sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Questão do Conhecimento Científico


Em ter, 13/5/08, Fausto Jaime escreveu:

De: Fausto Jaime
Assunto: Re: [T L] Re: A Questão do Conhecimento Científico
Para: teologia_da_Libertacao@yahoogrupos.com.br
Data: Terça-feira, 13 de Maio de 2008, 0:33

Caro Gerson,

Fiquei em dúvida sobre a autoria deste texto sobre A QUESTÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO. Afinal o texto é seu ou de outro autor? Peço que encaminhe alguma outra referência sobre o que chamou de socialismo celestial.

Fraternalmente,

Fausto

Gerson Soares de Melo <gersonsoaresdemelo@ yahoo.com. br> escreveu:



A QUESTÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Por volta do ano de 99 Adriano, naquele ano fazendo graduação em geografia pela Unesp de Presidente Prudente, assim que acabou de ter aula com o professor Bernardo Mançano veio ter com Noubarus Gerson que se achava nas proximidades expondo as boas novas. De modo que disse: "Putz! Tive uma aula massa com o professor Bernardo sobre o que é conhecimento científico."

Como naqueles dias Noubarus Gerson se achava absorto na disputa entre a subjetividade kantiana e a objetividade dos dogmáticos, longe de ser mundos incomunicáveis, a visão de ambos, na verdade a subjetividade kantiana uma ponte para a objetividade dos dogmáticos (a subjetividade kantiana não é outra coisa senão o Absoluto construindo as partes para, na sua completeza, no esgotamento de todas as suas possibilidades e potencialidades, então tudo se achar preparado para o nascimento e vôo do númeno, da coisa em si, passando pelas partes subjetivas e dando a elas a consciência da objetividade; fazendo-as se conscientizar de que não é o mundo que tem de girar em torno de si, se conformar e se adequar ao seu ritmo, mas, pelo contrário, são elas que devem girar em torno do mundo, se ajustar ao seu ritmo, ao movimento da objetividade) (o trabalho deste sujeito subjetivo é algo assim como o fogo que vai aquecendo o minério bruto e, assim, inconscientemente, o levando ao ponto de fusão. Algo assim como quem está construindo a estrada para o tráfego de veículos; algo assim como a nebulosa de Kant e Laplace que no meio da caoticidade de corpos sem luz e sem direção, errantes, se chocando por espaço, então emerge a objetividade do sol, pouco a pouco dando a eles órbita e direção com eles deixando de mover seus corpos na pura subjetividade para movê-los na pura objetividade), bem, a verdade é que quando Adriano lhe narrou aula tida com o professor Bernardo Mançano, por causa daquilo em que se achava absorto, lhe causou interesse o falado por Adriano. Querendo saber o que ensinou sobre o assunto, então ficou sabendo da boca do próprio Adriano que o ensinado foi que o conhecimento científico não pode conter relatividade. Tudo o que é relativo é a negação do conhecimento científico, e não pertence ao seu plano.

De imediato Noubarus Gerson percebeu que o conhecimento fora posto por Bernardo Mançano de ponta para baixo, a sua inversão. Destarte, o que ensinara era verdadeiro sim, desde que se trocasse o termo conhecimento científico pelo termo conhecimento ideológico (ou conhecimento positivista, não dialético).

Tendo chegado à sua casa, se pôs a fazer um escrito abordando a questão.

Bem, passou-se sete anos (este escrito deva ser do ano de 2002, 2003 mais ou menos) e Noubarus Gerson pouco se lembra do que escreveu. Por que está retornando a essa questão precisamente agora? Porque Noubarus Gerson tem percebido que o responsável maior em as pessoas não compreenderem e não aceitarem o que ensina, bebendo em outras fontes, não raro fontes contaminadas e poluídas, e quando não de validade vencida, é justamente a forma de conhecimento "científico" ensinado, não só pelo professor Bernardo Mançano, mas por todos os versado em epistemologia e em gnosiologia. Ela tem ofuscado as mentes e embotado os corações, as impedindo de ver a beleza e a verdade contidas no seu pensamento, não raro hipostatizando nele a mesquinhez dos seus sentimentos e a estreiteza das suas mentes, como foi o epíteto que dirigiu a ele um internauta de um grupo político: joga pra fora do grupo esse nosso amigo pré-socrático, que passa a noite revolvendo o lixo da história e de dia vem infectar o grupo com o mau cheiro dos seus restos (2) (o próprio professor em pauta, naqueles dias, dissera para uns estudantes: afastai-vos desse Noubarus Gerson (Nôubari na época); ele é um louco) (às vezes é necessário deixar de lado a ternura e lançar mão do hay que endurecerse, mesmo porque Deus castiga aos que ama, não por castigar, mas por premiar, pois tem chegado o tempo Dele dizer para todos que tem dedicado suas vidas a estar ao lado daqueles que lutam pela posse da vida por lutarem pela posse da terra, e é caso exemplar do professor Bernardo Mançano: Vinde, benditos de meu Pai, e possuí por herança os reino vos preparado desde a fundação do mundo... Mas para tanto é preciso ter as suas vestes positivistas (não dialéticos) trocadas pelas vestes de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são a justiça dos santos (Apocalipse 19.8). Portanto, o castigar é muito mais Deus removendo do corpo vestes transitórias para pôr no lugar as vestes eternais do seu filho Jesus (Gênesis 3.21; Daniel 2.44).

Prosseguindo. Bem, naquele dia em que Noubarus Gerson ouviu da boca do próprio Adriano o ensinado pelo professor Bernardo Mançano sobre conhecimento científico, de imediato começou a escrever a sua refutação. O que escreveu?

Pouco se lembra do que escreveu, mas se lembra que se ancorou em dois exemplos: o movimento da terra e o movimento das doenças.

Ora, na estação do inverno é verdadeiro você vestir blusão: mas, e quando chegar a primavera o blusão não se achará em fragrante contradição? Estranho ao seu objeto? E a doença, quando adquire novo contorno, o remédio já não perde o efeito sobre ela, necessitando de refundação?

Assim, pois, o conhecimento científico não é nunca essa simploriedade exposta, mas é complexo, muitíssimo complexo, se achando à mercê do depende, que medeia e dá sempre o seu resultado, que é e sempre será um resultado relativo (pessoas assim tendem a ver no apóstolo Paulo um ser extremamente contraditório. Afinal, ao seu olho positivista, uma pessoa que diz para um grupo de pessoas que é da lei, para outro grupo que é dos fracos, para outro grupo que é sem lei, trata-se de uma pessoa contraditória. Nela não se acha presente o sim, sim, não, não da ciência. Mas Paulo era contraditório? Que isto nunca aconteça! As suas “contradições” eram na verdade transcendentalidade sobre os fenômenos em presença, assim como ocorreu com outro “contraditório”, Lênin).

Dado o conhecimento ser sempre uma relação do sujeito com o objeto, e dado o objeto ser mutante, nunca o sentido dado a ele por Heráclito, mas o dado por Hegel; possui uma história, uma história que o fez, desvelou-o, como diria Sócrates, ora, por mais paradoxal que possa parecer o conhecimento científico é exatamente a soma das relatividades. É composto de partes relativas. Não só ele, mas o próprio sujeito, que exerce transcendência sobre o objeto, sobre a totalidade dos seus momentos, dominando-os, assim como o bom médico sabe o remédio certo para aquele estágio da doença (mas o objeto também exerce transcendência sobre o sujeito, o transformando. Em uma palavra, tanto a dialética das coisas produz a dialética das idéias como a dialética das idéias produz a dialética das coisas, depende!).

Bem, o que é mesmo o conhecimento científico? É assim como o ouvido por Adriano?

O ouvido por Adriano trata-se do conhecimento positivista, não dialético, necessário e uma ponte para o conhecimento científico de fato, o metafísico, transcendendo e dominando as suas partes. O conhecimento positivista estabelece uma ligação essencial entre o blusão e a estação do inverno: o que passar disto seja anátema. E não resta a menor dúvida que esta sua formulação é mesmo científica (naquele preciso instante). Mas o conhecimento metafísico vai além. Sabe que essa relação científica é relativa. Quando a estação do inverno se converter na estação da primavera a sua relação se perdeu; tornou-se necessário uma nova indumentária, primaveril, para novamente restabelecer a relação perdida. Se o sujeito não tem essa consciência, de que o objeto é mutante, tentará barrar com a mão o movimento da terra em torno do sol, se como tivesse a sensação de que a terra está sendo lançada para fora do sistema solar. É isto o que explica porque revoluções se tornam também repressoras, a perda de contato com o seu objeto, no caso a sociedade mutante.

O que foi falado serve de alerta para os marxistas. A revolução não é de modo algum esse objeto produzido pela mente positivista, algo estático, imexível (se lembram do Rogério Magri, defenestrado pelo mexível?). A revolução também pertence ao relativo. Ela se acha em construção. Não construção subjetiva, mas objetiva. É o seu movimento interno, que produz mudanças nos sujeitos, eles se mudando para se adequar ao seu novo momento.

Destarte, a Revolução se relaciona com o Absoluto, e o revolucionário deve levar em conta isto; pois ele se relaciona com a revolução, e se o Absoluto se acha em transformação, produzindo a sua história, logo a revolução se acha também em transformação, produzindo também a sua história. E o revolucionário que não leva em conta isto fatalmente se converterá em contra-revolucionário tentando a todo custo impedir a transformação da Revolução. Foi o que ocorreu com os revolucionários que viram na Escola de Frankfurt, não o movimento interno da Revolução, mas um movimento revisionista levado a cabo pela subjetividade decaída.

E qual é a História da Revolução? A sua História é análoga à história da Igreja. A sua história é que ela vai da lei para a graça, do rosto particular de Moisés, libertadora de um dos pólos da contradição, para o rosto universal de Jesus, libertadora dos pólos da contradição em presença, libertando um dos pólos na razão inversa, não da destruição, mas da libertação do outro pólo.

E a analogia com a história da Igreja não é mera semelhança. Mas a Revolução já é o prosseguimento da história da Igreja, em outro patamar, o antropológico. De modo que a história do Judaísmo e do Cristianismo não é de modo algum desligada da história do Marxismo. O Marxismo está sendo construído para o enriquecimento futuro da Igreja. Mas, por outro, também é verdadeiro que o Marxismo encontrará o seu enriquecimento na Igreja. O Marxismo se livrará da burocratização do Estado na medida em que confiar parcelas importantes da sociedade aos cuidados da Igreja, que, por sua vez, se realizará e se verá completa no trabalho de socialização da economia levado a cabo pelo Marxismo. Há muito mais o que falar sobre o assunto, e vamos voltar a ele, mesmo porque o homem não realiza conhecimento, mas reproduz conhecimento; a elaboração do conhecimento se acha no universo apartado da metafísica. Ainda voltamos a esta questão. Mas, por enquanto fica o alerta de que é preciso estar atento para as mudanças que tanto ocorrem nos objetos como no espírito cognoscente. As condições objetivas que geraram a revolução há cem anos hoje são outras; de modo que a revolução hoje é outra. Tem nova cara, nova feição. E os homens precisam se despertar para este seu novo momento. Este trabalho foi cortado dele a metade, para não pesar tanto no espírito que o lê. Mas não faltará ocasião para apresentá-lo na sua totalidade.

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