Pastor Ricardo Gondin, Deus e os Arautos Celestiais
O pastor Ricardo Gondin, da igreja Betesda, escreveu em seu blog que estava muito apreensivo de que o Brasil se torne um país “crente”, que segundo ele é sonho do “subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como movimento evangélico”. Será um efeito devastador contra o mundo da cultura, se perguntando ele: como os puritanos evangélicos irão tratar um Nei Matogrosso, um Caetano Veloso, uma Maria Gadu? O que farão de poesias sensuais como a “Tatuagem”, de Chico Buarque, e “Carinhoso” de Pixinguinha? Com certeza não serão mais lidas e nem ouvidas; as rádios serão proibidas de executá-las. E o pastor Ricardo Gondin continua sombrio quanto a um Brasil evangélico. Irão acabar com todo o folclore; o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá, a Folia-de-reis. O futebol morrerá. Todos serão proibidos não podendo mais ir aos estádios, ou de ligar a TV no domingo. Até mesmo o racha, a pelada de final de semana, deixará de existir. E o pastor Ricardo Gondin não vê a devastação evangélica restrita apenas ao campo da cultura e da literatura brasileira. Ela terá outras caras. A tal ponto que ele vê esse Brasil evangélico restabelecendo na universidade brasileira de forma obrigatória o ensino do Criacionismo, desqualificando Charles Darwin como alucinado, e pesquisando sobre Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso, Nietsche, apenas para apresentá-los à sociedade como desajustados e hereges. E o pessimismo do pastor Ricardo Gondin quanto a um Brasil evangélico se mostra com mais clareza quando ele vê os conflitos com a igreja católica se acirrando e com certeza se descambando para guerra religiosa.
E chama à atenção que pastor Ricardo Gondin diz que passou quinze anos refletindo sobre isso, e que agora tomou a coragem de tornar público esse profundo pessimismo quanto a um Brasil evangélico.
Pastor Ricardo Gondin teria sido um homem que Deus estaria usando para nos transmitir um recado, ou o seu pessimismo de um Brasil evangélico pertence ao campo da subjetividade?
Com certeza pastor Ricardo Gondin foi um homem usado por Deus que quer transmitir ao seu povo algum recado. Afinal não é apenas ele que tem essa visão negativa de um Brasil evangélico, há um exército grande expressando o mesmo temor, especialmente quando os censos são divulgados e se constatou aumento dos evangélicos. Um dos últimos artigos de Leonardo Boff, onde ele procura “enquadrar” naturalmente os evangélicos aludidos pelo pastor Ricardo Gondin; de que eles não podem avançar sobre as diferenças culturais e religiosas, respeitando a igualdade, que confere a diversidade o direito à existência, o aparvalhamento de Leonardo Boff nesse artigo já foi resultado desta preocupação.
Mas temos de tranqüilizar o pastor Ricardo Gondin e todos que um Brasil assim nunca virá a ser realidade. Os evangélicos supram citados certamente que procedem de Deus, é Deus, mas na sua mediação teológica. Deus também tem se revelado na mediação antropológica, como tese e antítese. E podemos rastrear essa manifestação antropológica como iniciada em Constantino, ganhando qualidade teórica em Tomás de Aquino, e se revelando em qualidade nos teólogos Humanistas e da Teologia da Libertação, sendo Carl Rahner e Rudolf Bultmann o ponto inicial desta qualidade antropológica. Se Deus construiu sua linha teológica, cujo escopo é estes evangélicos aludidos pelo pastor Ricardo Gondin, por outro construiu a sua linha antropológica, cujo escopo é os progressistas católicos e protestantes.
Então não vamos ter um Brasil jamais evangélico, mas iremos sim ter um Brasil DO EVANGELHO! As duas linhas de Deus se convergirão para construir um novo Brasil.
O que muda? Em um Brasil evangélico certamente que os estádios de futebol seriam transformados em palco para a música gospel, subindo no palco banda e descendo do palco banda, como observou pastor Ricardo Gondin. Mas num Brasil DO EVANGELHO os estádios continuarão sendo palcos do futebol. O que mudará é que acabará com essa divisão entre torcidas, pois esses torcedores que vão aos estádios para xingamento do juiz, para quebrar alambrados, agredirem torcedores rivais com paus e pedras, esses torcedores deixarão de existir. Justamente porque no Brasil DO EVANGELHO esses evangélicos que pastor Ricardo Gondin os chama de “subgrupos do cristianismo” e que Leonardo Boff procurou “os enquadrar” estarão presentes e ativos
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