sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Pedagogia do Oprimido e o Socialismo Celestial


Pedagogia do Oprimido e o Socialismo Celestial

Segundo Paulo Freire uma pedagogia para funcionar precisa passar por uma equipe para gerar os termos chaves da alfabetização. E esses termos chaves partem do pressuposto que é preciso conhecer a realidade do aluno para que se possa, a partir do seu universo simbólico, ascendê-lo a patamares maiores de conhecimento.

Paulo Freire sem sombra de dúvida foi profeta do socialismo Celestial. Porque, ao contrário da esquerda tradicional e que viceja na Net, trotskista, stalinista ou democrática tanto faz; que entende ser a consciência popular um terreno permeado de garranchos, e que é preciso remover os garranchos para semear a semente, o socialismo celestial ao contrário vê a consciência popular um jardim, todavia um jardim certamente cheio de garranchos que sufocam as flores (os garranchos é a ideologia que a burguesia semeou ali para perpetuar o seu domínio sobre elas. O joio que cresceu no meio do trigo).

Em uma palavra, o socialismo celestial fez a primeira lição, reconhecer a realidade do aluno. E a realidade das massas é que não se trata de uma realidade vazia cheia de garranchos, mas de jardim. O jardim é a consciência religiosa que move os seus seres.

E o socialismo celestial tem pela frente dois serviços a serem feitos: primeiro, remover os garranchos libertando as flores; segundo, transformar o jardim em um pomar. Não remover as flores, mas, ao lado, fazer brotar também os frutos. Árvores que dêem frutos. Ora, as flores é a consciência do cristianismo, e os frutos é a consciência do socialismo que agregarão. (A esquerda hodierna, por conhecer só o fruto, por não ver nada na flor que alimente o corpo, entende ela ser também parte do garrancho e como tal é objeto também de sua foice cortante).

Mas, resumindo, para ganhar tempo, no caso do socialismo celestial, o que seria evangelizar as massas a partir do seu universo simbólico, a partir do seu conhecimento, que não é inferior, como se acha no positivismo de Comte e no pensamento materialista (para eles a flor é inferior ao fruto porque reduziram a flor a garranchos)?

I (Primeiro) (colecione conhecimento)

Ora, as massas são portadoras do conhecimento do Êxodo, Moisés voltando do exílio e quebrando as algemas de Faraó e guiando o povo liberto na direção de Canaã, a terra da promessa que manava leite e mel, e que tempos antes Abraão creu era o lugar de descanso de sua descendência peregrina. De modo que a partir deste conhecimento, deste universo simbólico e que impregna a sua alma, então o socialismo celestial vai despertar nestes corações um segundo conhecimento, o da revolução. Vai traçar um paralelo entre Moisés e Lênin. Vai falar de que assim como Moisés foi um príncipe na corte de Faraó, todavia tomou o lado de seus irmãos escravos, preferindo sofrer com eles que gozar a riqueza do Egito, e por isso foi ao exílio. E vai mostrar ao crente de como a história do Lênin é parecido com a história de Moisés. Lênin também, pertencente a uma família que gozava de certos privilégios na corte do Czar, mas por ter tomado o lado dos oprimidos, preferindo sofrer com ele que gozar os privilégios dos ricos, como Moisés, Lênin também acabou indo ao exílio.

E prosseguirá na sua obra de acareação, dizendo que assim como Moisés que no exílio ouviu Deus lhe chamar e dizer a ele para voltar ao Egito e libertar o seu povo da dura escravidão de Faraó e o guiar para Canaã, assim foi com Lênin que naquele ano de 1917 no exílio suíço ouviu a notícia de que tinha de voltar para a Rússia e fazer a revolução e libertar o povo oprimido e o guiar para o socialismo. E mostrar para o crente de que assim como Moisés que após as dez pragas finalmente quebrou o poder de Faraó, conduzindo então o povo oprimido na direção de Canaã, assim foi com Lênin que finalmente naquele final de 1917 finalmente quebrou o poder da burguesia e fez a revolução e passou a guiar o povo liberto na direção do socialismo.

O crente vai aceitar? Os que têm um coração humilde de imediato verão forte relação entre a saída do Egito e a revolução. Outros, por causa dos garranchos, irão reagir, como, por exemplo, de que Lênin foi ateu, profanava o sagrado como o rei Belsazar , que embriagado encheu as taças sagradas de vinho. Mas isto será ocasião para o socialismo celestial aprofundar mais o esclarecimento, e, por conseguinte ir limpando sua alma do garrancho.

Bem, o que essencialmente difere o socialismo celestial do socialismo hodierno? Que para o socialismo hodierno para que as massas religiosas aceitem Lênin e a revolução, terão que limpar sua mente de Moisés e de tudo que lhe diz respeito.  É a condição de sua “emancipação”. De modo que se chegará a elas e dirão que Moisés é um mito, nunca existiu, uma ilusão na mente do povo. Conseguirão tirar Moisés de sua mente e colocar no lugar Lênin? Pelo menos faz 150 anos que vem tentando fazer isto e os resultados alcançados foram pífios. Muitos passaram a ter essa visão do socialismo hodierno, enveredando pelo caminho do ateísmo, mas representam uma parcela ínfima, não de iluminados, mas de quem acreditou que é na desconstrução de Moisés que se constrói Lênin. E essa desconstrução eles fazem não só com Moisés, mas com Abraão, com Josué, com João Batista, com o próprio Jesus, e até mesmo com a história do próprio cristianismo. Em uma palavra, enquanto no socialismo hodierno Lênin é a negação de Moisés, no socialismo celestial Lênin é a sua confirmação. Lênin é o fruto que apareceu, mas trazendo implícito, no seu interior, a semente chamada Moisés.Assim como fruto e semente formam uma realidade indissolúvel, de igual modo Lênin e Moisés forma uma realidade indissolúvel, no espírito ao menos das massas, não se compreende um se não compreender o outro.

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