sexta-feira, 23 de março de 2012

Comunismo de Jesus

A Questão do Comunismo de Jesus
Nas disputas sobre até que ponto Jesus foi ou pode ser computado como comunista tem surgido ponderações que reduz o seu comunismo ao plano dos inúmeros socialismos utópicos que se manifestaram ao longo da história, desde Platão até Proudhon.

E estas ponderações partem do seguinte pressuposto: o que caracterizam os socialismos utópicos é que os mesmos foram construções teóricas, ou mesmo práticas, todavia concebidos sem que as condições objetivas DE SUA EXEQUIBILIDADE estivessem reunidas. Não havia uma indústria desenvolvida, e não havia um proletariado que pudesse responder aos estímulos revolucionários. Fora destas condições objetivas qualquer comunismo, incluso o de Jesus, seria utópico, sem condições de vingar na História.

Este juízo é verdadeiro, basta ver que quando estas condições objetivas se manifestaram, a grande indústria, expansão mercantilista e monetária, proletariado, então estas condições objetivas engendraram a sua resposta, no caso o socialismo científico de Marx (é certo que todas as variedades de materialismo afirmam que estas condições objetivas “engendraram”, mas nós que estamos na filosofia celestial dizemos coisa diferente, que estas condições objetivas foram ocasião para a ação do Espírito, do ato criador, assim como o inverno não engendra a gripe senão que cria as condições para a ação virótica. Mas agora não é ocasião para se abordar tal assunto).

Prosseguindo. Bem, o que queremos com estas poucas palavras é mostrar que o comunismo de Jesus e dos profetas de Israel se não pertenciam ao científico também não podem ser computados como pertencentes aos utópicos. Pertencem a outra categoria de comunismo. E que categoria é esta? Comunismo profético!

O comunismo profético tende a colocar seus autores em patamar muito mais elevado, mais elevado que o utópico e mais elevado até mesmo que o científico. Porque o comunismo profético pressupõe que o autor entrou na corrente sanguínea da História e pode ver todos os seus acontecimentos. Viu-os acontecendo, ou os presenciou, mas no futuro. E no futuro porque o mesmo iria ser resultado de determinadas condições históricas, presentes, é verdade, mas em potência que futuramente iria se manifestar em ato.

Por isso mesmo Jesus e os profetas de Israel puderam falar sobre a realidade futura do socialismo. Não utilizaram as terminologias modernas porque estas são destas e não daquela época, mas usaram terminologias dos seus dias.

Vejamos o profeta Isaías. Para Isaías o reino de Moabe significava opressão. Por isso, na corrente sanguínea da História, divisando o desencadear dos seus momentos, ao ter diante de si o advento futuro do comunismo, utilizou as terminologias de Moabe para descrevê-lo, como arquétipo. O comunismo iria se estabelecer na força de um tufão devastador, e os que o sofreriam encarnaram a mesma destruição passada de Moabe ou a reviveram na carne. Assim, pois, Moabe lhes emprestou os fundamentos tipológicos.
Vejamos o vaticínio de Isaías a respeito: “(...) Porque o opressor chegou ao seu fim. Deu-se cabo na terra dos que pisam os outros. E ao descrever o fim repentino do reino opressor tipificado em Moabe então Isaías trás o reino que é sua negação e que irá ocupar o seu lugar: “E certamente se estabelecerá firmemente um trono em benevolência; e um terá de assentar nele em veracidade na tenda de Davi, julgando e buscando o juízo, e diligente na justiça.” (Do mesmo Isaías: Pois ele pôs abaixo os que habitavam na altura, na vila elevada. Ele a rebaixa, ele a rebaixa até a terra; ele a trás em contato com o pó. O pé a pisará, os pés do atribulado, as pisadas dos de condição humilde. Ainda do mesmo Isaías: Eis que o verdadeiro Senhor, Javé dos exércitos, está truncando galhos com terrível estrondo; e os que cresceram altos, estão sendo cortados, e os próprios eminentes ficam rebaixados (26.5-6; 10.33).

E o que dizer de Jesus? Ora, na parábola de Mateus 20 encontramos Jesus concebendo profeticamente o comunismo. Jesus está vivendo uma situação e uma época histórica escravagista, mas sabe que ela não durará para sempre. E Jesus vasculha a história futura e vê o momento em que o reino escravagista é subvertido e o seu lugar ocupado pelo comunismo. O comunismo iria chegar, e Jesus utilizou terminologias do seu dia para descrever este reino futuro.

E ele começa assim dizendo sobre este futuro: assim se assemelha o reino dos céus. E lançando mão de uma linguagem popular, corrente, se põe a explicar como é este reino dos céus. Um dono de casa que saiu cedo para contratar trabalhadores para o seu vinhedo, naquele dia, em horas diferentes, tendo contratado a muitos e os mandado ao trabalho. E ao final da jornada, no momento de efetuar o pagamento, então todos receberam o mesmo pagamento, um denário, tanto aqueles que trabalharam o dia todo como os trabalhadores da última hora. Fez o pagamento, não segundo o trabalho de cada um, mas segundo as necessidades de cada um, que a rigor eram as mesmas. (No livro Fidel e a Religião, Fidel Castro comenta com Frei Beto esta parábola de Mateus 20. E diz que Jesus aparece nela adiantado em relação aos marxistas, que ainda lutando para o triunfo do socialismo, ao passo que Jesus já estava no estágio superior do comunismo, que, diferentemente do socialismo, onde se ganha segundo a sua capacidade, no comunismo se ganha segundo as suas necessidades. E só podemos dar parabéns para Fidel Castro, um espírito de luz).

2 comentários:

  1. Adamir: hoje mandei um projeto para a Funarte pensando em escrever a peça inspirada no Reinado. Se der certo, representarei a peça e colocarei um conteúdo ligado ao socialismo celestial.

    Minha ideia é que Nossa Senhora do Rosário/Iemanjá só saia do mar quando Eva se encontrar com Adão, ou seja, quando o socialismo celestial chegar.

    Abs do Lúcio Jr.

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  2. A Cézar o que é de Cézar, A DEUS o que é de DEUS!

    À Política o que é política, à filosofia o que é filosofia e à Religião o que é RELIGIÃO!

    À matéria o que é material, ao espírito o que é ESPIRITUAL!

    Não se misture CRISTO à Marx, não sob pena de desmerecer a um ou a outro, mas sob pena de desmerecer a si mesmo!

    Um queria a igualdade entre os homens pelo poder do amor e da solidariedade, ciente de que essa seria consequência natural do amadurecimento do espírito humano; o outro pregava a igualdade entre os homens pelo poder da força, desprezando e negando a existência do espírito humano que, se nem sequer existe, naturalmente nunca amadurece ou se eleva.

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