Pedagogia do Oprimido e o Socialismo Celestial
Segundo Paulo Freire uma
pedagogia para funcionar precisa passar por uma equipe para gerar os termos
chaves da alfabetização. E esses termos chaves partem do pressuposto que é
preciso conhecer a realidade do aluno para que se possa, a partir do seu
universo simbólico, ascendê-lo a patamares maiores de conhecimento.
Paulo Freire sem sombra de dúvida
foi profeta do socialismo Celestial. Porque, ao contrário da esquerda
tradicional e que viceja na Net, trotskista, stalinista ou democrática tanto
faz; que entende ser a consciência popular um terreno permeado de garranchos, e
que é preciso remover os garranchos para semear a semente, o socialismo
celestial ao contrário vê a consciência popular um jardim, todavia um jardim
certamente cheio de garranchos que sufocam as flores (os garranchos é a
ideologia que a burguesia semeou ali para perpetuar o seu domínio sobre elas. O
joio que cresceu no meio do trigo).
Em uma palavra, o socialismo
celestial fez a primeira lição, reconhecer a realidade do aluno. E a realidade
das massas é que não se trata de uma realidade vazia cheia de garranchos, mas
de jardim. O jardim é a consciência religiosa que move os seus seres.
E o socialismo celestial tem pela
frente dois serviços a serem feitos: primeiro, remover os garranchos libertando
as flores; segundo, transformar o jardim em um pomar. Não remover as flores,
mas, ao lado, fazer brotar também os frutos. Árvores que dêem frutos. Ora, as
flores é a consciência do cristianismo, e os frutos é a consciência do
socialismo que agregarão. (A esquerda hodierna, por conhecer só o fruto, por
não ver nada na flor que alimente o corpo, entende ela ser também parte do
garrancho e como tal é objeto também de sua foice cortante).
Mas, resumindo, para ganhar
tempo, no caso do socialismo celestial, o que seria evangelizar as massas a
partir do seu universo simbólico, a partir do seu conhecimento, que não é
inferior, como se acha no positivismo de Comte e no pensamento materialista
(para eles a flor é inferior ao fruto porque reduziram a flor a garranchos)?
I (Primeiro) (colecione conhecimento)
Ora, as massas são portadoras do
conhecimento do Êxodo, Moisés voltando do exílio e quebrando as algemas de
Faraó e guiando o povo liberto na direção de Canaã, a terra da promessa que
manava leite e mel, e que tempos antes Abraão creu era o lugar de descanso de
sua descendência peregrina. De modo que a partir deste conhecimento, deste
universo simbólico e que impregna a sua alma, então o socialismo celestial vai
despertar nestes corações um segundo conhecimento, o da revolução. Vai traçar
um paralelo entre Moisés e Lênin. Vai falar de que assim como Moisés foi um
príncipe na corte de Faraó, todavia tomou o lado de seus irmãos escravos,
preferindo sofrer com eles que gozar a riqueza do Egito, e por isso foi ao
exílio. E vai mostrar ao crente de como a história do Lênin é parecido com a
história de Moisés. Lênin também, pertencente a uma família que gozava de
certos privilégios na corte do Czar, mas por ter tomado o lado dos oprimidos,
preferindo sofrer com ele que gozar os privilégios dos ricos, como Moisés,
Lênin também acabou indo ao exílio.
E prosseguirá na sua obra de
acareação, dizendo que assim como Moisés que no exílio ouviu Deus lhe chamar e
dizer a ele para voltar ao Egito e libertar o seu povo da dura escravidão de
Faraó e o guiar para Canaã, assim foi com Lênin que naquele ano de 1917 no
exílio suíço ouviu a notícia de que tinha de voltar para a Rússia e fazer a
revolução e libertar o povo oprimido e o guiar para o socialismo. E mostrar
para o crente de que assim como Moisés que após as dez pragas finalmente
quebrou o poder de Faraó, conduzindo então o povo oprimido na direção de Canaã,
assim foi com Lênin que finalmente naquele final de 1917 finalmente quebrou o
poder da burguesia e fez a revolução e passou a guiar o povo liberto na direção
do socialismo.
O crente vai aceitar? Os que têm
um coração humilde de imediato verão forte relação entre a saída do Egito e a
revolução. Outros, por causa dos garranchos, irão reagir, como, por exemplo, de
que Lênin foi ateu, profanava o sagrado como o rei Belsazar , que embriagado
encheu as taças sagradas de vinho. Mas isto será ocasião para o socialismo
celestial aprofundar mais o esclarecimento, e, por conseguinte ir limpando sua
alma do garrancho.
Bem, o que essencialmente difere
o socialismo celestial do socialismo hodierno? Que para o socialismo hodierno
para que as massas religiosas aceitem Lênin e a revolução, terão que limpar sua
mente de Moisés e de tudo que lhe diz respeito. É a condição de sua “emancipação”. De modo que
se chegará a elas e dirão que Moisés é um mito, nunca existiu, uma ilusão na
mente do povo. Conseguirão tirar Moisés de sua mente e colocar no lugar Lênin?
Pelo menos faz 150 anos que vem tentando fazer isto e os resultados alcançados
foram pífios. Muitos passaram a ter essa visão do socialismo hodierno,
enveredando pelo caminho do ateísmo, mas representam uma parcela ínfima, não de
iluminados, mas de quem acreditou que é na desconstrução de Moisés que se
constrói Lênin. E essa desconstrução eles fazem não só com Moisés, mas com
Abraão, com Josué, com João Batista, com o próprio Jesus, e até mesmo com a
história do próprio cristianismo. Em uma palavra, enquanto no socialismo
hodierno Lênin é a negação de Moisés, no socialismo celestial Lênin é a sua
confirmação. Lênin é o fruto que apareceu, mas trazendo implícito, no seu
interior, a semente chamada Moisés.Assim como fruto e semente formam uma realidade indissolúvel, de igual modo Lênin e Moisés forma uma realidade indissolúvel, no espírito ao menos das massas, não se compreende um se não compreender o outro.
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