quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Nova Lei dos Três Estados

A Nova Lei dos Três Estados

Cecília: sabemos que quando a criança deixa esta sua existência e entra na nova existência adolescente tudo muda em sua vida. Ela efetua em sua vida uma verdadeira virada antropológica. O seu passado de infância, quando o seu ser vivia a dependência, agora há uma mudança da água pro vinho, ela vai começar a construir a sua liberdade, o seu próprio destino. Começa a sentir que é responsável por si e que o seu futuro depende dela mesma.


Na nova existência adolescente o sujeito suprime seu passado de infância, e o submete, colocando-o como cauda e não mais como cabeça.


Mas, o ser adolescente, como o infante, não possui um fim em si mesmo. Ele também está passando. De fato, nos choques e entrechoques, cada vez mais se desvencilhando e se libertando do seu passado de infância, ora, ao ir esgotando as possibilidades e potencialidades do ser adolescente, ele começa a entrar em nova existência, a adulta.


Destarte, na sua existência infantil ele construíra, pela experiência, o conceito de dependência; na sua existência adolescente construirá, pela experiência, o conceito de independência; e agora, na sua existência adulta, pela experiência, ele construirá o conceito da interdependência, que não é outra coisa senão os conceitos de dependência e de independência girando em torno deste sujeito, os utilizando no dia a dia de sua existência, conforme a sua necessidade, deste ou daquele.


Cecília, pois bem, sabemos de que como Comte, na sua Lei dos Três Estados, descreve esta passagem do sujeito infante para o sujeito adolescente: é um processo que vai do simples para o complexo. O sujeito adolescente deixou para trás o seu passado infante em prol de uma existência muito mais rica e muito mais cheia de significados, que por sua vez foi deixado para trás pelo aparecimento da existência adulta, muito mais rica e muito mais cheia de significados.


Assim, na visão comteana, o sujeito estaria metido em um processo de evolução, em que cada momento que surge é muito mais rico e supera seu momento anterior, deixando-o para sempre para trás, até que o indivíduo adquire a plena maturidade no estado adulto.


Mas, isto é verdadeiro? É verdadeiro este esquema comteano? É assim que o espírito se forma? Que o espírito passa por estes três momentos, um em sequência ao outro, é fora de dúvida. Primeiro o espírito tem existência no estágio infante, depois passa pelo estágio adolescente, e finalmente chega ao estágio adulto.


Mas, o que está errado no esquema de Comte, na sua Lei dos Três Estados, que tem sido a responsável maior no caos intelectual, é o juízo de valor estabelecido.


De fato, sim, de fato e a rigor, o sujeito adolescente não é superação do sujeito infante, como é lógica que esteve não só no sistema positivista de August Comte como ainda hoje é lógica no sistema do Materialismo Dialético, mas na verdade o sujeito adolescente É NEGAÇÃO! Negação sim, no entanto superação, não. Definitivamente não.


Cecília: precisamos ter claro o que quer dizer negação na acepção dialético-filosófica. Negação quer dizer simplesmente A OUTRA FACE do mesmo conceito-realidade. O conceito (Idéia) se acha em movimento, e este movimento não é linear, mas, sim, é de rotação dentro da translação. E na rotação ele manifesta um lado, que Hegel chama de tese, estando oculto o outro lado; depois, num segundo momento, manifesta o lado que então estava oculto, que Hegel chama de antítese, com o lado então claro ficando agora no oculto. E quanto à translação em si ela cuida em dar visibilidade a todos estes fenômenos em seu ventre, mostrando o processo nas suas diferentes partes e fases, por fim relacionando-os entre si de forma harmônica e holística.


Se é assim, como de fato é assim, como então se forma o sujeito adulto, sujeito adulto este que apesar de declamado no sistema de Comte e até mesmo no Materialismo Dialético, há indícios claros de que não tivemos a sua manifestação? Como se forma mesmo o sujeito adulto? Na superação do sujeito infante, e por extensão também do sujeito adolescente, como aparece de forma clara no sistema de Comte? Que isto nunca aconteça!


De fato, o sujeito adulto não é outra coisa senão o resultado dos dois momentos anteriores. Ele é o resultado da soma exata em corpo único dos momentos infante e adolescente.


Destarte, o coração desligado da razão do sujeito infante e a razão desligada do coração do sujeito adolescente se manifestam juntos, em um só feixe de compreensão e ação. No adulto coração e razão re-ligam (porque na Idéia, no plano da transcendência, estava junto, conhecendo a separação no plano da imanência, ao Espírito alienar-se de si para retornar a si, todavia voltando a estar junto, e agora no plano histórico. O Espírito encontra a si mesmo, reconcilia consigo mesmo, no plano histórico).


E como mudou a visão de mundo do sujeito adulto em relação ao sujeito adolescente! As pedras no tabuleiro foram completamente mudadas!


Cecília, tudo o que foi exposto foi o estabelecimento de uma hermenêutica (tipologia) para melhor compreender o marxismo. Afinal estamos na Arena Marx e Guilherme definiu bem o porquê de arena. Lugar de luta, de briga, de disputa.


De fato, o Marxismo deva ser visto e compreendido como o momento adolescente do Espírito. De modo que só nos resta a afirmação peremptória: o Marxismo não é superação fenomenológica da fase infante da História. Negação sim, superação não!


Se o Marxismo representa o momento adolescente do Absoluto, o que isto de positivo nos trás? A afirmação de que o Marxismo não é um ser completo senão que parte de um ser completo. O Marxismo não é um ser, mas um gameta! Um gameta que se manifestou em negação a outro gameta.


É isto que a Arena Marx tem de discutir! Não ficar apenas repetindo chavões e criar coisas novas que é novo somente no nome, como ocorre com todos os agrupamentos novos da esquerda.


Ora, o Marxismo concebeu a religião como fenômeno da superestrutura, portanto a religião não tem existência própria e independente senão que é parte do conjunto da obra ideológica. È das armas dos dominadores. E o Marxismo inclui o próprio cristianismo, para quem o mesmo veio ao mundo para ajudar a família dos opressores. Mas, o Cristianismo deva ser visto assim, fenômeno da superestrutura?


Antes de prosseguir, e ganhar tempo, devo dizer que a manifestação da Escola de Frankfurt, movimentos de judeus marxistas que passou a questionar o Marxismo em muitas das suas afirmações, um dos seus luminares, Ernst Bloch, trouxe um esquema que já é um tanto diferente do esquema marxista. Se Marx apresentou a relação do socialismo com o cristianismo como infra-estrutura e superestrutura, desse modo o cristianismo sendo apenas apêndice ideológico, como Ernst Bloch apresentou a sua relação? Para Ernst Bloch o Cristianismo deva ser visto como sonho de juventude do socialismo. Trata-se de um e mesmo ser, apenas que o Cristianismo recebeu a fecundação da ciência; daí ter se convertido em instância capaz realmente de libertar e de salvar, armas redentoristas estas que estão, pois, no socialismo.


Apesar de que o Cristianismo já foi melhore avaliado em Ernst Bloch, era tão somente o socialismo que ainda não tinha experimentado a ciência em sua existência, todavia quando o Espírito entrar em sua existência adulta (a Escola de Frankfurt não é esta existência adulta do Espírito, mas já é transição para ela) a relação entre cristianismo e socialismo será inteiramente outra. Não é superestrutura da infra-estrutura, e também não é sonho de juventude, mas é simplesmente e tão somente COMPLEMENTO! O Cristianismo, concebido na fase infanta-teológica da História, e o socialismo, concebido na fase adolescente-antropológica da História, a sua soma exata é que forma o reino da perfeição, sim, o reino da liberdade concreta em que cada um tem segundo as suas necessidades.


Cecília: estamos falando em termos de númeno, da coisa em si. Estamos falando sobre a essência do Cristianismo, o que ele é em si mesmo. Certamente que quando você toma a Cristandade então o esquema do Marxismo tem a sua razão de ser. A Cristandade realmente construiu uma história ao longo dos anos que não faz dela nem mesmo sonho de juventude do socialismo, mas, sim, uma ideologia a serviço da infra-estrutura.


E podemos dizer que este juízo altamente negativo do Cristianismo assim como é expresso pelo Materialismo Dialético tem bases bíblicas. A Bíblia também o diz. Há indícios claros de que as duas irmãs do livro do profeta Ezequiel, Oolá e Oolibá, sejam arquétipos, tipos, da Cristandade. Quando é dito: e o dragão deu à besta seu poder e grande autoridade, devemos entender este como o início da Cristandade, e quando é dito: e vi outra besta ascender da terra, e ela tinha dois chifres semelhantes aos dum cordeiro, mas começou a falar como dragão (Apocalipse 13; Ezequiel 23), devemos, pois, entender este como a continuação da Cristandade. E a descrição que Ezequiel dá das duas irmãs confirma toda a Cristandade, braços espirituais dos sistemas de dominação.


Neste sentido Marx deva ser visto como preparador para a ação escatológica de Deus. Vaticinou o profeta Sofonias sobre a ação escatológica de Deus, e o que vaticinou? O Dia em que Deus derramaria a sua ira. E pelas descrições de Sofonias entendemos que esta Ira de Deus seria derramada sobre a Cristandade, pois quê: seria derramada contra os sacerdotes, todos os sacerdotes, tanto sobre os sacerdotes de deuses estrangeiros como sobre os sacerdotes; contra os filhos do rei, contra os príncipes, contra o rei, contra os que usam vestuário estrangeiro, e que entendemos é burguesia, contra os que pesavam a prata, e que entendemos é o povo comerciante, contra os poderosos, e nem a sua prata e nem o seu ouro os iria livrar do Dia da Ira de Deus.


Mas, temos de aprender a fazer distinção entre Cristandade e Cristianismo. E a Cristandade sofreria à mão de Deus justamente para que fosse removida e o Cristianismo pudesse novamente se manifestar. E este novamente se manifestar já seria num patamar novo de existência. É verdade, no primeiro momento o dragão lhe deu poder e grande autoridade, mas no segundo momento quem iria lhe dar poder e grande autoridade (Isaías 60.1-3) seria Deus.


Cecília, e podemos dizer que o momento em que Deus preparou a força que iria remover a Cristandade foi exatamente naquele ano de 1903, em Londres, quando naquele Congresso histórica então os bolcheviques acabaram de nascer do ventre menchevique. A força que Deus iria usar para cumprir as palavras escatológicas que pôs na boca do profeta Sofonias foi mesmo a nascente força dos bolcheviques.


Mas, como Deus que além de onipotente e onisciente é também presciente, assim que acabou de criar a força que iria remover a Cristandade e cumprir o seu escatológico Dia da Ira, em que nele nem a prata e nem o ouro dos poderosos os iria livrar, imediatamente em sequência passou a criar a força que iria ocupar o lugar da Cristandade. Literalmente ele passou a obrar o renascimento do Cristianismo. E como se deu? Onde e quando? Naquele ano de 1906, em Los Angeles, quando no casarão construído pelos metodistas a mesma seiva que havia antes depositado no espírito de Saulo de Tarso, no caminho de Damasco, agora ele a deposita em um grupo de fiéis que passaram a se reunir neste casarão construído pelos metodistas. No momento em que na mediação do filho de ex-escravos William Joseph Seymour brancos e negros,ricos e pobres, asiáticos e mexicanos, lavadeiras negras e patroas branca se abraçavam e se reconheciam como irmãos, era simplesmente, e tão somente, que Deus neste momento estava obrando o renascimento do Cristianismo. Pela sua presciência, porque decidira remover a Cristandade, e o seu lugar não iria continuar indefinidamente vago, mas ocupado!


Sendo assim, Cecília, temos de nos dirigir a todos estes que foram restaurados pelo evangelho que entrou no Brasil tendo vindo do casarão metodista em Los Angeles, na rua Azusa, e fazê-los saber que estão de posse do verdadeiro cristianismo, aquele que a partir de Paulo se espalhou para todo o império. E a partir desta compreensão, e desta certeza, então despertar neles uma segunda compreensão e uma segunda certeza: precisam se acordar para o socialismo! Para que não aconteça de mais uma vez do astuto dragão lhe dar novamente poder e grande autoridade. Deveras, a História se repete mesmo duas vezes, mas não para produzir o mesmo fenômeno – e aí seria a farsa de que fala Marx – mas para produzir um fenômeno inteiramente novo, que supera o primeiro. E o fenômeno novo é deste cristianismo renascido caminhar para se encontrar com o socialismo; e então acontecer o casamento dos casamentos, o Casamento do Cordeiro. Na vida deste Cristianismo renascido não surgirá um novo Constantino, mas agora, sim, quem eles terão pela frente será mesmo o Filho do homem, para lhes dar poder e grande autoridade, de modo as nações ir à tua luz e reis à claridade do teu raiar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário