Papa Francisco e o Novo Francisco de Assis – TERCEIRA PARTE
Na sua despedida o Papa Francisco voltou a repetir frases de
todos os seus antecessores, talvez com exceção de João XXIII (Talvez!). E que
frase é esta que foi pronunciada por Papa Francisco na sua despedida? “Não
deixem o Evangelho ser usado para uma ideologia” (1).
O recado é claro: o Evangelho não pode ser usado para
legitimar o Marxismo. E como até o presente momento o socialismo tem sido
indissociável do Marxismo, logo o Evangelho não pode ser usado para o
socialismo.
Quão diferente é o Papa Francisco do Novo Francisco de
Assis! O Novo Francisco de Assis afirma que o Evangelho é indissociável do
Marxismo. A luta do Marxismo, apesar de que os homens não souberam, na verdade
foi luta de Deus. Foi o cumprimento da Palavra de Deus. Quando Jesus se dirigiu
aos sacerdotes dos seus dias e lhes disse que o reino de Deus lhes seria tirado
e dado a uma nação que produziria seus frutos (Mateus 21.43), ora, esta nação
que produziria os frutos do Reino se manifestou através do Marxismo e de
nenhuma outra. E tudo é clarificado em Mateus 25.40, pois queiram quer não,
este diálogo que o Justo Juiz trava com o povo que cuidou dos humildes é sim um
diálogo que trava com os marxistas. Há um esforço por parte do Justo Juiz em
convencer os marxistas, reticentes, pegos de surpresa, de que eles são estes
bem aventurados do Evangelho (2). Embora
o mundo religioso diga que o inferno espera pelos marxistas, o Justo Juiz há de
dizer para todos os filhos de Marx, naquele dia: Vinde benditos de meu Pai, e
possuí por herança o reino vos preparado desde a fundação do mundo (3).
É verdade, o Marxismo está inserido em um processo do qual é
meio e não fim. O Marxismo foi o Evangelho se manifestando pelo lado da Lei;
revivedor das grandes giestas de Moisés (4),
mas trazendo em oculto e a reviver as grandes giestas de Jesus. Em uma palavra,
a Revolução tem o lado da Lei, mas tem também o lado da Graça. De modo que
apenas dizemos que o Marxismo foi o tempo invernal do Evangelho (5), que produziu seu botão; e o
Socialismo Celestial é o seu tempo primaveril. O botão do Marxismo não é
descartado, como estaria na fala do Papa Francisco, mas aquecido com amor
sempiterno até que de suas entranhas emirja o Cristo da cruz, emirja a sua flor
pura, que muitos chamam de Comunismo (6).
Emirja Aquele que teve o poder de fazer co que ricos vendessem suas
propriedades e depositassem o valor aos pés dos apóstolos para que fossem
usufruídos por todos, segundo a necessidade de cada um (Atos 2.44; 4.32).
Há muito que falar sobre a questão, em especial uma
abordagem científica sobre a escatologia conforme está no livro do Profeta
Sofonias; esclarecedor de como toda ação do Marxismo em cima da terra, não só a
sua repulsa ao poder burguês, mas incluso a sua repulsa ao poder religioso, foi
sim cumprimento da Palavra de Deus. Foi sim Deus vomitando de sua boca não só
os que exploravam os trabalhadores (7),
mas também os que usavam o nome de Deus para legitimar a exploração de
sanguessugas sobre os humildes. Cumprimento de palavras que Deus colocou não só
na boca do profeta Sofonias, mas de todos os profetas, em especial de Isaías.
Notas de Rodapé
(1)- É verdade, o Papa Francisco, na sua despedida, pronunciou
a frase: Não deixem o
Evangelho ser usado para uma ideologia. Mas também é verdade
que antes havia pronunciado uma frase antagônica, e qual foi ela? “Jovens,
sejam revolucionários!” Frase esta que entendemos claro qual seja um voz divina
dizendo às Cebs e às pastorais engajadas politicamente: Levantem! Tomem sua
cama e andem.
Papa Francisco teria enchido balde de leite e na sua
despedida o chutado.
Temos de compreender essa tergiversação de Papa Francisco. E
ela pode significar sim a passagem de um tempo para outro, inteiramente novo.
Temos de compreender essa tergiversação, esta aparente contradição, com as
armas do Espírito. Ao ter dito na chegada: Jovens, sejam revolucionários, e
dito na despedida: Não deixem o Evangelho ser usado para uma ideologia, esta
aparente contradição esconde sim os mistérios do Espírito. Era como se o
Espírito tivesse dito por intermédio de Papa Francisco: Jovens, sejam
revolucionários; e oculto na frase seguinte: Façam a revolução, mas a façam não
mais com as armas do Marxismo e sim, agora, com as armas do Socialismo
Celestial (porque a história não se repete identicamente igual. Ora, se a
revolução russa foi radicalmente diferente da revolução francesa, a verdade é
que a revolução brasileira será radicalmente diferente tanto de uma como de
outra. A revolução brasileira certamente é política e social, mas precedida por
uma revolução do espírito. Homens e mulheres são revolucionados interiormente
para adquirir uma nova visão do mundo e da História, e, então, mudados,
transformados num abrir e piscar de olho (ICoríntios 15.52), mudarem o mundo; defenestrar
as suas coisas velhas e no lugar colocar as coisas novas, que trarão vida em
abundância para todos. Em uma palavra, os odres se farão novos para poderem
receber o vinho novo). Prosseguindo.
Ora, dado o lugar que ocupa – o posto de Papa – o Espírito se viu
forçado a assentar a contradição. Daí papa Francisco com uma mão ter dito uma
coisa, com a outra mão, outra coisa. Agradou a gregos, esquerda, e ao final agradou
a troianos, direita. O importante é que o Espírito, agora livre de qualquer
convenção, está se expressando de forma clara e inequívoca: Façam a revolução,
e agora dentro do corpo do socialismo celestial.
Alguém pode objetar: o Papa ter dito para os jovens serem
revolucionários e em seguida ter deixado um recado claro a Bispos que não
deixassem o Evangelho ser usado para uma ideologia, o que irá prevalecer será a
frase última e não a primeira. Estes Bispos receberam a ordem de conter os
jovens no seu ímpeto revolucionário. O lado conservador-político do Papado ao
final mostrou suas garras. E é possível que na mesma esteira de análise, algum
teólogo mais afoito acabe dizendo: Ora, é uma lei pela qual toda vez que Deus
vai fazer uma obra na terra o Imitador sai na frente com uma obra de imitação.
Ocupando as mentes e os corações, a sua intenção é impedir a obra de Deus. E
este teólogo afoito prosseguirá dizendo: Uma vez que é fato que Deus estava
preparando o seu Francisco de Assis no país Brasil, a escolha de um Papa
argentino não pode ter sido a obra do Imitador? O Imitador criando o seu
Francisco de Assis justamente para impedir o Francisco de Assis brasileiro?
Este Francisco de Assis obra do Imitador apenas imita Francisco de Assis, mas
carrega dentro de si a sua negação? É Francisco de Assis na forma e não no
conteúdo? O importante é que em Papa Francisco se observou uma brecha pela qual
podemos entrar e trabalhar o apoio deste Papa para a causa da revolução
brasileira. Se ele for Francisco de Assis verdadeiro caminhará conosco; senão,
terá o fim de Balaão, mui provavelmente sendo este Papa o último dos Papas.
Porque a fortaleza da revolução brasileira, fazendo esfumar todo e qualquer
sólido (Apocalipse 6.13-14), tornará inviável um novo Papa. Uma figura que
transcende o humano, se colocando no patamar de um Deus para os terrenos. Essa
figura dará lugar a um líder que se assemelha a outros líderes humanos. Mas,
vamos estar com as mãos estendidas, porque nossas mãos há de serem mãos
generosas, benevolentes. Não julguemos a priori, mas a posteriori. Demos a
oportunidade.
(2) - Ora, quando os bem-aventurados dizem, ou, melhor,
reagem: Senhor, quando te vimos com fome e te alimentamos, ou com sede, e te
damos algo para beber? Quando te vimos como estranho, e te recebemos
hospitaleiramente, ou nu, e te vestimos? Quando te vimos doente, e na prisão, e
te fomos visitar? Ora, isto expressa que estes bem-aventurados são pessoas não
religiosas. Era como se dissessem: Mas, nós? Porque nós se nunca estivemos
ligados ao teu nome? E o Justo Juiz lhes dirá: Pois é, quando fizeram a um
destes meus irmãos pequeninos foi a mim que fizeram (ver Isaías 65).
(3) - É verdade que o Justo Juiz dirá para os marxistas,
naquele dia: Vinde benditos de meu Pai, e possuí por herança o reino vos
preparado desde a fundação do mundo. Mas, como na sequência o Justo Juiz dá um
giro de 180 graus e diz para os antagônicos, para os que estão na sua esquerda:
Quanto a vós, afastai-vos de mim, vós os que tendes sido amaldiçoados, para o
fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos, ora, muitos estão entendendo
que devido ao fato dos religiosos não terem se engajado na luta pelo socialismo,
senão que para impedir, o Justo Juiz
lançará sobre eles a maldição. É verdade, quando o Justo Juiz acabar de
proferir as bênçãos aos filhos de Marx, ele se voltará na direção dos
religiosos. E também lhes dirá: Vinde benditos de meu Pai, e possuí por herança
o reino vos preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome espiritual, e
vós me destes alimentos espiritual para me alimentar. Tive sede espiritual, e
vós me saciastes com a água espiritual. Estive nu, e vós me cobristes com veste
espiritual. Era estranho, e vós me recebestes em sua espiritual. Estive doente
espiritual e vós me curastes com remédio espiritual. Estive na prisão e vós me
visitastes com a Palavra de Deus. É verdade, o Justo Juiz colocará a coroa
régia na cabeça dos filhos de Marx e lhes dirá: Vós sois os reis que haveriam
de reinar os mil anos e a eternidade sem fim com o Cristo. Entrem no gozo de
seu Senhor. E em seguida se dirigirá aos religiosos e colocará a coroa régia na
sua cabeça, dizendo: Vós sois os sacerdotes que haveriam de reinar os mil anos
e a eternidade sem fim com o Cristo. Entrem no gozo de seu Senhor. (E fizestes
deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus, e hão de reinar sobre a terra,
Apocalipse 5.10; 20.6). Ora, o que faz com que o Justo Juiz profira esse juízo
duplo é que o Cristianismo foi socialismo, mas socialismo espiritual, ao passo
que o Marxismo, socialismo material. As duas faces do conceito de socialismo. O
que faz com que nem marxistas nem cristão percebam isto é que foram concebidos
de forma antitética e estão no patamar antitético. Mas quando amadurecerem,
deixarem para trás as coisas de menino (ICoríntios 13.11), então compreenderão
claro como o dia que a mensagem que Jesus entregou a Paulo e a mensagem de Marx
fazem parte de um mesma unidade, de um mesmo processo, o do estabelecimento do
senhorio de Jesus sobre a terra.
(4) - As giestas do Lênin, voltando do exílio e fazendo a
revolução e principiando a guiar os trabalhadores na direção do socialismo,
para o lugar que tempos antes Marx creu seria o lugar de descanso dos
trabalhadores oprimidos, foi o antítipo da gieste de Moisés quando voltou do
exílio e quebrou as algemas de Faraó, guiando o povo na direção da Terra da
Promessa, na direção de Canaã, para o lugar que tempos antes Abraão creu seria
o lugar de descanso de sua descendência peregrina e oprimida.
(5) - O Marxismo foi sim revivência do olho por olho, dente
por dente, do Judaísmo. A Ditadura do Proletariado reviveu em sua essência o
Judaísmo.
(6) – O conceito de comunismo não é o mesmo em Adamir
Gerson. Não que o conceito de comunismo comporte diferentes realidades. Na
verdade o conceito de Comunismo tanto em Marx como em seus epígonos é muito
vago, impreciso, como é muito vago, impreciso, o conceito de reino de Deus
entre os cristãos. Os marxistas de um modo geral concebem o Comunismo como o
resultado do amadurecimento do socialismo. O Comunismo é o mesmo socialismo que
amadurece.
Que o Comunismo seja o resultado do amadurecimento do
socialismo isto é uma verdade. Mas este amadurecimento não segue a lógica
simplória assim como está no Marxismo. Ele se dá dentro da tríade hegeliana,
qual seja: o real-espírito nega a si mesmo para fazer da antítese seu objeto.
Em seguida a antítese reconcilia-se com a tese, nascendo então o Comunismo no
lugar do socialismo. Em uma palavra, o Comunismo começa a se formar no marxista
quando ele faz da religião cristã o seu objeto. De posse deste objeto e
retornando ao Marxismo a realidade que surge é inteiramente outra, o Comunismo.
Nem mais religião cristã, nem mais socialismo, mas Comunismo para os marxistas
e Reino de Deus para os cristãos. O amadurecimento do marxista se dá quando ele
se abre para o Cristianismo, ao passo que o amadurecimento do cristão se dá
quando ele se abre para o Marxismo.
E este processo tem principiado a ocorrer, e é preciso falar
sobre ele. De fato, a Escola de Frankfurt representa o momento em que o
Marxismo começou a deixar o que é para ser algo diferente de si. A Escola de
Frankfurt, na sua abertura tanto para a religião como para a transcendência,
embora de forma tímida, representa o momento de início de amadurecimento do
Marxismo. Por outro, a Teologia da Libertação, na sua abertura para o Marxismo
e para a terrenalidade da vida, representou o momento de amadurecimento do Cristianismo.
Convergindo, chegará o momento em que estas duas instâncias da vida acabarão
por se encontrar. Ao se encontrar, suas faces passarão a girar em torno de um
centro que as agrega e as mantém em estabilidade, o Cristo da cruz. E este dia
está próximo.
(7) - Este cumprimento: Vinde agora, vós ricos, chorai,
uivando por causa das misérias que vos hão de sobrevir. Vossas riquezas
apodreceram e vossas roupas exteriores ficaram roídas pelas traças. Vosso ouro
e vossa prata estão corroídos, e a sua ferrugem será como testemunho contra vós
e consumirá as vossas carnes. Algo como fogo é o que armazenastes nos últimos
dias. Eis que os salários devidos aos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos, mas que são retidos por vós, estão clamando, e o clamor por ajuda, da parte
dos ceifeiros, chegaram aos ouvidos de Javé dos exércitos. Vivestes em luxo na
terra e vos entregastes ao prazer sensual. Engordastes os vossos corações no
dia da matança. Condenastes, assassinastes o justo. Não se opõe ele a vós?
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