domingo, 8 de julho de 2012

Leonardo Boff e o Concílio Vaticano II



Leonardo Boff e o Concílio Vaticano II

É preciso compreender com mais profundidade as críticas que acima Adamir Gerson endereçou a Leonardo Boff. É possível que, ficou a muitos a impressão que se pretendeu golpear um ícone do pensamento brasileiro e mundial. Não é nada disto. É que Leonardo Boff se acha preso a limites, como se achou seu irmão, e é preciso expô-lo, como necessidade do pensamento teologal, não só da Teologia da Libertação, mas de todo o cristianismo, dar um salto de qualidade. Romper limitações epistemológicas.

Ora, é sabido que o Concílio Vaticano II, contrariando Papas anteriores, teve uma visão um tanto diferente do marxismo. Sensível ao sofrimento que tomava conta das nações em desenvolvimento e de todo o seu povo, o Concílio Vaticano II viu a necessidade do socialismo como contraponto ao capitalismo. Como condição mesmo do desenvolvimento, não só nacional como social. Economizando palavras, a verdade é que o Concílio Vaticano II abriu as portas da Igreja para o marxismo.

Mas, consciente das implicações, dado a natureza do próprio Marxismo, a verdade é que ele cuidou em filtrá-lo, pondo dum lado a sua filosofia e de outro todo o seu instrumental de análise social. E conservou o seu instrumental de análise social e em larga medida de História como válidos e necessários para a criação de um novo homem, mas trocou a sua filosofia pela filosofia cristã. Foi assim que nasceu e ganhou corpo a Teologia da Libertação, uma mescla de cristianismo com marxismo.

Porque estamos na iminência de grandes mudanças ao nível do pensamento, que alcançará não só o povo cristão, mas, também, o povo marxista, é preciso um esclarecimento: em virtude mesmo da conservação do instrumental de análise social do Marxismo, a verdade é que jamais a Teologia da Libertação foi depositária da filosofia cristã, senão que da filosofia judaica. Na Teologia da Libertação o Êxodo foi muito mais presente e muito mais marcante do que a Cruz. O Êxodo foi impiedoso com Faraó, mas a Cruz foi compreensiva, e porque foi compreensiva foi benevolente com o pecador, tendo vindo para que todos tivessem vida e vida em abundância. A Cruz não tomou lado dos contrários em presença, mas transcendeu-os, com o objetivo de salvar a todos.  De modo que o seu léxico não foi a destruição, mas a transformação. É verdade, Moisés olhou para o Egito e viu o mal que Faraó fazia ao povo de Deus, mas Jesus olhou para a terra e viu que todos estavam destituídos da glória de Deus, mas carregava em potência a possibilidade de tê-la, pois, deveras, o domínio da Serpente Original haveria de ser transitório. Propedêutico, bem de acordo a assertiva de Santo Agostinho segundo a qual o Mal existe para fazer o bem aparecer. Tendo aparecido, não há mais lugar para ele.

A verdade é que Leonardo Boff é um fruto legítimo do Concílio Vaticano II. O seu pensar reflete o Concílio Vaticano II. E o Concílio Vaticano II iria chegar um momento em que seu botão iria abrir na mais linda das flores, a flor pura do Reino de Deus. E neste momento não só a filosofia judaica iria se converter realmente em filosofia cristã, como também todo o instrumental de análise social E DE HISTÓRIA iria ser o do Cristo da cruz. A Comuna Primitiva, como ponto de partida do devir histórico-dialético e de compreensão das razões subjacentes à opressão, iria ceder o lugar para o Jardim do Éden, com Adão e Eva emergindo como protótipos dos contrários, que, com o pecado original, se alienou de si mesmo, perdendo a relação amorosa, mas vencido a resistência do devir histórico-dialético, então iriam novamente reatar a primeva relação, agora novamente termos complementares. E já sem o perigo da queda.

Sendo assim, o Concílio Vaticano II deva ser visto e entendido não como Jesus, mas como João Batista. Veio preparar o caminho e as condições para irromper do Cristo da cruz, que na sua manifestação iria inundar os seres cristãos e marxistas de toda a sua seiva libertadora.

Ora, é comum ouvir-se que o Concílio Vaticano II foi manifestação pentecostal de Deus. E isto é verdadeiro. Todavia o que poucos sabem é que este pentecostes que foi derramado na terra na primeira metade da década de sessenta do século passado era na verdade já uma segunda manifestação pentecostal de Deus. Nesta, como seu fruto, Deus fizera brotar a libertação material dos pobres e de todos que sentissem a sua necessidade. Mas, como os pobres além da opressão material sofria na carne também a opressão espiritual, a verdade é que antes do Concílio Vaticano II Deus obrara também outro pentecostes, e este portando a libertação espiritual dos pobres e de todos que dela precisasse. Estamos falando do ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1906, e que engendrou o moderno movimento pentecostal. Como o que engendrou o moderno movimento pentecostal e o que engendrou a Teologia da Libertação são como carne e unha, tese e antítese, as mentes clarividentes devem ficar atentas, porque a qualquer momento Deus consuma sua obra pentecostal, enviando um terceiro e grandíssimo pentecostes na terra, sintético, em que a libertação espiritual e a libertação material se manifestarão num só feixe de ação, pondo fim às concupiscências da carne e às concupiscências do dinheiro. A santidade será plena, não somente no plano material, como tem alcançado os marxistas e a Teologia da Libertação, mas também no plano espiritual, como tem alcançado os evangélicos e a Renovação Carismática.

Ora, como o Concílio Vaticano II claramente foi um elo de transição, o que explica o seu fruto legítimo, a Teologia da Libertação, ser portadora muito mais da religiosidade judaica que da cristã, muito mais do instrumental de análise social do Marxismo do que do cristão, o que importa saber é para onde tendia essa tendência. Simplesmente que a revolução entrara em processo de metamorfose, do judeu Marx ela iria se levantar no judeu Paulo!

Mudanças profundas então iriam ocorrer. O socialismo iria ser construído não mais no modo tradicional, destruição pura e simples do capitalismo levado a cabo por uma vanguarda que se assenhoreou do poder do Estado, mas através da transformação espiritual dos indivíduos que compõem a sociedade.  Cada indivíduo iria se acordar para o amor ao próximo, o desejo ardente da cooperação iria tomar conta de muitos corações, e, por conseguinte, iria haver uma indisposição popular muito forte contra o capitalismo, cada vez mais sendo objeto de desprezo, se livrando dele por mudar progressivamente as leis que lhe dão sustentação.

Essa transformação de Marx em Paulo iria trazer como resultado prático que a revolução iria despontar justamente no movimento pentecostal. O socialismo, que todos tinham dado como morto, de repente ressurge entre as grandes massas pentecostais, e destas penetra na Renovação Carismática contagiando todo o povo católico.

Estamos diante de uma completa negação da Teologia da Libertação e do próprio Leonardo Boff? Certamente que sim, pois jamais conheceram o fenômeno pentecostal e o fenômeno Renovação Carismática. Tiveram deles apenas uma visão positivista, superficial, àquilo que se manifestava aos olhos.

Isto é, que o movimento pentecostal fora criado e financiado por entidades americanas perversas para combater o Marxismo e impedir que as massas fossem por ele ganhas. E que estas mesmas entidades perversas americanas criaram e financiaram a Renovação Carismática para que ela impedisse das massas católicas ser ganhas pela Teologia da Libertação.
Como a visão positivista tem lá as suas verdades não resta dúvida que tanto o movimento pentecostal como os carismáticos foi realmente freio tanto ao marxismo na América Latina como à Teologia da Libertação no catolicismo. Surgiram como fortíssimos competidores.

Mas quando a visão metafísica chega ela vem como um trator passando por cima do positivismo. Primeiro, o que as forças perversas americanas fizeram foi oportunismo. Viram que quem não é contra nós pode ser por nós. Ou seja, que quanto mais crescessem os pentecostais e os carismáticos mais e mais perdiam forças a Teologia da Libertação e o Marxismo. Segundo, na verdade estavam implícitos, ocultos mesmo, tanto o Pentecostalismo na Revolução como a Renovação Carismática no Concílio Vaticano II. Estavam implícitos, ocultos mesmos, porque tanto a Revolução como o Concílio Vaticano II foram Deus, e em Deus o par Pentecostalismo-Marxismo e o par, Renovação Carismática-Teologia da Libertação eram gêmeos no seu ventre. Literalmente protótipos dos irmãos gêmeos Jacó e Esaú.

Ora, não nos conta a boa história que primeiro nasceu Esaú e depois, Jacó? Que no embate Jacó acabou se apossando da primogenitura e da benção, mas o final entre eles, após período de ódio mútuo, foi mesmo a reconciliação, com Esaú correndo ao encontro de Jacó e lançando-se sobre seu pescoço e o beijando, com os dois irrompendo em pranto. Não é isto que nos conta a boa história? Que então Jacó olhou na face de Esaú e a viu como a face de Deus, e que Esaú recebeu a Jacó com prazer?

Se Esaú reuniu quatrocentos homens disposto a aniquilar Jacó, o que de extraordinário aconteceu que fez com que ele mudasse e o ódio pelo irmão cedesse lugar para o amor? Unicamente a intervenção de Deus!

E Deus pode intervir hoje, com os marxistas, indo ao encontro dos pentecostais e a Teologia da Libertação indo ao encontro da Renovação Carismática. E se lançar ao seu pescoço e o beijar; e os dois se romperem em pranto.

Isto virá a ser uma realidade? Certamente que sim, posto que Deus concebeu o movimento pentecostal, não para estar a serviço do imperialismo,  visão positivista, mas para cobrir os campos da América Latina da transformação espiritual. E quando estas flores estivessem brotando por todo o continente latino-americano, tendo esgotado a sua primavera, então iria chegar o seu verão e o seu outono. Em cada uma destas flores iria se manifestar o fruto material, o socialismo, a princípio verde, mas na medida em que o verão fosse cedendo lugar ao outono, então frutos maduros.

O que é isso? Novo socialismo! Se o primeiro socialismo, por necessidade histórica, deitou vinho novo em odres velhos (o que fez Lênin lançar a NEP foi que sentiu na carne que tinha diante de si apenas odres velhos – já assinalado por Plekhanov), a verdade é que este novo socialismo irá ser construído a partir de corações transformados.  O “sémem” da materialidade socialista iria ser lançado sobre o “óvulo” amadurecido da religiosidade cristã. Destarte, a força de sua sustentação iria ser o Evangelho e não mais a Ditadura do Proletariado. O Evangelho, se engalfinhando com estas pedras egoístas e que só pensa em ter riqueza e poder, iria suscitar a elas filhos a Jesus Cristo. Verdadeiramente um novo socialismo, que terá a perenidade de Daniel 2.44, não caindo jamais, e não passando jamais a outro domínio, como aconteceu com o Primeiro Socialismo.

Leonardo Boff compreenderá este novo tempo? Este novo chamado? Se Leonardo Boff foi obediente ao Pai quando colocou diante de si as responsabilidades políticas e fez o Papado saber que não era tão infalível assim, e foi obediente ao Pai quando colocou diante de si as responsabilidades ecológicas forçando os homens a pensarem em um novo modelo de desenvolvimento que fosse submetido aos limites da Terra, sim, Leonardo Boff será mais uma vez obediente ao Pai quando Ele, por intermédio de seu mensageiro, Adamir Gerson, quer colocar diante de si novas responsabilidades, agora ser ponte de ligação entre os evangélicos e os marxistas, entre as Cebs e a Renovação Carismática?

E quando chegar-se a eles ter debaixo do braço essa resposta de Esaú a Jacó: Eu tenho muitíssimos, meu irmão. Continue teu o que é teu (Gênesis 33.9).

O que é isso? Até aqui cada qual quis destruir o outro achando que a completeza habitava unicamente em si. Doravante compreenderão que são partes de um processo maior. Que se um é portador da boa materialidade, o outro é portador da boa espiritualidade. Que boa materialidade e boa espiritualidade se convergem. O que diverge é boa materialidade (socialismo) e má materialidade (capitalismo-hedonismo); boa espiritualidade (cristianismo) e má espiritualidade (paganismo-hedonismo).

É verdade, Leonardo Boff procurará fazer todos entenderem que não se destrói a feminilidade da religião cristã e não se destrói a masculinidade do socialismo, mas as duas instâncias de vida foram feitas e preservadas pelo Criador para a realização do casamento de seu Filho Jesus, para a realização do casamento dos casamentos, o Casamento do Cordeiro.

É tempo, pois, de novo tempo. O fruto verde do Reino, o Marxismo, na luta revolucionária que expôs todas as suas vicissitudes e contradições, amadureceu, saindo do seu estado verde para o seu estado de vez, a Escola de Frankfurt. E tem chegado o tempo de se manifestar completamente maduro, apto para o consumo de toda a sociedade. O tempo em que o judeu Marx se converte totalmente no judeu Jesus. Novamente o milagre da ressurreição.

Tem chegado, pois, o tempo da colheita: Acudi e vinde, todas as nações ao redor, e reuni-vos, Àquele lugar faze baixar os teus poderosos, ó Javé. Despertem as nações e subam à baixada de Jeosafá, pois ali me assentarei para julgar todas as nações ao redor. Metei a foicinha, porque a colheita ficou madura. Vinde, descei, porque o lagar de vinho ficou cheio. Os tanques de lagar estão realmente transbordando; porque se tornou abundante a sua maldade. Massas de gente, massas de gente estão na baixada da decisão, porque está próximo o dia de Javé na baixada da decisão (...) E eu vi, e eis uma nuvem branca, e sobre a nuvem sentado alguém semelhante a um filho de homem, com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na mão. E do santuário do templo emergiu outro anjo, gritando com voz alta para o sentado na nuvem: Mete a tua foice e ceifa, pois chegou a hora para ceifar, porque a colheita da terra está inteiramente madura. E o sentado na nuvem meteu a sua foice na terra e a terra foi ceifada. Joel 3.11-14;Apocalipse 14.14-16. Ora vem Senhor Jesus e realiza a sua obra, fazendo com todos – novas criaturas – e todos passando a viver debaixo da novidade de vida das boas novas de eternas. Cumpre, ó Senhor, o vaticínio que pusestes na boca do profeta Miquéias, que viu na introdução do reino de Deus sobre a terra, todos sentados debaixo de sua videira e debaixo da sua figueira; e não havendo quem os fizessem tremer, 4.4. 

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