segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Gestação e Parto do Reino


A Humanidade Atravessando o Jordão e Entrando na Manhã do Milênio
"De todos os lugares vinham aos milhares; e em pouco tempo eram milhões. Invadindo ruas, campos e cidades espalhando amor aos corações. Em resposta o céu se iluminou; uma luz imensa apareceu. Tocaram forte os sinos, os sons eram divinos; a paz tão esperada aconteceu. Inimigos se abraçaram, e juntos festejaram, o bem maior, a paz, o amor e Deus", Guerra dos Meninos, Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Adamir Gerson tem lançado o chamado para que cristãos e marxistas realizem a travessia do Jordão espiritual. Ora, se irão atravessar o Jordão espiritual é porque anteriormente realizaram a travessia do Mar Vermelho espiritual. Cabe a Adamir Gerson como profeta do Altíssimo levar aos cristãos e aos marxistas esses esclarecimentos, a fim de que se posicionem para a maior das travessias do gênero humano, a do Jordão espiritual, que no livro do Apocalipse é aquele momento singular da História em que os reis da terra e seus exércitos são ajuntados para travar guerra com aquele que está sentado no cavalo e com o seu exército (1). Esses reis da terra são arquétipos dos reis de Canaã que assim que ouviram a notícia de que um povo escravo liberto do Egito acabara de atravessar o rio Jordão e vinha em sua direção, para desalojá-los, entraram em polvorosa e começaram a se juntar a um só para unanimemente travar guerra com Josué e com os que com ele estavam (2). E cabe a Adamir Gerson o esclarecimento porque, afinal, no fundamento tipológico houve um esforço extenuante por parte de Moisés para que aqueles que tinham conquistado alguma coisa no deserto não se apegassem tanto assim a elas, mas que olhassem para o outro lado do Jordão, para o lugar que Deus indicou realmente a Abraão. E finalmente, depois de muitas hesitações, aqueles que conquistaram alguma coisa no deserto consentiram a Moisés, deixando para trás as conquistas do deserto aos cuidados de suas esposas e de seus pequeninos e indo atravessar o Jordão na frente dos seus irmãos a fim de ajudá-los a conquistar também a sua herança. E verdade é que hoje não é diferente. Muitos estão de posse de conquistas do deserto, mas terão de olhar para o outro lado do Jordão espiritual, pois é do outro lado deste rio escatológico que se acham as moradas que Jesus um dia disse as iria preparar para os seus. É ali que se encontram moradas de paz, de justiça, de liberdade concreta em que cada um tem realmente segundo as suas necessidades.

A Igreja-Humanidade e o seu Mar Vermelho

A Igreja de Cristo teria realmente efetuado em sua caminhada a travessia do Mar Vermelho? Certamente que sim. E podemos dizer que naquele momento em que os cristãos deixaram a ilegalidade e foram levados à condição de religião oficial do Estado, ora, podemos dizer que naquele momento era que a Igreja de Cristo acabava de realizar a travessia do seu Mar Vermelho espiritual. Na morte e ressurreição de Jesus a Igreja de Cristo fora tirada das masmorras do Egito espiritual, e no seu sangue derramado, no sangue dos seus mártires que era derramado todos os dias, a Igreja de Cristo estava escapando e deixando para trás o Egito; e podemos dizer sim que o momento da convocação do Concílio de Nicéia, no ano de 325, por parte do imperador romano Constantino, que decidiu a sorte e os destinos dos cristãos, aquele foi o momento em que Deus partiu as águas do Mar Vermelho para que a sua Igreja pudesse atravessar do outro lado. E certamente que a reação dos sacerdotes pagãos, tentando impedir, foi aquele momento em que as forças de Faraó entraram no mar atrás do povo para se engalfinhar com ele, e o momento em que Teodósio, em 380, baniu o paganismo do império certamente que aquele foi o momento em que as forças de Faraó pereceram.

É certo que muito se tem ouvido que o Concílio de Nicéia não representou progresso para a Igreja de Cristo, mas retrocesso em sua existência.  Foi aceita pelo império porque capitulou e renunciou aos seus princípios mais caros conquistados no sacrifício da cruz. E a história da Igreja a partir de então, de íntima colaboração aos poderes políticos da terra, de reação a todos aqueles que quiseram retornar ao cristianismo da ilegalidade, estão aí para corroborar tal juízo.

Não resta a menor dúvida que quando se senta na cadeira de juiz do positivismo não tem como fugir e como negar isto. E um fato moderno vem comprovar tal juízo, o socialismo pós-Gorbatchov, que se apresenta aos olhos como um retorno ao capitalismo. De modo que para muitos, não só o povo evangélico, mas até mesmo setores da Teologia da Libertação, sentados na cadeira de juiz do positivismo, no Concílio de Nicéia a Igreja de Cristo de certa forma se paganizou. Retornou ao paganismo, como estaria acontecendo agora com países socialistas que teriam na verdade retornado ao capitalismo. Gorbatchov teria sido o reverso histórico de Constantino.

Mas, quando se senta na cadeira de juiz da metafísica começa a se ver o Concílio de Nicéia com outros olhos. A Igreja de Cristo fora parturiada no ventre do Espiritualismo Histórico. Como a sua flor mais pura. De modo que a Igreja de Cristo não representava e não portava a Redenção na sua totalidade. É verdade, a Redenção em sua totalidade estava em Jesus, mas no caminho de Damasco – porque aquele era o tempo teológico da História – Jesus depositou em Paulo a parcialidade da Redenção (ICoríntios 13.9), e guardou a outra metade para o tempo em que a História saísse do seu tempo teológico-espiritualista e adentrasse o seu tempo antropológico-materialista. Jesus depositou em Paulo a flor da igualdade espiritual, e guardou o fruto da igualdade material para o tempo futuro. No ventre do Espiritualismo Histórico, após longo calvário – animismo, totemismo, fetichismo, politeísmo – então Eva se libertou da alienação em que fora metida por causa do pecado original e começou o seu retorno ao Paraíso. Primeiro na figura de espírito do judaísmo, e depois na figura de espírito do cristianismo.

E é certo que Eva não representava a totalidade da Redenção. A totalidade da Redenção se achava no casal Eva-Adão. De modo que naquele momento em que Eva se libertou da alienação é certo que a partir de então começou para ela novo calvário, agora para encontrar Adão – ver livro Cantares de Salomão que parece estar descrevendo essa busca.

De modo que o Concílio de Nicéia foi o momento em que o Espírito, depois de na árvore do Espiritualismo Histórico ter produzido a sua flor mais pura, a Eva da religião cristã, ele iria, então, na árvore do Materialismo Histórico, produzir o seu Adão. E quando produzisse o seu Adão, ele iria, então, convergi-lo à sua Eva. E seria então o retorno glorioso do Paraíso, com a harmonia sendo então restaurada a todos os pólos contrários(3).

De fato, após o Concílio de Nicéia, em que a Igreja de Cristo se embrenhou no império, a se misturar com povos bárbaros, a se mesclar com eles, era aquele o momento em que começava o calvário do Espírito para produzir Adão.  O Adão da Comuna Primitiva se alienara completamente de si na escravatura, e quando a Igreja de Cristo se embrenhava no império o resultado deste cruzamento de corpos é que então se manifestava no lugar da escravatura o sistema do feudalismo. E o Espírito continuando no seu calvário então fez emergir o capitalismo e eis que finalmente emerge Adão. Primeiro na figura de espírito do socialismo marxista e depois na figura de espírito do socialismo celestial, aquele recapitulando e formando um par com a Igreja de Cristo quando se achava na figura de espírito do judaísmo e este recapitulando e formando um par com a Igreja de Cristo quando veio se achar na figura de espírito do cristianismo.

O Casamento do Cordeiro. A Palavra de Deus fala sobre o escatológico Casamento do Cordeiro – E ouvi o que era como o som duma grande multidão, e como o som de muitas águas, e como o som de fortes trovões. Disseram: Louvai a Jah, porque Javé, nosso Deus, o Todo-poderoso, tem começado a reinar. Alegremo-nos e estejamos cheios de alegria, e demos-lhe a glória, porque chegou o casamento do Cordeiro e a sua esposa já se preparou. Sim, foi-lhe concedido vestir-se de linho fino, resplandecente e puro, pois o linho fino representa os atos justos dos santos. E ele me diz: Escreve: Felizes os convidados à refeição noturna do casamento do Cordeiro. Ele me diz também: Estas são as palavras verazes de Deus. Apocalipse 19.6-9.

O que seria esse Casamento do Cordeiro? Certamente que é o momento em que Adão, depois do longo calvário no ventre do Materialismo Histórico, então se revela na figura de espírito do socialismo celestial. Esgotado a figura de espírito do Marxismo, que, como já dito, é a outra face da figura de espírito do judaísmo, do qual também fez parte a Teologia da Libertação (4) e tendo então emergido a figura de espírito do socialismo celestial, então neste momento o Espírito prepara uma grande festa para realizar as Bodas do Cordeiro. Vai trazer um ao outro, Socialismo Celestial à Religião Cristã e Religião Cristã ao Socialismo Celestial, para que seja uma só carne e tenham um só espírito (João 10.16).

Bem, diferente do juízo positivista, podemos ver no Concílio de Nicéia um momento altamente positivo para a Igreja de Cristo?

Ora, podemos dizer que na morte e ressurreição de Jesus a bendita semente do Reino foi plantada no solo da Humanidade-História. E foi regada com o sangue do martírio cristão. De modo que o Concílio de Nicéia foi o momento em que a arvore do Reino emergiu na superfície da terra. Um verdinho na sua superfície. Uma pequena planta. E Teodósio banindo o paganismo do império com certeza foi aquele momento em que o Lavrador experiente toma as medidas necessárias para proteger da destruição das intempéries climáticas e de predadores a sua recém nascida plantinha.

E a plantinha se converteu em uma árvore. E veio crescendo, crescendo, e eis que botões começaram a aparecer nos seus galhos. Valdenses, Cataritas, John Wycliff, John Huss,  Jerônimo Savanarola. E finalmente chegou para ela a sua primavera. O seu tempo primaveril. E eis seus botões se abrindo em flores. Uma primeira flor, Lutero.  Muitas flores. Uma profusão de flores. Lutero, Filipe Melanchton, Calvino, Zwínglio, Guilherme Farel, John Knox...  

E se a arvore do Reino teve o seu inverno- primavera, com a sua exuberância de flores, a verdade é que ela iria ter também o seu verão-outono e a sua exuberância de frutos. De fato, a verdade é que na árvore do Reino começaram a surgir os frutos em botão. Os primeiros frutos em botão. Robert Owen, Charles Fourier, Saint- Simon, Proudhon. E eis que chegou para ela o seu outono. Os primeiros frutos maduros na árvore do Reino. Porque o fruto começa a nascer no interior da flor, a partir da flor, negando a flor, eis o primeiro fruto maduro na árvore do Reino, o judeu de família protestante Karl Marx. E logo é uma profusão de frutos maduros, Marx, Engels, Plekhanov, Lênin, Rosa Luxemburgo, Stálin, Mao, Ho Chi Minh, Fidel Castro, Che Guevara... 

E é fato que na árvore do Reino tudo iria se consumar com a sua colheita. Iria chegar o seu momento mais sublime, o da colheita, quando então seus frutos-flores seriam colhidos e em cestos levados para as casas, a fim de servirem como alimento espiritual e como alimento material. E a verdade é que se no primeiro e segundo momento houve botão e flor, com o botão se abrindo em flor – o botão dos valdenses, cataritas, John Wycliff, John Huss, Jerônimo Savanarola se abriram na flor de Lutero, Melanchton, Calvino, Zwínglio, Guilherme Farel, John Knox; o botão de Robert Owen, Charles Fourier, Saint-Simon, Proudhon se abriram na flor de Marx, Engels, Plekhanov, Lênin, Rosa Luxemburgo, Stálin, Mao, Fidel Castro, Che Guevara – a verdade é que no terceiro momento, o da colheita, as flores que então se abririam seriam precedidas de botão. Botões de colheita se manifestariam na árvore do Reino, que então iriam se abrir em flores.

E a colheita iria dar-se nas duas direções, da tese para a antítese e da antítese para a tese, sim, da Igreja-Eva para a Revolução-Adão e da Revolução-Adão para a Igreja-Eva. Haveria um duplo processo, todavia se convergindo. De fato, pelo lado da Revolução-Adão o botão da colheita que se manifestou foi mesmo a Escola de Frankfurt. Eis os botões de colheita pelo lado da Revolução-Adão, dentre muitos, Horkheimer, Ernst Bloch, Marcuse, Walter Benjamin, Adorno, Habermas, Gramsci. Pelo lado da Igreja-Eva o botão de colheita que se manifestou foi mesmo a Teologia da Libertação. Eis os botões de colheita pelo lado da Igreja-Eva, dentre muitos, Rubem Alves, Gustavo Gutierrez, Hugo Assmann, Richard Shaull, Jose Comblin, Jon Sobrino, Juan Luis Segundo, Leonardo Boff, Frei Beto, Paul Freston, Robinson Cavalcante, Ariovaldo Ramos.

Ora, como esse processo duplo era convergencional, a linha da Igreja-Eva cada vez  que crescia mais e mais se aproximava da linha Revolução-Adão, o mesmo ocorrendo com a linha Revolução-Adão que no crescimento mais e mais se aproximava da linha Igreja-Eva, ora, o fim último é que as duas realidades iriam dar lugar a uma única realidade. Revolução-Adão e Igreja-Eva iriam emergir em corpo único, não mais havendo entre si qualquer barreira de separação. O momento mesmo do completo restabelecimento do Paraíso usurpado pela Serpente Original. E essa realidade riquíssima, síntese das sínteses, trata-se do socialismo celestial, neste início contando já com três militantes, Adamir Gerson, Professor de Filosofia Lúcio Espírito Santo, de Bom Despacho, Minas, e o médico espiritualista Fausto Jaime, de Quirinópolis. Certamente que em breve será uma multidão professando a mesma fé.

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