quarta-feira, 23 de março de 2011

Leonardo Boff e os Arautos Celestiais

O quão fundamental é a espiritualidade em tempos bicudos como o atual? Como manter a fé sem ilusões sobre a realidade humana?

Os tempos atuais são dramáticos. Isso não representa ainda uma tragédia anunciada. Mas significa seguramente uma grande crise de civilização. Dizem-nos os antropólogos que em tempos assim fervilham as religiões e se aprofundam os caminhos espirituais. Eles formam aquele campo da experiência humana onde se elaboram os grandes sonhos e utopias, conferindo sentido à vida e rasgando horizontes de esperança. Bem dizia Ernst Bloch: “onde há religião, há esperança”; “o verdadeiro gênese não está no começo, mas no fim”. Isso podemos verificar atualmente. A despeito do caráter fundamentalista de muitas expressões religiosas, há uma efervescência do religioso, do sagrado e do místico irrompendo em todas as partes e em todos os estratos sociais. Quer dizer, os seres humanos estão cansados de materialidade, de eficiência, de consumo e de racionalidade. O segredo da felicidade e a quietude do coração não se encontra nas ciências, nem na acumulação de poder, mas no cultivo da razão sensível e cordial, aquela dimensão do profundo humano onde medram os valores e vige o mundo das excelências. Daí nascem os sonhos e os valores que podem inspirar um novo ensaio civilizatório.

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Essa efervescência do religioso, do sagrado e do místico irrompendo em todas as partes e em todos os estratos sociais estaria sendo condensada no Socialismo Celestial, desaguando e desabrochando na práxis dos Arautos Celestiais? Isto que Leonardo Boff diz não se encontrar nas ciências, mas agora, e então, se manifestando como ciência na práxis nova dos Arautos Celestiais? Porque ciência e racionalidade não dizem respeito só ao materialismo, como é visão de um filosofar vulgar, mas também ao espiritualismo? A rigor, no materialismo convive ciência e não-ciência com estes dois extremos sendo ligado pela ponte da pré-ciência, o que, convenhamos, tal também ocorre no universo da espiritualidade, com a pré-espiritualidade ligando o extremo da não-espiritualidade – tudo isto que Leonardo Boff aponta estar levando à exaustão da Terra e da Vida (estilo de vida burguês) – ao outro extremo da espiritualidade, que nos Arautos Celestiais estaria então se manifestando como ciência, como no ventre do socialismo utópico o socialismo se manifestou como ciência, daí sim alavancando as transformações? O que significa dizer que todos estes sonhos de Leonardo Boff tanto para com a Terra como para com o Homem, bem como com o variegado e diversificado mundo da Cultura, a sua concreticidade estará se dando no socialismo celestial? A práxis nova dos Arautos Celestiais construirá este mundo, dos nossos sonhos?

Aliste-se no exército celestial... Crie um núcleo dos Arautos Celestiais em sua cidade, no seu bairro, na sua família. É a ciência chegando ao campo da espiritualidade-materialidade, se cumprindo, então, aquilo que vaticinou o profeta Isaías: “(...) Naquele dia, o homem terreno lançará diante dos musaranhos e dos morcegos os seus deuses de prata que nada valem e os seus deuses de ouro que nada valem – que fizeram para ele se curvar diante deles (...)” (Isaías 2.10-17). Sabemos muito bem quem são estes deuses de prata e de ouro que nada valem – tudo isto obrado no ventre deste sistema perverso em que estamos vivendo, que mede as pessoas, não pelo seu caráter e a sua espiritualidade, mas pela sua capacidade de produzir e de consumir.

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Está na hora de colocarmos um fim a este filosofar vulgar que tornou a ciência e a racionalidade propriedade do materialismo. A ciência e a racionalidade não têm moradas fixas, mas é um processo que se forma em todos os campos da cognição humana. A própria idéia de Deus é o resultado de um processo em curso que fez emergir como ciência.

E como a ciência é objetiva na medida em que ela vai se transformando em ciência então isto é refletido na consciência humana, para a comunicabilidade. É parte do processo, porque a consciência humana é extensão da consciência transcendente. E Deus quando então deixava a existência pré-científica ou não-científica, totemismo, animismo, fetichismo, politeísmo, e se transformava em ciência então isto era refletido e passado para a consciência humana, no caso Abraão.

Mas, como a ciência só emerge no processo, para que a consciência entenda Deus como ciência a ciência tem também de se processar nele e emergir como ciência. Então ele, passando pelo processo, ateísmo, agnosticismo, finalmente verá o Deus de Abraão como sendo o momento de ciência da idéia de deus; que, se gestando no processo, então se revelou Deus-Ciência.

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