Leonardo
Boff e Adamir Gerson
Recentemente
Leonardo Boff lançou nas redes sociais o trabalho “Deus, esse desconhecido
conhecido”.
Um
trabalho muitíssimo bom, esclarecedor sobre a natureza de Deus.
De
fato, Deus é esta descrição que Leonardo Boff faz dele: um Deus sempre
mistério, que está sempre irrompendo em novidade, está sempre se superando a si
mesmo. Realmente este Deus de mistério não se deixa enquadrar, não se deixa
reduzir a uma ideologia religiosa ou mesmo política. Ele é sempre mais e sempre
diferente das imagens que se tem dele. Está sempre a surpreender.
Como
escreveu o artigo a partir da edição do Átrio dos Gentios, realizado nos dias 5
e 6 de outubro em Assis, por iniciativa do Pontifício Conselho para a Cultura,
do Vaticano, que é um esforço para levar adiante um diálogo construtivo entre
crentes e não crentes, a partir da experiência passada do “Átrio dos Gentios”,
lugar reservado aos gentios que não tinham acesso ao templo de Jerusalém, então
Leonardo Boff trás uma conclusão que nos enche de esperança, o fim do interdito
que separa crentes e não crentes para que todos possam aceder ao templo. Em
última palavra, aceder à Palavra de Deus.
Mas,
não obstante Adamir Gerson ter visto neste escrito realmente uma mesa farta que
é colocada para nós, por outro tem observado que nesta mesa farta há uma pitada
de veneno, num vidrinho ali como tempero; e muitos têm colocado este tempero no
alimento e tem comido o alimento e tem morrido.
Que
veneno é este que está ali, na mesa farta, e que nos faz lembrar da parábola do
homem que semeou excelente semente no seu campo, e, enquanto os homens dormiam,
veio seu inimigo e semeou por cima joio
entre o trigo, e foi embora? Ora, já concluindo o artigo Leonardo Boff diz que
este Deus de mistério, desconhecido e conhecido ao mesmo tempo, não tem
religião. Ao chegar o dia em que se derrubarão todos os muros, já não haverá
mais o Atrio dos Gentios. E também não existirá mais templo, porque Deus não
tem religião.
Antes
de prosseguir se faz necessário dizer que esta fala de Leonardo Boff segundo a
qual Deus é um Deus de mistério, desconhecido e conhecido ao mesmo tempo, não é
novidade. Essa visão de Deus se encontra alhures em todas as religiões. O
próprio Jesus a expressou em outra roupagem quando disse para os sacerdotes dos
seus dias que eram capazes de construir os sepulcros dos profetas e decorar os
túmulos memorais dos justos, mas incapazes de compreender a nova missão de Deus
por intermédio de Jesus Cristo. Deus estava irrompendo em novo mistério e eles
estavam apegados ao antigo mistério. O que é novidade teológica neste texto é a
sua afirmação de que Deus “não tem religião”.
Bem,
afirmar que Deus não tem religião é afirmar que Deus transcende e não está.
Certamente que Deus transcende, mas Deus também está. Deus transcende as
religiões existentes, mas Deus está também nelas. Deus transcende a Teologia da
Libertação, transcende a Renovação Carismática, transcendo os evangélicos,
transcende os protestantes, mas ao mesmo tempo também está em todas elas. E certamente
que uma presença necessária.
O
termo Deus não tem religião tem se
tornado um mote de muita gente que cada vez mais abandona as religiões e se
entrega a uma prática mística entre quatro paredes. Tornou-se comum ouvir-se na
Teologia da Libertação esta frase, sempre acompanhada por pessoas que cada vez
mais abandona não apenas a religião, mas na sua sequência qualquer ligação com
o sagrado. Desacreditado religião e sacerdotes só há um passo para esta vida
ser entregue a uma vivência no secularismo. É verdade, muitos conseguem manter
a adoração a Deus entre quatro paredes, mas nem todos têm esta fortaleza e
acabam sucumbindo na fé.
É
certo que no livro do Apocalipse João diz: E não vi templo nela, pois Javé
Deus, o Todo-poderoso, é o seu templo, também o Cordeiro o é. Mas isto não
implica no fim da religião, nem no fim dos templos e nem no fim dos sacerdotes.
A religião que agora existe representa Deus em sua absoluta totalidade. O
templo passou a estar em todos os lugares, porque Deus passou a estar em tudo e
em todos. Mas se conserva aquele lugar onde se une o coletivo para adoração,
participar dos ritos e se alimentar da Palavra que vem ali na mediação do
sacerdote.
Não,
Deus tem religião sim. E nelas está o alimento que alimenta no plano ético, no
plano moral. Da boca do sacerdote sai o perfeito louvor. Se religiões e sacerdotes
tem se desvirtuado do ensino ético e moral, por influência dos dominadores do
mundo, o que se deve é corrigi-los com as palavras dos profetas. Mostrar o erro
e o reto caminho a seguir. O que não se pode é pensar que se acaba com os erros
dos sacerdotes simplesmente acabando com religião. Que Deus vai estabelecer o
Paraíso na razão inversa do fim da religião. Isto faz lembrar-se da frase
infantil de John Lenonn, inspirada no Maio Francês e adotada pelos
remanescentes do Maio Francês, que pensou um mundo feliz sem a presença de
religião.
Deveras,
as religiões foram criadas por Deus inclusive com todos os seus ritos. Os ritos
são a própria alma das religiões e que as anima. O Judaísmo nasceu através de
prescrições divinas e a religião cristã, com as mensagens dos evangelhos e as
mensagens das cartas paulinas, e a recomendação da observância de ritos, foi
deixada sim por Jesus. Se houve desvios os próprios textos sagrados oferecem a
oportunidade e as condições de sua correção.
Como
disse o Salmista: alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor. E como
diz Isaías: E na parte final dos dias terá de acontecer que o monte da casa de
Javé ficará firmemente estabelecido acima do cume dos montes e certamente se
elevará acima dos morros; e a ele terão de afluir todas as nações. E muitos
povos certamente irão e dirão: Vinde, e subamos ao monte de Javé, à casa do
Deus de Jacó; e ele nos instruirá sobre seus caminhos e nós andaremos nas suas
veredas. Pois de Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra de Javé.
Nesse
mundo conturbado e de domínio do pecado as religiões com os seus templos e os
seus sacerdotes tem se revelado dos poucos lugares em que se pode aprender e se
ter uma vida sadia. Muitas almas desesperadas encontram um alívio nos seus
sofrimentos justamente quando entram no templo e ouve uma palavra de conforto
do sacerdote. O fim do Átrio dos Gentios não significa no fim da religião; no
fim dos muros que impediam uma convivência harmônica entre crentes e não
crentes, mas significa uma intervenção de Deus que deu vitória total e absoluta
ao Seu Templo. Deus intervém de forma avassaladora e coloca um fim ao reino dos
opressores; e isto faz renascer e reviver a fé dos não crentes. Passam a ter
interesse por Deus e pela Sua Palavra. Agora só há uma comunidade, a comunidade
dos crentes, completamente fiel a Jesus Cristo.
“E
fizestes deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus, e hão de reinar sobre a
terra”.
q estudo mais hipócrita aff
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