo êxodo iria acontecer, com um novo Moisés. (O Relato analógico de Mateus sobre a volta de Moisés de Midiã para o Egito e a volta de Jesus do Egito para Israel não pode se encaixar neste vaticínio isaítico. De fato, a volta de Jesus não repete pura e simples a volta de Moisés. Não é um acontecimento que caminha paralelo, mas sim um acontecimento que o transcende. A volta de Moisés foi para conduzir um povo para Canaã, do corruptível para o corruptível, mas a de Jesus seria uma nova caminhada, do corruptível para o incorruptível, de Canaã para uma nova Canaã, a Celestial. De onde Moisés parou é de onde Jesus iniciava a sua caminhada. Quando compreendemos a caminhada do proletariado rumo ao socialismo, esta sim paralela ao êxodo israelita, é que compreendemos este vaticínio do profeta Isaías).

Prosseguindo. Vejamos, pois, o que nos legou Isaías: Naquele dia virá a haver um altar a Javé na terra do Egito, e uma coluna a Javé ao lado do seu termo. E terá de mostrar ser como sinal e como testemunha para Javé dos exércitos na terra do Egito; pois clamarão a Javé por causa dos opressores, e ele lhes enviará um salvador, sim, alguém grandioso, que realmente os livrará, 19.19-20.

O grande vaticínio de Tiago, que teólogos da Teologia da Libertação e marxistas com conhecimento da Palavra de Deus tomam como tendo sido uma profecia da revolução proletária, que naquele ano de 1917 destronou os poderosos do poder e fez recair misérias sobre os ricos, com eles sendo despedidos de mãos vazias e as suas riquezas indo saciar os humildes, ora, com certeza, absoluta certeza, Tiago concebeu seu vaticínio a partir do vaticínio de Isaías (19.19-20), assim como os vaticínios de Jesus constante em Mateus 21.43 foram a partir de Isaías 65. Uma análise hermenêutico-exegética assim o dirá. A diferença que se observa é que Tiago enriquece (explícita o que está potência em Isaías) de sociologia e de política o texto de Isaías. Tiago fornece as causas porque os pobres clamariam a Deus: os opressores não estavam lhes pagando segundo o que tinham direito. Daí estarem em sofrimento, ao passo que aqueles que se apoderavam do produto de seu trabalho estavam vivendo em luxo e entregues ao prazer sensual, como diz Tiago.

Ora, como as profecias se cumprem ao tempo devido, a verdade é que naquele início primeiro do século XX, Deus, vendo o sofrimento dos pobres na terra inteira, que já fora registrado por Marx no ano de 1844, no livro Manuscritos Econômico-Filosóficos, a verdade é que o mesmo Deus que ouviu o clamor do seu povo no Egito e lhes enviou Moisés portando a sua libertação, vai novamente intervir. E como o sofrimento dos pobres se dava em duas mãos, a opressão material, mas também a opressão espiritual; clamavam a Deus contra o peso do Egito sobre seus corpos, mas também contra o peso de Sodoma sobre suas almas, a libertação de Deus para eles iria ser total, absoluta. Deus iria mesmo fazê-los se sentar debaixo de sua videira, mas também debaixo de sua figueira, não havendo mais nada que os fizesse tremer, como foram as palavras que colocou na boca do profeta Miquéias (4.4).

E como o mover de Deus se dá na tríade hegeliana, tese, antítese e síntese, criando a antítese apartada e aparentemente sem qualquer ligação com a tese, todavia os reunificando na síntese, eis a razão porque naquele início do século XX nasceram os dois maiores movimentos sociais dos tempos modernos, o comunista e o pentecostal. Fora na verdade Deus respondendo ao clamor dos oprimidos. Mais tarde, na plenitude dos tempos escatológicos, então Deus iria realizar o seu momento de síntese, ocasião em que o povo marxista e o povo pentecostal iriam se reconhecer osso do mesmo osso e carne da mesma carne, um só espírito. Iriam descobrir que as suas ações, distantes uma da outra e com motivos distintos, aos olhos positivistas (da letra) sem qualquer relação entre si, na verdade elas estavam libertando os pobres de todo o seu sofrimento, quer o sofrimento material quer o sofrimento espiritual, e os conduzindo seguramente para a Nova Jerusalém. E neste momento, quando todas estas coisas estivessem acontecendo, nascendo o verdadeiro socialismo (que não é outro senão aquele conhece a ressurreição), que se levanta a partir do alicerce da religião e não contra ela, que preparou os corações, transformou odres velhos, cheios de egoísmo, e de intriga, e de inveja, e de ira, e de cobiça, e de contenda, em odres novos, para que o vinho novo do socialismo tivesse, então, realmente onde se abrigar, ora, a verdade é que neste momento as massas, nas ruas de Belém do Pará, nas ruas de Londrina, nas ruas de Presidente Prudente, não cessariam de cantar, com o rei Roberto Carlos: Essa luz é Jesus! Essa luz só pode ser Jesus! (E lá no Oriente Médio, analistas atentos, com os olhos do Espírito, se perguntarão: toda essa revolta que varreu os países árabes não eram na verdade que a força transcendente estava preparando os nossos corações para a chegada de Isaque, que sem sabermos era Madhi que aguardávamos? Destarte, o tempo de Ismael já não se esgotou em nós, com nós tendo de preparar as nossas casas para um novo existir e um novo caminhar? As notícias que estamos ouvindo do Brasil, não dizem respeito a nós também? Porque elas estão dizendo que toda a revolta que varreu os países socialistas no final da década de 80 é que na verdade se esgotou neles a sua existência de Esaú; e que após a partida de Esaú, eles iriam viver o nome tempo de Jacó, um socialismo ligado na transcendência: Ora, isto também não diz respeito a nós? Essa revolta que varre os países árabes não se assemelha à revolta que varreu os governos socialistas?).

Jacó e Esaú

O fato do movimento comunista e o movimento pentecostal terem nascidos em tempo igual e os seus dois criadores terem nascidos no mesmo ano e vivido o mesmo tempo de vida, sim, o fato de tanto o movimento comunista como o movimento pentecostal terem se lançado na libertação dos pobres, apenas que com intenção e motivo diferente, um de posse da sociologia espiritual e outro de posse da sociologia material, com a sociologia espiritual preparando ação e se engalfinhando contra os pecados da carne e a sociologia material preparando ação e se engalfinhando contra os pecados do dinheiro, ora, não se pode dizer que na verdade o que ocorreu naquele início do século XX foi que se deu o parto de Rebeca Espiritual? O que aconteceu de fato foi que veio haver gêmeos no seu ventre, com o movimento comunista representando Esaú, ao passo que o movimento pentecostal, Jacó?

É verdade, o socialismo iria realmente se manifestar em dois momentos distintos, um que traria o imperfeito e outro que traria o Perfeito. O imperfeito nasceria primeiro, mas depois daria lugar ao Perfeito. E o que iria os distinguir, basicamente, é que o imperfeito seria imperfeito porque nasceria desligado de religião e de transcendência, entendendo o Homem como sendo produto de si mesmo e responsável e dono de seu próprio destino, ao passo que o Perfeito iria nascer ligado a Religião e entendendo o Homem corpo da Transcendência e co-responsável e co-participante da luta de libertação. Um novo socialismo, novíssimo, que os marxistas, para não ganhar a pecha de Saulo de Tarso, iriam ter de lançar mão do Espelho Histórico para compreendê-lo e compreender a si mesmo, se situando no tempo e no espaço.

Então Adamir Gerson acabou de dizer que Jacó representou o Perfeito e Esaú, o imperfeito? Que o movimento pentecostal representa o Perfeito, ao passo que o movimento marxista, o imperfeito? Que isto nunca aconteça!

O que foi dito é que o verdadeiro socialismo, o Perfeito, começaria a ser construído a partir do movimento pentecostal, da espiritualidade que enforma o seu tecido e que não há como negar: é a mesma que Jesus tirou de si no caminho de Damasco e a plasmou no espírito de Saulo de Tarso. O que significa dizer que os pentecostais são novos pentecostais (não confundir com neopentecostalismo, que é a sua negação. Para fazer frente ao neopentecostalismo, talvez este novo pentecostal deva ser chamado simplesmente de pentecosocialismo), Pois que não se acha mais no patamar e existência do Jacó amado por Rebeca, mas do Jacó amado por Deus. Aquele novo Jacó, que reconheceu em Esaú o seu irmão e viu a sua face como tendo visto a face de Deus, os dois sendo portadores de riqueza.

Portanto um novo Pentecostalismo, que reconhece no Marxismo o seu irmão Esaú, e sabe que para retornar na sua terra natal chamada Jesus tem de ir ao seu encontro, e reconhecer nele a sua essência divina, e com a sua essência divina, a igualdade social, se pôr então a construir o Reino de Deus. Não re-construir o socialismo, mas a partir do socialismo, da sua essência verdadeira, então construir o reino de Deus.

E vale a recíproca, pois quando os marxistas olharem para o movimento religioso que nasceu no casarão metodista naquele ano de 1906 é então que conhecerão e reconhecerão os seus limites, mas também a sua eternidade. E ser-se neste momento que estarão entrando em processo de ressurreição, para se levantar em corpo novo, novíssimo, o corpo do judeu Marx que pela morte do socialismo se levantou em corpo de Jesus Cristo, e agora o socialismo principiando a atrair todos a si. Destarte, na reconciliação de pentecostais e marxistas é Isaque que se manifesta.

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